Novo fenômeno nas redes preocupa experts em saúde mental; saiba qual é
Batizado de “what about me?”, fenômeno que acontece com usuários das redes sociais pode esbarrar em egocentrismo e narcisismo
atualizado
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Alguma vez você já teve a experiência de “navegar” nos comentários de uma publicação e se deparou com comentários que fogem do tema, com análises de usuários que se questionam o porquê da publicação não incluir determinado público? Receitas com um certo ingrediente, e alérgicos contestando a sua divulgação. Palpites de “dates” para casal, e solteiros fazendo objeções nos comentários. Esses são alguns dos exemplos possíveis desse fenômeno.
De acordo com o psicanalista Artur Costa, esse efeito tem levado os usuários de redes sociais a redirecionar o foco de conversas e discussões para si mesmos, buscando constantemente por atenção ou validação.
A manifestação do fenômeno, que foi batizado de “what about me?” (algo como “e quanto a mim?”, em tradução do inglês) ocorre de formas variadas. Costa reforça que elas vão desde comentários que desviam o assunto para experiências pessoais até postagens e republicações que destacam as próprias conquistas ou dificuldades em resposta a algo compartilhado por outra pessoa.
As motivações que levam as pessoas a perpetuar esse tipo de objeção estão ligadas à necessidade de reconhecimento. “Ocorre quando os indivíduos buscam constantemente reconhecimento e aprovação, e as redes sociais se tornam um canal imediato para atender a essa necessidade”, descreve o psicanalista.
O egocentrismo faz parte de um dos traços que fazem com que esse comportamento seja expressado, uma vez que a pessoa acaba por colocar suas próprias experiências e sentimentos em primeiro lugar, acima das de outros que são o foco daquela determinada publicação.
Esse fenômeno é um efeito exclusivo do meio virtual. Isso porque a interface das redes sociais são projetadas para maximizar o engajamento e a interação dos usuários.
A psicóloga Ana Carolina Peuker, diretora da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), explica que, nesse meio, a busca por feedback é constante. O ambiente criado pelas próprias plataformas incentiva a ideia de que todo conteúdo que aparece é feito para aquele determinado internauta.
Uma vez que as mídias são feitas para capturar a atenção, manter os usuários engajados e sempre conectados, esse ciclo se perpetua. “Para superar o hábito, é útil começar a reconhecer quando esse comportamento ocorre e refletir sobre suas motivações”, indica a psicóloga.
Um adendo feito por Costa é que esse fenômeno pode ser também resultado de um aumento do narcisismo cultural. “Em algumas culturas, há um crescente foco no individualismo e na autopromoção, que são amplificados pelas redes sociais”, observa. E as comparações sociais, típicas das redes, promovem a necessidade das pessoas de se destacar, mesmo que forçadamente, para não se sentirem deixadas de lado.
Me identifiquei com o hábito, e agora?
Uma das formas de amenizar esse tipo de comportamento nas redes é por meio da empatia. Costa indica praticar o ato de ouvir e responder de forma que o foco permaneça nos outros, em vez de desviar a conversa para si mesmo.
Outra maneira é limitar a própria presença on-line, que também pode ajudar nesse processo. Peuker recomenda definir períodos específicos para verificar as redes sociais e estabelecer limites que podem auxiliar a interromper o ciclo de checagem constante.