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Vídeos com “desafio” de strip reforçam machismo nos games

Youtubers de sucesso, como Ricegum e Aruan Felix, incitam mulheres a tirarem a roupa quando eles pontuam nos jogos

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1 de 1 fortnite - Foto: Reprodução

O mundo dos games continua sendo um ambiente dominado por homens. Mesmo com as mulheres, numericamente, sendo maioria, na prática, é bem diferente. Reclamações de assédio e misoginia são frequentes e, enquanto algumas campanhas indicam mudança, uma tendência desmotiva as garotas a continuarem nos jogos.

Ricegum, um dos youtubers americanos mais famosos, já fez cinco vídeos jogando Fortnite e instigando modelos ou personalidades das redes sociais a tirar peças de roupa quando ele pontua. As convidadas não participam do game e são chamadas apenas para realizar esse desafio, batizado de “Fortnite Strip”.

O youtuber declara abertamente nos vídeos que a intenção de chamar essas jovens é atrair mais visualizações. Algumas ficam desconfortáveis na hora de tirar a roupa e Ricegum tenta consolá-las, afirmando que esse desafio visa agradar os fãs. Em uma de suas publicações, o americano brinca de roleta-russa com uma modelo e a instiga a contar seus segredos, pedindo para tocar no corpo dela enquanto joga.

Ao buscar por “Fortnite Strip”, o YouTube mostra mais de 115 mil envios, enquanto uma tendência parecida, o Fifa Strip, tem mais de 300 mil postagens. Os vídeos do game de futebol seguem o mesmo desafio e começaram a bombar no Brasil em 2017. Aruan Felix foi um dos brasileiros que mais lucrou chamando modelos e mulheres dentro dos padrões de beleza aceitos para se despirem enquanto ele joga.

É uma mulher tirando a roupa para agradar um monte de cara. Com certeza, isso reforça a cultura machista. Tem criança vendo esses vídeos sem ter a consciência formada e pode ser influenciada por isso, afinal, está assistindo alguém que gosta e acompanha”, opina a youtuber e gamer Jéssica, do Jessie Games.

A youtuber reconhece o mundo dos games como um meio machista, enquanto a pesquisadora da área de desenvolvimento de jogos educacionais e ativista para a inclusão feminina Izadora Perkoski conta que, no início, não era assim. “Quando os únicos games digitais disponíveis eram os arcades, não havia segmentação por gênero no marketing do setor. A tradição disso como coisa de menino nasce em meados dos anos 1980, por uma questão de publicidade para resolver a crise financeira”, explica.

Desde então, inserir mulheres nos games tem sido difícil, tanto jogando quanto idealizando os produtos. “Algumas pesquisas estimam que a proporção de desenvolvedoras esteja entre 5% e 10%. Humilhação, perseguição, assédio sexual e objetificação feminina são algumas das atitudes bloqueando a participação feminina nesse universo”, fala Izadora. 

Embora insultos e provocações sejam comuns durante as partidas, Jéssica já sentiu na pele a diferença entre implicância e machismo. “A gente sabe quando é um xingamento pelo momento do jogo e se o agressor falaria assim outro homem. Percebemos também quando é assédio ou algo por ser mulher, é muito visível”, diz a youtuber.

Contra-ataque
Jéssica participa de uma campanha feita para lutar contra o machismo e amparar jogadoras ao redor do mundo. O My Game My Name incentiva mulheres a usarem nomes femininos e baterem de frente com o preconceito, pois muitas escolhem nicknames masculinos para evitar assédio. “A iniciativa é uma forma de mostrar solidariedade“, afirma a gamer.

“A igualdade e o respeito no meio gamer e na indústria de produtos digitais jamais será uma realidade enquanto formos discriminadas em todos os outros locais”, fala Izadora. Apesar disso, a pesquisadora tem esperança e recomenda a criação de comunidades de mulheres para jogarem juntas, formando ambientes seguros e confortáveis para as novatas. Além disso, campanhas e ações afirmativas impulsionando a participação feminina nos jogos são passos cruciais para a igualdade.

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