Ao “Metrópoles”, Cris Guerra fala sobre moda intuitiva e consumo consciente

É possível manter um guarda-roupa com peças usadas, mas de qualidade e em bom estado. Para a escritora e colunista de moda Cris Guerra, vale tudo na hora de economizar, mas para isso “é necessário se conhecer”. Pioneira quando o assunto é diário virtual de looks do Brasil, a autora foi chamada para falar de Moda Intuitiva em uma palestra no Vitrinni Shopping, em Águas Claras, no domingo (4/10), a convite da loja Peça Rara.

Para a dona do estabelecimento, Bruna Vasconi, o objetivo da palestra era estimular o público a consumir moda de forma “consciente”, principalmente em época de crise econômica. A intenção anda de mãos dadas com o conceito da loja, diz a empresária, ao inaugurar a quinta unidade. “O segredo está em ressignificar as coisas e não desperdiçar aquilo que pode funcionar para outra pessoa.”

Pensando nisso, Cris Guerra deu uma entrevista com exclusividade ao Metrópoles, em que fala sobre a possibilidade de aguçar a sensibilidade e se vestir com consciência. Tudo isso, respeitando a personalidade e essência de cada um. Confira:

Como é possível se reinventar em um mundo onde todo mundo se copia?
Não se trata de ficar sempre tentando pensar em driblar as pessoas ou fugir de quem está se copiando, mas sim ser fiel a quem a gente é. Afinal, cada um de nós é um conjunto único de características, de anseios e de motivações.

Como a intuição pode influenciar nosso guarda-roupa?
Nossa intuição influencia muito, desde que a gente deixe ela agir. A moda intuitiva é matematizar menos a moda e deixar que nossos impulsos naturais falem mais alto. Eu percebi que fiz moda a vida inteira dessa forma. Não estava focada ao que estava na moda, mas em olhar para determinada peça e dizer “Nossa! Como isso fica bem em mim”. Então, sempre fui fiel a essa experiência sensorial. Ser intuitivo é ter estímulo para que as pessoas deem vazão a intuição delas, olhem menos para fora e mais para dentro.

O que significa moda consciente e como podemos praticá-la?
Primeiramente, entender que consumo por si só é um caminho perigoso, não só para você, como para todo o mundo. Temos que ter consciência de como tudo é produzido, pensar que o preço das coisas não pode ser o único valor de um produto porque, muitas vezes, uma coisa barata pode ser fruto de um custo social muito alto, especialmente se falarmos de trabalho escravo. Além disso, tem o fator praticidade, porque se colocarmos muita coisa no armário o dia a dia vai ficando cada vez mais complicado para achar as peças que você quer. Para praticar isso basta ficar atento, reciclar constantemente, comprar melhor e descartar menos.

Como montar um guarda-roupa inteligente em tempos de crise?
Peças clássicas. Mas isso não é apenas para a sustentabilidade, eu realmente acredito que uma boa produção tem um alicerce nas peças clássicas. Só que a escolha dessas peças precisa estar em sintonia com a individualidade das pessoas. Cada um elege seus clássicos. Não gosto de dizer para ninguém que a pessoa tem que ter “uma camisa branca e uma calça jeans” porque pode ser que a pessoa não use esse tipo de look.

No mundo da moda atual em quem devemos ficar de olho?
Iris Apfel. Porque não há nada mais atual do que uma pessoa mais velha que tem juventude na maneira de vestir. Ela tem atitude e não liga para o que os outros pensam. Usa itens que os consultores de moda nunca aconselhariam para alguém da idade dela (Iris tem 93 anos) usar. Leandra Medine e Miroslava Duma também têm olhares singulares e blogs muito bacanas e Anne Hathaway, que, além de ter muita atitude, é uma referência de mulher alegre e feliz. Porque alegria para mim também é uma referência.