Tudo que você precisa saber sobre o caso Harvey Weinstein
Os abusos do magnata e produtor de filmes Weinstein ficou silenciado por três décadas. Agora, ele foi demitido de sua própria empresa
atualizado
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Até semana passada, a carreira do produtor de cinema Harvey Weinstein parecia impecável. A produtora The Weinstein Company, que criou ao lado do irmão Bob, ganhava muito dinheiro. Os filmes faziam sucesso e ele supostamente tinha o respeito dos colegas — a consagrada Meryl Streep uma vez o chamou de Deus. Mas denúncias de abuso sexual, algumas de até três décadas atrás, foram reveladas através de uma minuciosa investigação do The New York Times.
Sendo um magnata e uma pessoa influente, Harvey conseguia desaparecer com as queixas ou comprava o silêncio das vítimas com ameaças e dinheiro. Ainda segundo o Times, as vítimas recebiam entre U$ 80 mil e U$ 150 mil e os funcionários da produtora sabiam que isso acontecia, mas ninguém se manifestava.
Apesar do padrão, as vítimas variam entre 20 e 40 anos e não vivem na mesma cidade. Elas são atrizes, modelos, apresentadoras de TV e produtoras de cinema. Algumas alegaram que não denunciaram a situação porque não tinham testemunhas, sentiram medo de retaliações de Harvey ou ficaram envergonhadas.As denúncias coletadas repetem um padrão: mulheres jovens, de 20 anos, eram convidadas para uma reunião de negócios com o poderoso senhor Weinstein. Ele exigia que o encontro fosse feito em um lugar privado, geralmente o quarto de hotel dele. Então, o empresário aparecia nu, pedia uma massagem à vítima ou que ela o assistisse tomando banho.
Depois das denúncias e da reportagem do Times, Harvey foi demitido da sua própria empresa “O jeito que agi com colegas causou muita dor e sinceramente peço desculpas. Estou tentando melhorar, mas sei que tenho um longo caminho pela frente”, disse Harvey sobre sua situação.
Harvey Weinstein começou cedo a carreira no mundo do cinema. Ao lado do irmão Bob Weinstein, criou a produtora de filmes independentes, a Miramax. A empresa fez sucesso e chamou a atenção de empresários da área. E, na década de 1990, foi vendida para a Disney.
Logo em seguida, os irmãos começaram a The Weinstein Company, que foi responsável por grandes filmes como “Bastardos Inglórios”, “O Lado Bom da Vida”, “Django Livre”, “O Discurso do Rei “e “Lion” — todos nomeados ao Oscar.
Leia algumas das denúncias divulgadas pelo The New York Times:
1. Ashley Judd
“Nós, mulheres, temos falado sobre Harvey entre nós mesmas por muito tempo e já passou da hora de termos essa conversa publicamente”, declarou a atriz em uma entrevista. Há uma década, a Ashley filmava o longa “Beijos Que Matam”, quando recebeu um convite para uma reunião urgente com o influente produtor em um refinado hotel em Beverly Hills.
O padrão foi o mesmo: quando ela chegou, descobriu que a reunião ia ocorrer na suíte do hotel de Harvey. Desconfortável, Ashley escolheu comer cereal, para que a comida chegasse logo e ela pudesse ir embora o mais cedo possível. A atriz lembra que ele foi insistente.
Quando ele pediu uma massagem ela negou, então ele pediu um esfregão no ombro e ela disse não de novo. “Você me olha enquanto tomo banho?”, ele continuou. “Disse não de várias formas e várias vezes e ele sempre voltava pedindo outra coisa. Era tudo uma barganha coercitiva”, descreveu Ashley.
2. Rose McGowan
A atriz ficou conhecida com o filme “Pânico” e na mesma época, quando tinha 23 anos, recebeu um convite para encontrar com Harvey em um hotel durante o festival de Sundance. Rose recebeu U$ 100 mil de um acordo com o produtor. O documento da transação afirma que ele queria “comprar paz” com a atriz. Ela nunca falou publicamente sobre o assunto, mas faz alusões sem nunca citar o nome de Harvey Weinstein.
