Manu Berger, expert em mercado de luxo, debate o momento do setor
Em bate-papo realizado em Brasília, ela fala sobre ostentação, logomania, experiência de luxo e a geração millennial
atualizado
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Advogada e ex-diretora financeira de uma empresa especializada em segurança, Manu Berger começou a se envolver com o mercado de luxo há cinco anos.
Desde então, acompanhou o processo de confecção de uma bolsa Gucci, do início ao fim, dentro da fábrica da marca italiana; visitou o ateliê familiar que produz as delicadas camélias da Chanel; ganhou um molde de seu pé no exclusivo acervo da Christian Louboutin e viveu uma série de experiências únicas.
Após criar a plataforma de conteúdo batizada de Terapia do Luxo, ela percebeu uma demanda nacional por literatura sobre luxo. Manu então escreveu uma trilogia sobre o mercado. “Temos apenas três ou quatro publicações sobre o tema”, afirma. O primeiro livro, batizado de “Entre Taças de Champagne e Cálices de Vinho”, foi lançado em Brasília esta semana, com noite de autógrafos na Emporio Armani.
As próximas edições abordarão o luxo nos Estados Unidos e no Brasil e ainda não têm data de lançamento. Antes de levar a turnê do livro para o exterior (Manu lançará o título em Miami, durante a Design Week), ela bateu um papo exclusivo com o Metrópoles sobre o momento atual do setor. Confira:
A valorização da “experiência” tem ganhado cada vez mais espaço dentro do mercado de luxo. Como vê esse movimento?
“O mercado de luxo precisou se reinventar para atingir os consumidores, em todas as regiões do país. As marcas criaram novas maneiras de se aproximar do cliente, um relacionamento que vai além dos eventos de lançamento de coleção, por exemplo. Elas têm apostado em jantares exclusivos, mimos personalizados, tours que revelam as origens da marca, acesso a produtos e serviços privativos e, é claro, atenção absolutamente especial. Seja ao vivo ou no universo das mídias digitais.
Fala-se muito das diferenças entre fazer compras no Brasil e no exterior, mas a experiência nesse caso revela muito do comprador brasileiro. Aqui, o cliente pode parcelar em até dez vezes a bolsa Gucci. Outro ponto que marca muito também é a fidelidade do vendedor que envia flores e mimos, além de convidar para eventos privados. Esse tipo de relacionamento é praticamente inexistente quando a compra é internacional.
Ainda sobre experiência, é importante apontar que cada segmento do luxo tem um perfil. E o conceito também ganha contornos diferentes em cada área. A moda tem focado muito na ideia da personalização. Já o turismo aposta na valorização do bem-estar, o wellness. A tecnologia investe na consolidação do sentimento de “pertencimento através do status”. Enquanto o entretenimento de luxo tem seguido a linha da exclusividade com assinatura”.
Como analisa o momento do mercado de luxo no Brasil?
“Vejo com um potencial muito forte de crescimento. Acredito que o brasileiro está aprendendo a consumir o luxo. Somos muito mais parecidos com os americanos do que com os europeus quando se trata de luxo. Enquanto o francês e o italiano apreciam conceitos como a essência, nós valorizamos a ostentação, a quantidade.
A crise financeira teve um peso importante nesse processo. A restrição vem ensinando o brasileiro a consumir as marcas de luxo com consciência. Hoje buscamos mais informação também. Os clientes do segmento premium/luxo estão cada vez mais interessados em entender onde estão aplicando seus valores. Em contrapartida, as marcas internacionais têm se beneficiado desse maior autoconhecimento dos clientes, já que aos poucos eles vão absorvendo mais detalhes do gosto do consumidor brasileiro.
Acredito que num quadro macro passamos pela crise de maneira positiva. Foi bem pior em outros países. E agora, que estamos voltando a respirar, o brasileiro tem olhado para outros segmentos do luxo, não apenas moda. Prova disso é que o turismo de luxo, voltado justamente para as experiências, está indo muito bem.”
Nos últimos anos vimos a gastronomia sendo elevada a status de luxo no Brasil. Qual o próximo segmento que ganhará destaque?
“Acredito que será mesmo o turismo. A viagem possibilita inúmeras oportunidades que podem envolver o luxo. A experiência exclusiva, compras, alta gastronomia e a sensação do novo”.
Você falou em “ostentação”. Esse conceito ganhou destaque nas redes sociais de maneira negativa no últimos anos. Acredita que o luxo perdeu valor ou de alguma maneira teve seu brilho afetado por isso?
“Não. O comportamento segue o mesmo. O consumidor do mercado de luxo continua consumindo suas marcas favoritas e tendo suas experiências selecionadas com absoluto cuidado. Com logomania ou não.
Não podemos exigir que o brasileiro seja um profundo conhecedor do luxo, porque trata-se de algo muito recente no país. Esse entendimento de consumo, comportamento e até de business está sendo criado aos poucos. E parte do processo é aceitar que não é algo para ser consumido por todas as classes sociais”.
Marcas como Dolce & Gabbana, Dior e Burberry têm apostado fortemente na geração millennial. Como avalia essa abordagem?
“O mercado de luxo começou a entender que precisa se renovar. Apesar de valorizarem o resgate histórico de suas origens, as marcas têm se esforçado para se manter relevantes na atualidade. A própria Dolce tem estreitado seus laços com o público jovem, mas não perde sua essência. A Burberry, comandada por Christopher Bailey, é outro ótimo exemplo de marca de luxo que vem conseguindo causar impacto positivo dentro da realidade das mídias sociais.
A Dior também tem seguido a mesma linha de criar desejo entre os jovens com peças cada vez mais contemporâneas e descoladas. A Chanel não é inteiramente digital como a Burberry, mas tem feito boas escolhas de garotos-propaganda que conversam com esse público como o produtor Pharrell Williams, primeiro homem a protagonizar uma campanha de bolsa da marca; além de Lily-Rose, filha de Johnny Depp, Cara Delevingne e Kristen Stewart, que são queridinhas de Karl Lagerfeld”.