Estilistas locais produzem roupas com tamanhos fora do padrão
Três empresas de Brasília criam suas peças para variados tipos de corpos e atendem aos desejos dos magrinhos, dos muito altos, dos que estão acima do peso…
atualizado
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Mariângela tem quadris muito largos. Clarice é mignon. Lucas, muito alto, responde desde os 6 anos pelo apelido de “magrão”. Patrícia é a única na turma que consegue entrar nas grandes lojas de departamento dos shoppings e comprar roupas que não precisam de muitos ajustes. Os demais sofrem a cada investida pelas araras tradicionais.
A limitação em encontrar roupas interessantes, com boa modelagem e que se adaptem aos mais variados tipos de corpos tem desafiado o consumidor. Mas o problema já entrou no radar dos produtores brasilienses de moda.
Designer de Brasília ouviram as vozes desse público e tomaram as rédeas de alguns segmentos carentes. Ao fundarem suas marcas, os empreendedores visam a tornar o mundo da moda um ambiente mais inclusivo e trazer uma alternativa para o consumidor que não se encaixa nas numerações limitadas do mainstream fashion.
Quero Melancia
A parceria entre Thaís Madureira e Gustavo Halfeld aconteceu em 2013 de forma despretensiosa. Ela costura e usa desde menina suas próprias criações. Ele é produtor musical. A paixão pela moda levou os dois a desenvolverem a Quero Melancia, marca com design feito totalmente à mão – da escolha dos tecidos ao processo de estamparia.
Em tese, a marca não tem segmento, mas seu diferencial concentra-se na escolha criteriosa dos tecidos, nas inspirações antagônicas (que vão de Betsey Johnson a Athos Bulcão) e nos cortes minimalistas que, segundo Gustavo, “são ideais porque proporcionam um bom caimento e dão personalidade às criações”.
A modelagem foi personalizada pela própria Thaís que, no processo de desenvolvimento da marca, dispensou os tamanhos propostos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por achá-los ultrapassados: “Buscamos desenvolver uma tabela de medidas própria para atender todos os tipos de pessoas. Como nossa proposta é 100% artesanal, a padronização da ABNT não atende à demanda e tem dimensões antiquadas”.
Com isso, a tabela da Quero Melancia vai do 34 ao 46 e atende o público masculino e feminino. A marca é a queridinha de brasilienses petites como Sarah Carvalho, bancária de 28 anos com 1,58 metro e 40 quilos, que agora pode comprar uma peça moderna que não precisa de ajustes: “São as únicas roupas que não preciso levar na costureira”, comemora.
Vickttoria Vick
Embora tenha 1,57 metro de altura e 47 quilos, Patrícia Camargo sempre teve um olhar atento para o público plus size. Depois de um longo período fornecendo suas criações para outras lojas, surgiu a necessidade de criar sua própria marca e se profissionalizar como designer de moda. Assim, em outubro de 1997, a estilista fundou a Vickttoria Vick, com foco em peças do manequim 46 ao 58.
No início, a principal dificuldade foi o preconceito dos produtores de moda, que não queriam trabalhar para esse ramo, e dos próprios consumidores, tímidos de entrar em uma loja especializada. Atualmente, segundo ela, “o consumidor está mais receptivo, mas a sociedade e o mercado ainda falham em acolher pessoas plus size”.
Um bom exemplo disso é a falta de regulamentação da norma da ABNT que trata de medidas padrão para os chamados tamanhos grandes. Segundo Patrícia, ainda não existe um consenso na hora de medir o público desse segmento. “Alguns dizem que começa a partir do 44. Nós, no entanto, partimos do 46”, conta. A empresária, assim como a Quero Melancia, também investe em uma tabela de medidas própria para atender à realidade das brasilienses.
As peças seguem o fluxo de tendências das grandes marcas do mercado. O que muda são as dimensões. Na loja, além de sapatos que vão do 40 ao 43, é possível encontrar uma produção diversificada, com estampas criativas, cores vibrantes e shapes modernos. As roupas são fabricadas com tecido plano, malha e jeans – pensados especialmente para a mulher voluptuosa que gosta de moda.
Lumberjack
Os anos de experiência em lojas de departamento serviram de pesquisa para Cláudio Albuquerque idealizar todo o conceito da Lumberjack. A marca surgiu este ano no mercado, após o diretor criativo notar o descontentamento de alguns homens dentro dos provadores. “O homem moderno quer consumir o que está na vitrine. Mas, infelizmente, os tamanhos intermediários é que geram lucro. E não é todo mundo que se encaixa nesse perfil”, acredita.
A proposta principal da marca é tirar o estigma de moda apenas para o magro conceitual. A democracia pode ser vista através do fitting variado e um conceito urbano e streetwear que funciona para diversos biotipos.
O design tem raízes hypes que passeiam pelo oversized de Kanye West e a contemporaneidade da Osklen. Para desenvolver a modelagem, ele recorreu a peças-piloto de diversas lojas e readaptou o corte de algumas delas em seu próprio corpo.
A maior dificuldade nos primeiros passos da marca é a falta de mão de obra a um preço acessível. Segundo Cláudio, Brasília ainda é uma cidade carente de um mercado de moda atuante: “Não temos uma fábrica que produz para microempresas. O jeito é recorrer às que estão em São Paulo”.