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Maria Virgínia, a estilista que veste as noivas de Brasília há 40 anos

Conhecida pelas brasilienses por realizar o sonho de noivas e debutantes, a estilista de origem mineira mostra que, aos 65 anos, seu ritmo criativo permanece em alta

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Um lugar cheio de canutilhos de cristais, rendas francesas e tecidos nobres poderiam deixar qualquer pessoa deslumbrada ou envaidecida, mas não é o caso da estilista Maria Virgínia Valadares. Conhecida na sociedade brasiliense por realizar o sonho de noivas e debutantes com suas criações, a mineira não se vangloria pelas conquistas do passado e acredita que há sempre algo a ser aprendido.

Seu último desfile realizado em maio deste ano trouxe às passarelas 12 produções para noivas, vestidos de festa e looks para as daminhas de honra – tudo isso realizado de forma simultânea aos pedidos de sua loja homônima, que recebe inúmeras visitas diariamente. Com mais de quatro décadas dedicadas à moda, Maria Virgínia mostra que aos 65 anos seu ritmo criativo permanece em alta e confessa que a melhor oportunidade é a chance de permanecer trabalhando.

 

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Raízes mineiras
Para ela, todo o reflexo de sua carreira se deve às raízes mineiras. Naquela época, em Belo Horizonte, a pequena Maria Virgínia dividia seu tempo livre entre suas aulas de pintura, que a ajudavam a entender um pouco mais sobre cores e profundidade, e o dom de costura que puxou da mãe. “Aprendi muita coisa com mamãe. Esse cuidado e esse capricho com a roupa, a importância da costura do avesso, o bordado e a atenção para os detalhes da modelagem. Tudo isso aprendi com ela”, relembra.

Quando chegou à adolescência, a paixão pela costura se tornou ainda mais útil porque a inexistência de uma boutique com moda jovem fez com que ela desenvolvesse o lado criativo e inventasse as próprias produções. Para complementar ainda mais os estudos, a estilista fez um curso com Gil Brandão, modelista da década de 1960 que ficou famoso ao usar os conhecimentos da anatomia humana e das artes visuais para desenvolver moldes prontos de roupas que eram divulgados na Revista Manequim.

De acordo com Maria Virgínia, os moldes práticos e eficientes do modelista foram decisivos para que ela desenvolvesse uma maneira autoral de construir uma roupa.

Consegui introduzir medidas que as pessoas não tiram e desenvolvi uma maneira de cortar que é totalmente minha e que funciona muito bem porque não trabalho com modelagem clássica, que é abrangente, eu trabalho com a particularidade de cada corpo.

Maria Virgínia

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Primeiros passos
O primeiro contato com o comércio de moda veio na década de 1970 com a abertura da loja “Perfil”, em Belo Horizonte, que tinha como carro-chefe a confecção de vestidos envelope, saias rodadas e com babado – tudo em couro. A proposta contava com drapeados com o material e misturas inusitadas da matéria-prima com outros tecidos como brim e seda pura. Os vestidos vinham com estampas que seguiam diversos tipos de inspiração: indo desde um rótulo de xarope com uma mulher puxando um leão à uma folhagem ornamental de um tinhorão exposto à luz solar.

Com a vinda para Brasília e o marido trabalhando em uma empresa de engenharia, Maria Virginia inicialmente decidiu se dedicar apenas à criação dos filhos. Logo a estilista não resistiria e voltaria a exercer sua profissão, especialmente por causa dos inúmeros pedidos de clientes que a viam usando suas produções em eventos e logo perguntavam de onde era.

Tudo muito natural e de acordo com Maria Virgínia, sem nenhum tipo de estratégia. “Eu simplesmente me vestia com as minhas criações. Não era nada planejado. A clientela foi aumentando n medida que mulher de presidente me perguntava, mulher de governador me perguntava. Foi assim que elas começaram a buscar”.

Na década de 1980, o auge do tecido stretch fez com que Maria Virgínia continuasse explorando novos rumos e criasse novas peças, que conquistavam um número maior de fãs. Com a expressiva abertura do mercado econômico a partir de 1990, o setor têxtil brasileiro precisou se reinventar para concorrer com os exportadores asiáticos que traziam produtos a preços baixíssimos e de pouca qualidade, mas que chamavam a atenção do público geral.

