Médica diz como é diagnóstico de pessoas intersexo, como Karen Bachini
Para entender o que significa o termo intersexo, o Metrópoles conversou com a ginecologista Cecilia Ramos Fideles
atualizado
Compartilhar notícia
A influenciadora digital Karen Bachini revelou, nessa quarta-feira (22/3), ser uma pessoa intersexo. Em relato nas redes sociais, ela disse ter os genitais e órgãos internos referentes ao sexo feminino, mas contou ser detentora de um ovário pequeno, além de não ter glândulas mamárias e não menstruar.
Apesar da explicação da influencer, o termo gerou dúvidas na web. Alguns internautas, por exemplo, começaram a comparar a condição com os termos bissexualidade e transexualidade. As três nomenclaturas, entretanto, em nada têm a ver umas com as outras.
Em sua definição, a intersexualidade compreende pessoas que, naturalmente, desenvolvem características sexuais que não se encaixam nos padrões de sexo feminino ou masculino. O termo é proveniente da palavra hermafrodita, que deixou de ser usada por ser considerada pejorativa.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que de 0,05% a 1,7% da população mundial nasça com características intersexo.
Feminino, masculino e intersexo
Teoricamente, pode-se dizer que uma pessoa pode nascer com características femininas, masculinas e intersexo — neste caso, o indivíduo tem partes referente aos dois primeiros e, por isso, não pode ser considerado nem um, nem outro.
Ao Metrópoles, a ginecologista Cecilia Ramos Fideles esclarece que a intersexualidade pode ter diversas manifestações atípicas.
“É uma alteração genética e de fatores biológicos do paciente, que se desenvolve de formas que se diferem do padrão masculino e feminino”, pontua a especialista em ginecologia endócrina da Maternidade Brasília.
Diagnóstico
As formas como a intersexualidade se manifesta são diversas. “O diagnóstico vem dentro de um espectro de condições. Não é algo ‘fechado’, depende de uma série de condições que vão desde a detecção de alterações cromossômicas e genéticas a mudanças de características fenotípicas, físicas e corporais”, elucida.
Entre essas alterações, uma das possibilidades é a coexistência de genitálias femininas e masculinas – ou seja, o indivíduo pode nascer com pênis e vagina bem definidos. Este seria o exemplo de diagnóstico evidente, mas nem todos os casos são assim, como aconteceu com Bachini.
Cecilia explica que a intersexualidade pode ser identificada por meio de mudanças físicas visíveis (com manifestações na genitálias) ou hormonais, em que as alterações podem ocorrer de formas que não podem ser identificadas a olho nu.
Para além das genitálias, essas alterações podem aparecer no não desenvolvimento dos ovários, útero ou testículos. Mudanças sutis na parte íntima que fogem dos padrões (órgãos reprodutores pequenos, hipertrofiados ou com características dos dois sexos) também fazem parte do espectro do diagnóstico de intersexualidade.
Em todos os casos, é recomendado o acompanhamento com profissionais especializados para evitar problemas de fertilidade, desconfortos na vida sexual e riscos ligados à produção hormonal.
Hipogonadismo
Em uma outra possibilidade que esse espectro envolve, o individuo pode nascer com a genitália de um dos sexos, mas, internamente, ter características do sexo oposto ou, até mesmo, dos dois sexos. “Casos em que há a coexistência dessas características são chamamos de hipogonadismo”, esclarece a profissional.
“Diagnósticos como esses são feitos através de exames e testes genéticos, em que descobrimos se o paciente possui padrões genéticos e moleculares que se definem tanto em um quanto no outro”, esmiuça Cecilia.
Por exemplo: uma mulher atestada com o termo pode ter, em seus ovários, tecidos ovarianos e também testiculares, o que impede o órgão dela de realizar o desempenho esperado.
As pessoas diagnosticadas com essa condição, em termos biológicos, não podem desenvolver uma gestação e nem engravidar alguém. Nesses casos, a depender da vontade do paciente e de seus interesses, ele precisa passar por anos de tratamentos hormonais para que consiga se desenvolver da forma esperada.
“Existe um impacto na vida do paciente tanto a nível reprodutivo quanto a nível de puberdade, que vai ser manejado com harmonização ou técnicas de reprodução assistida, conforme o desejo da pessoa e o caminho que ela pretende tomar”, encerra a médica.