Guarda-roupa compartilhado é a nova forma de consumir moda
Diferente do brechó e da doação, a proposta é estender o tempo das peças por meio de aluguel e divisão entre consumidoras
atualizado
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O consumismo está fora de moda. Quem gosta de comprar roupa está com mais consciência ambiental e passou a reconsiderar a maneira como entrega seu dinheiro para a indústria. Lojas denunciadas por trabalho análogo à escravidão, como a Zara e a H&M, foram boicotadas por alguns grupos e as suas práticas injustas viraram conhecimento público.
Brechós e coleções feitas por estilistas menores entraram em alta. O movimento do slow fashion também trouxe reflexão sobre consumo desenfreado. O objetivo não é parar de comprar ou abastecer o guarda-roupa c peças batidas, muito pelo contrário.
A nova maneira de adquirir moda é sobre qualidade, consciência e sustentabilidade. Para não deixar o estilo de lado, negócios de closet compartilhados começam a cair no gosto das brasileiras. A ideia é criar um espaço com roupas que seriam usadas poucas vezes e fazê-las circularem entre usuárias do serviço.
Em alguns casos, a loja cobra uma mensalidade e o usuário pode pegar um número limitado de roupas. Em outras, o aluguel de cada peça tem um valor fixo.
Sem posse, sem ciúme e com uma grande dose de desapego, o compartilhamento já está invadindo Brasília. Conheça duas empresas com essa proposta de dividir e economizar na capital:
Minha Nossa!
A loja na 104 Sul foi aberta em agosto do ano passado. O lugar colorido e cheio de personalidade combina com estilos ousados. A proprietária da Minha Nossa!, Marina Marques, foi inspirada por negócios similares na Holanda e pela americana Rent the Runway.
“Não faz sentido comprar desenfreadamente. A peça pode durar muito tempo, mas acaba desmerecida. A minha ideia era poder continuar saindo linda, mas de uma forma consciente e mais barata”, afirma. O aluguel funciona através de pontos – existem planos para roupas e acessórios – e cada um custa R$ 1,25. O item fica com a usuária do serviço por sete dias e depois retorna ao acervo da loja.
A atenção da proprietária com as clientes é outro diferencial. Marina inventou um sistema de drive-thru exclusivo. “Elas vêm um dia com calma, provam o que gostam e eu deixo anotado. Depois, me ligam dizendo quando vão passar na loja e entrego as peças no carro mesmo”, explica.
A Minha Nossa! preza por praticidade, estilo e consciência. Marina faz curadoria em 10 lojas brasileiras com identidade e ética. O serviço atende do tamanho 36 ao 54 e oferece também bijuterias e bolsas. As peças são para o público feminino, mas a proprietária afirma ter alguns homens interessados. “Se a roupa servir, pode levar”.
Marina Veloso, 37 anos, é publicitária e adepta do serviço. Ela conheceu a loja quando estava andando pela quadra com uma amiga e a decoração chamou atenção. “Tinha um evento para ir e não queria comprar um vestido novo só para isso, então achei a proposta incrível”, conta.O look foi um sucesso. “Todos estavam de preto e superdiscretos, enquanto eu usava uma blusa de paetê e um colar de cobra, me destaquei muito na festa. Depois, vesti a combinação de novo e devolvi”, lembra. A forma de consumo da publicitária está em transformação e ela participa de grupos de troca no Facebook.
“Reduzi meu armário e procuro qualidade. Passei a usar marcas plus size porque é meu tamanho, hoje tenho mais opções”, diz. “A maior vantagem é ter a chance de ousar. Muitas vezes vemos peças maravilhosas e, apesar de querer testar um look novo, não podemos comprar. Assim você economiza também”.
Shop’N Share
O hábito de trocar roupas entre duas amigas virou negócio. Rafaela Osório e Bruna Resende criaram uma opção de luxo para quem quer economizar e embarcar na sustentabilidade. O serviço funciona on-line e a usuária paga por cada peça, não existe uma assinatura.
“A moda tem reflexo na nossa segurança enquanto mulheres e em como nos sentimos no dia a dia”, diz Rafaela. A paixão começou a ter um peso diferente quando as sócias descobriram o lado ruim da indústria. A partir disso, começaram a explorar o slow fashion.
“Com tantas mulheres elegantes em Brasília existem inúmeros vestidos, calças e blusas paradas. E elas podem compor o look que uma de nós precisa para um evento específico”, afirma. Para as donas do Shop’N Share, consciência é prioridade no negócio.
A loja promove a troca de roupas entre mulheres e trabalha com marca atuais. “Levamos em consideração a etiqueta, o estado do item e o valor. Não queremos nada básico”. A cliente que disponibiliza a peça recebe 40% da quantia do aluguel. Todas as informações das usuárias são mantidas em sigilo.
“Nosso desapego é diferente. Você pode oferecer roupas novas e amadas que ficariam paradas por meses e colocá-las para rodar entre outras mulheres”, reforça Rafaela. O serviço trabalha somente com coleções femininas.