“Me lembro que vinham muitos vestidos bordados com paetês e, pela má qualidade, quem usava acabava deixando um rastro de paetês no chão. A trilha de João e Maria estava toda feita”, brinca a estilista que viu nessa adversidade uma oportunidade de fazer seu negócio expandir.

 

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A partir daí, Maria Virgínia começou a pesquisar sobre vestidos de noiva. O mercado, que também sofrera as consequências da abertura comercial, precisava urgentemente de renovação, já que, de acordo com a estilista, as roupas para alugar eram produzidas em cetim feito para estofado de roupa, algo muito ruim.

Acabei encontrando rendas muito bonitas e decidi que meu olhar seria para algo que fosse frágil, mas resistente ao mesmo tempo. Alguma coisa que tivesse uma vida longa. Já que queria alugar para diversas noivas, precisava ser algo que durasse e fosse muito bonito

explica

Por isso, a designer logo começou a trabalhar com a Solstiss, renomada empresa francesa fabricante de rendas responsável por vestidos clássicos das Princesas Grace Kelly e Kate Middleton. Essa parceria perdura até hoje.

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Pelo Brasil
De uma inesperada experiência para criar vestidos de noiva, Maria Virgínia logo foi reconhecida nacionalmente. Um carinho especial ela guarda por um ensaio publicado em um anuário de uma fábrica, no qual eles a destacavam por seu trabalho. Entretanto, essa foi apenas uma das conquistas e convites que viriam nos próximos anos.

Maria Virgínia foi responsável por criar os figurinos da minissérie “JK”, realizada em 2006 pela Rede Globo. Os produtores, que a chamaram para criar apenas uma peça, gostaram tanto do resultado, que ela acabou criando 216 figurinos especiais para a atração inspirada na biografia do ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitschek. O maior elogio, segundo a estilista, veio da crítica teatral Barbara Heliodora, que deu nota 10 para o figurino.

A emissora voltaria a chamar a estilista em 2007 para criar algumas produções para “Amazônia – de Galvez A Chico Mendes”, minissérie que retrata a vida da região amazônica com seus conflitos e heróis ao longo de 100 anos. Isso, sem falar no modelito usado por Alinne Moraes no pôster do longa “Fica Comigo Esta Noite”, bem como as peças e vestidos de noiva utilizados na montagem da Ópera Lucia di Lammermmor, também assinados por ela.

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Divulgação/Arquivo Pessoal

Ritmo incansável
Apesar da lista de trabalhos ser tão longa quanto o número de noivas que ela já produziu, Maria Virgínia é irredutível sobre quando vai parar de trabalhar. Prova disso é seu último desfile apresentado no evento Luxo de Festa em maio deste ano, que trouxe nuances, rendas, aplicações e uma democratização no casting ao convidar uma modelo plus-size para desfilar um dos looks, biótipo que ela afirma ser mais fácil de trabalhar porque “não vêm com discurso pronto e estão muito mais abertas a te ouvir”.

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A coleção foi concebida sem que os outros afazeres da marca precisassem ficar em espera, eficiência que ela atribui à equipe que a auxilia. No ateliê localizado na QL 11 do Lago Sul, cerca de 30 profissionais trabalham diariamente para materializar sonhos sejam eles para noivas – que podem comprar ou alugar os vestidos – ou para uma série de televisão. Em tempos de crise, a estilista fica feliz ao receber tantos pedidos, mas lembra com tristeza que muitas das fábricas de tecelagem estão encerrando suas atividades.

Acho que estão matando uma geração criativa. Dos últimos anos para cá houve um tremendo desrespeito com o pequeno fabricante. Tínhamos espaço para criar e sofro em ver que isso está se esvaindo com os rumos que o Brasil tomou.

Maria Virgínia

No entanto, a estilista também acredita que o ânimo não deve ser perdido. Ela, que já precisou se readaptar a diversas mudanças inesperadas, afirma que as crises podem gerar oportunidades da mesma maneira que o universo monocromático em que trabalha instiga sua criatividade. “Sempre gostei do lado produtivo da vida. Para mim, moda como qualquer trabalho é renovação é pesquisa e estudo, persistência, competência. Se você tem isso, você tem tudo. ”

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