O novo estilo de Hillary Clinton é um convite para combater o machismo
Candidata foi alvo de críticas depois de usar um casaco Armani avaliado em U$ 12.495,00. No entanto, as críticas sexistas não avaliaram sua fortuna e nem levaram em consideração os ternos de Donald Trump
atualizado
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Recentemente, o New York Post publicou uma matéria detalhando os gastos “exorbitantes e extravagantes” do guarda-roupa de Hillary Clinton para sua campanha presidencial. No texto, a jornalista Leah Bourne faz um apanhado de alguns looks usados por Hillary e sugere uma certa incoerência (ou hipocrisia) da candidata no discurso vitorioso das primárias em Nova York.
A presidenciável tratou de assuntos direcionados à classes menos favorecidas, implantação de novos empregos e aposentadoria, enquanto trajava um casaco de tweed de Giorgio Armani que era avaliado em U$ 12.495 (cerca de R$ 41.233).
Depois disso, algumas publicações deram seu parecer para o buzz dizendo que o casaco é de couro e não de tweed, que seu preço caiu para U$ 7.497 depois que ela usou. No entanto, outros posts pela internet questionaram que o problema não era o preço da peça, mas sim o fato de uma candidata usar um casaco Armani para discutir tópicos como desigualdade de renda e criação de emprego.
Apesar de todo o barulho, ninguém conseguiu provar que o casaco custou essa quantia. Tudo porque, ao que tudo indica, Hillary poderia estar tendo como personal stylist ninguém mais que Anna Wintour, editora-chefe da Vogue América.
De acordo com o site Business of Fashion, Wintour estaria sendo a mentora de Hillary para momentos-chave da campanha e que, ao contrário de muitas celebridades — que muitas vezes pegam itens emprestados ou ganham de presente — a campanha de Clinton paga pelas roupas (afinal, ela também poderia, já que sua fortuna é estimada em U$ 31.3 milhões de dólares). Contudo, tanto o porta-voz de Wintour quanto a os responsáveis pela campanha de Clinton preferiram não comentar nada sobre o assunto.
Porém, o problema que deve realmente ser destacado é o quanto as ideias e concepções de uma política feminina são deixados de lado diante de um panorama tão raso e superficial como a sua aparência. A jornalista Rachel Lubitz pontuou o fato com muita clareza, dizendo que esse não deveria ser o foco ou muito menos estar em discussão, já que a peça pode ter sido dada de presente pelo próprio Giorgio Armani – como o que acontece com Michelle Obama, que sempre desfilou por aí com looks de Jason Wu e Prabal Gurung. Além disso, Lubitz ainda questiona que ninguém se preocupou em avaliar os ternos Brioni que Donald Trump costuma usar (que costumam custar cerca de U$ 7.000 cada um).
Tudo isso, claro, não é novo para Hillary. Junto com a crítica do tal casaco, é especulado que ela tenha contratado especialistas em imagem que, inclusive, trabalharam com Michelle Obama. No entanto, se por um lado, Hillary decidiu optar por um estilo mais moderno, minimalista e clean, por outro ela recebeu críticas exatamente por não ligar para a aparência. Lubitz lembrou do episódio infame no qual Hillary foi ridicularizada em 2012 por não usar qualquer maquiagem na época em que era Secretaria de Estado. A Fox News chegou a afirmar em uma de suas notícias que ela parecia “cansada e retraída.”
Todo esse olhar microscópico em Hillary impõe um padrão sexista que também está surpreendentemente enraizado na própria indústria de moda, que Lubitz nos apresenta como o “Imposto Pink”.
Tomemos uma camisa de Tom Ford, por exemplo. Na Neiman Marcus, uma camisa de botão para uma mulher custa U$ 1.490 . A camisa de botão para um homem por Tom Ford custa U$ 570. Na Saks Fifth Avenue, uma blusa sem mangas da Burberry é U$ 525. Na mesma loja, uma camisa para um homem da mesma marca é U$ 250. Quando se trata de roupas de grife, as mulheres pagam muito mais do que os homens.
Rachel Lubitz
Hillary já declarou que “Stronger Together” (algo como “Juntos somos Fortes”) não deve ser enxergado apenas como o slogan da campanha, mas sim um lema que guiará seu mandato. Entretanto, os caminhos para chegar à Casa Branca parecem ser desafiadores diante de um adversário histérico como Donald Trump e um eleitorado dividido. Se vencer, a primeira presidente feminina da história dos EUA tem um outro compromisso inadiável: não deixar que o sexismo se una a ideias antiquadas e, consequentemente, se fortaleça.