Moda é tema marcante no Festival de Cinema de Veneza
Em sua 73º edição, o evento trouxe a volta de Tom Ford à direção depois de um intervalo de sete anos e o documentário sobre a vida de Franca Sozzani, editora da Vogue Itália
atualizado
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Várias celebridades desembarcaram na Itália para conferir de perto o Festival de Cinema de Veneza, que em sua 73º edição trouxe alguns longas feitos especialmente por ou para os amantes da moda.
Nocturnal Animals dirigido por Tom Ford
É o caso de Tom Ford que apresentou seu segundo filme, o suspense “Nocturnal Animals”. Aclamado pela crítica e público por seu primeiro longa, o drama “A Single Man” de 2009, o estilista esperou sete anos para lançar sua segunda obra cinematográfica, demora essa que, segundo ele disse à Reuters, não foi planejada.
“Abri uma centena de lojas, tive um filho, a vida meio que assumiu o controle e não encontrei o projeto certo durante alguns anos”, declarou o estilista. “Então, com sorte, mais três anos até o próximo, e não sete”, completou.
O filme, estrelado por Amy Adams e Jake Gyllenhaal, é inspirado no romance “Tony & Susan” de Austin Wright lançado em 1993. Na trama, Susan (interpretada por Adams) é dona de uma galeria de arte muito bem-sucedida, no entanto, sua riqueza pessoal também deriva dos negócios de seu marido, Walker (personagem de Armie Hammer), com quem ela é profundamente infeliz.
Um belo dia, Susan é surpreendida ao receber o manuscrito de um romance inédito de seu primeiro marido, Tony (Jake Gyllenhaal), um cara doce, sensível e metido a escritor do Texas, sua cidade natal, cujo coração ela quebrou duas vezes: primeiro, ao deixá-lo por Walker, e, segundo, declarando que ele não tem o que precisa para ser um autor de sucesso – chegando a dizer que ele era inseguro e fraco.A partir daí o filme mostra duas narrativas distintas. A história do romance sobre Gyllenhaal, que vê suas férias em família se tornarem uma tragédia com temas polêmicos como morte e estupro. E a própria história de Susan, que acaba percebendo uma realidade obscura de sua personalidade ao se recordar de seu primeiro casamento.
Jornais como o The Guardian e o The Hollywood Reporter elogiaram a performance de Ford. Este último chegou a comparar o segundo longa do estilista com a estética de renomados diretores como David Lynch, Alfred Hitchcock e Douglas Sirk. “[O filme] fala de encontrar pessoas que significam algo para você e de se apegar a elas. A lealdade é algo que certamente é um tema na minha vida pessoal. Não largo das pessoas quando elas são maravilhosas, então para mim é disso que se trata.”
Franca.Chaos and Creation protagonizado por Franza Sozzani
Por outro lado, mas ainda em sintonia com o universo da moda, o festival também apresentou o documentário Franca.Chaos and Creation, que conta a história de Franca Sozzani, editora da Vogue Itália.
Dirigido por Francesco Carrozzini, filho da jornalista, a história conta um pouco sobre a vida e a trajetória profissional de Franca pelo olhar do diretor que viajou com a mãe por diversos lugares ao redor do mundo desde quando era pequeno. Questionado pelo motivo que o levou a produzir o longa, Carrozzini respondeu que desde a morte do pai ele percebeu que a mãe era tudo que ele tinha.
Queria estabelecer uma conexão mais profunda com ela. Virei a câmera para o seu rosto e a usei como um meio de explorar nosso relacionamento de uma maneira nova e para dar voz às perguntas que eu nunca tinha feito antes
Francesco Carrozzini
Além de entrevistas com a própria Franca, o longa conta com a participação de personalidades do mundo da moda como os designers Donatella Versace e Karl Lagerfeld, a jornalista Suzy Menkes, a modelo Naomi Cambpell e o fotógrafo Bruce Weber que comentam sobre os trabalhos da editora que nunca se rendeu ao convencional.
Nascida em 1950 na cidade de Mântua, província italiana da região de Lombardia, Franca Sozzani sempre demonstrou ser uma mulher de coragem. Formada em Literatura e Filosofia, ela já contava com experiência no mundo da moda quando passou a comandar a Vogue Itália em 1988 (no mesmo ano e mesmo mês em que Anna Wintour foi nomeada na Vogue América). Com o passar dos anos, Sozzani tornou-se responsável por outras publicações da Vogue como L’Uomo Vogue , Vogue Gioiello , Vogue Sposa, Vogue Bambini e Vogue Accessory, e desde 1994 dirige a editora Condé Nast Itália.
Tanto prestígio profissional permitiu que Franca fizesse amigos influentes da moda italiana como Giorgio Armani e Gianni Versace e deixasse sua marca no universo fashion. Fato que a estilista não esconde e nem faz modéstia. “Sim, sou uma vencedora! Não é presunção, mas todas as minhas ideias foram bem-sucedidas”, diz ela no documentário.
Além de boas concepções, Sozzani nunca se deixou abater pelo mainstream. Na Vogue de julho de 2008 a editora produziu uma edição só com modelos negras acompanhados de editoriais deslumbrantes e artigos denunciando o racismo, inclusive no mundo da moda.
Em junho de 2011 ela trouxe uma edição intitulada “Belas de Verdade” com modelos curvilíneas que vestiam do tamanho 48 para cima. Além disso, temas como cirurgia plástica, violência doméstica e meio-ambiente foram conversadas em outras edições. Tudo isso pensando fora da caixinha e sem soar rasa ou superficial – como algumas publicações de moda ainda insistem em ser.