This is the girl that was hurt by a monster. This is who you are shaming with your silence. pic.twitter.com/TrtRNiYfIT
— rose mcgowan (@rosemcgowan) 8 de outubro de 2017
3. Ambra Battilana
A modelo também se interessa por atuação. Em 2015, a italiana, com então 22 anos, foi até o escritório de Harvey em Nova York para discutir a carreira dela. Ambra ligou para a polícia algumas horas depois e disse que o produtor tinha agarrado seus seios para saber se eles eram naturais e colocou a mão por baixo da saia dela.
Ambra denunciou e a polícia não investigou. Harvey pagou para que a modelo não levasse a queixa adiante, mas o caso logo foi para os tabloides. Com a visibilidade da situação, muitos colegas da The Weinstein Company ficaram sabendo do abuso sexual e pressionaram Harvey sobre a acusação. Ele alegou que Ambra tinha armado tudo.
4. Lauren O’Connor
Contratada para trabalhar na produção de filmes, em 2015, Lauren O’Connor viveu o horror dos hotéis de Harvey. Em seu livro de memórias, ela escreve sobre uma assistente que também passou pela mesma situação. “Sou uma mulher de 28 anos tentando fazer uma carreira e me sustentar. Harvey Weinstein tem 64 anos, é um homem famoso no mundo inteiro e essa é a empresa dele”, relatou.
Com as denúncias de Lauren, alguns colegas de Harvey ficaram alarmados, incluindo seu irmão Bob, mas depois a companhia decidiu que não havia necessidade de investigar.
5. Emily Nestor
Em 2014, Emily Nestor tinha trabalhado apenas um dia na companhia quando foi convidada para encontrar Harvey no mesmo hotel em que ele assediou Ashley Judd. Ele prometeu que se ela aceitasse transar com ele, ele iria alavancar a carreira dela.
Celebridades se pronunciam sobre o caso
Desde que o escândalo foi noticiado pelo The New York Times, várias famosas ofereceram apoio às mulheres assediadas. Quase que instantaneamente, Patricia Arquette, Lena Dunham, Amber Tamblyn condenaram as atitudes do produtor e agradeceram especificamente a Rose McGowan e a Ashley Judd por falarem abertamente sobre as acusações.
@AshleyJudd & @rosemcgowan I'm sure it wasn't easy to come forward but in doing so you helped a lot of others who might not have been heard.
— Patricia Arquette (@PattyArquette) October 6, 2017
Mais tarde, outras figuras da indústria do entretenimento como Olivia Munn e Jessica Chastain também se posicionaram em defesa às mulheres envolvidas no caso.
Women are fighting against the 'Grab Them By The Pussy' normalization & speaking up. Its never easy to be the first to go on record #Respect https://t.co/PKu19hEpd6
— Jessica Chastain (@jes_chastain) October 6, 2017
Women dont report sexual abuse bc there's usually 0 support & 100% backlash. Not today. THANKYOU to those who speak out. I stand behind you?
— Olivia Munn (@oliviamunn) October 7, 2017
Quase uma semana após a exposição do caso, Judi Dench e Meryl Streep se pronunciaram sobre as acusações. Em uma declaração oficial, Judi reconheceu a ajuda que recebeu do produtor, mas “nunca soube dessas ofensas” e que estava “horrorizada”. “Eu ofereço minhas simpatias àquelas que sofreram, e meu apoio àquelas que o denunciaram”, escreveu.
Meryl também afirmou desconhecer o comportamento do amigo de longa data e disse que as mulheres que expuseram os casos de abuso “são heroínas”.
“Uma coisa deve ser explicada. Nem todo mundo sabia. Harvey apoiava esse trabalho com convicção, era chato, mas respeitoso comigo em nosso relacionamento profissional, e com muitas outras com quem ele trabalhou. Eu não sabia sobre essas agressões: eu não sabia sobre seus acordos financeiros com atrizes e colegas; não sabia sobre seus encontros em quartos de hotel, seu banheiro ou outros atos inapropriados e coercitivos. E se todos sabiam, não acredito que os repórteres investigativos e veículos de notícias teriam ignorado por décadas escrever sobre isso. O comportamento é imperdoável, mas o abuso de poder é familiar. Cada voz corajosa que é levantada, ouvida e creditada pela nossa mídia vigilante vai mudar o jogo no final”.
Veja alguns filmes e séries que foram produzidos pelas companhias de Harvey Weinstein: