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O ano do assédio. Afinal, o quanto as mulheres avançaram em 2017?

Os últimos 12 meses foram marcados por denúncias de poderosos da mídia nacional e internacional, mas a mudança está longe de terminar

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feminist people holding their arms
1 de 1 feminist people holding their arms - Foto: iStock

Nos últimos 12 meses, surgiram diversas denúncias de assédio sexual e estupro cercando homens poderosos no Brasil e no mundo. Como consequência, a influente revista Time escolheu como “personalidade do ano” um grupo de ativistas que estão lutando contra a desigualdade de gênero e o abuso de poder. E, em razão disso, “feminismo” foi eleita a palavra de 2017 por um dicionário americano.

O processo de denunciar é doloroso, mas as alegações das famosas trouxeram recompensas para pessoas comuns. “O assunto foi mais falado e muitas mulheres que não reconheciam algumas formas de violência puderam identificá-las no cotidiano. Quem se sentia culpada e sozinha pode descobrir que se trata de um problema social e de gênero”, completa Izabel.

Mas apesar de a era parecer de progresso e muitas mudanças, a realidade é complexa. “As mulheres ainda ganham menos no mercado de trabalho: mesmo estudando mais e ocupando cargos equivalentes. Nós continuamos sendo assediadas na rua e no trabalho, as taxas de estupro e feminicídio não diminuem e ser menina significa ser abusada por um homem familiar ou conhecido. Então, de certa forma, avançamos quase nada”, comenta a professora de ciências sociais na Universidad Externado de Colombia Izabel Solyszko.

 

 

Histórico
O ano começou com a bombástica acusação de assédio sexual contra o consagrado ator da Globo José Mayer. O que inicialmente era a história de uma figurinista, evoluiu para uma onda de outras mulheres alegando terem sido vítimas do mesmo comportamento do global. O caso virou a campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”, slogan estampado em camisetas e redes sociais.

O feminismo e o assédio entraram em pauta no cenário nacional de novo no final de agosto, quando a escritora Clara Averbuck afirmou em um post do Facebook ter sido estuprada por um motorista de Uber. O relato provou ser uma realidade comum entre as mulheres, resultando na hashtag #MeuMotoristaAbusador. Nela, pessoas compartilhavam terem sido estupradas e assediadas em táxis, Ubers e até caronas de conhecidos e amigos.

Em setembro, logo após o caso de Clara, um homem chamado Diego Ferreira de Novais ejaculou em uma mulher dentro de ônibus em São Paulo. Ele foi pego em flagrante, mas o juiz José Eugênio do Amaral Souza Neto considerou não ter ocorrido constrangimento, o que tornou impossível enquadrar o crime como estupro. Depois de liberado, Diego voltou a ejacular em passageiras de transportes públicos.

Ficou claro o quanto a cultura de estupro na sociedade é enraizada quando foram publicadas as primeiras acusações contra magnatas poderoros e influentes de Hollywood em outubro. Mais de oitenta mulheres alegaram terem sido abusadas pelo produtor de cinema Harvey Weinsten. O The New York Times estima que 47 outros homens famosos foram denunciados desde então.

A socióloga Michele Assis enxerga crescimentos no movimento feminista graças ao ano de 2017. Ela acredita que o volume de denúncias e o apoio entre as mulheres foram fundamentais para o desfecho dos casos na Globo e em Hollywood. “São indícios visíveis de um processo menos tangível, porém igualmente marcante e relevante: o fortalecimento dos vínculos e das redes de solidariedade entre as mulheres”, explica.

 

A psicóloga Daiana Rauber reconhece a importância de movimentos como o #MeToo nos Estados Unidos, mas afirma que muito ainda deve ser trabalhado nos próximos anos. “Precisamos sair da nossa bolha. Existem espaços em que o discurso sobre igualdade e direitos é muito bem desenvolvido, mas devemos levar esses pontos para onde isso não chega, para mulheres com educação informal ou com pouca informação”. 

Daiana ainda chama atenção ao papel dos homens. A psicóloga sugere que eles sejam educados a dar apoio às mulheres e a cortar atitudes machistas em seus ciclos de convivência. Izabel e Michele ressaltam como a falta de representação feminina na política impacta na vida e nos direitos das mulheres.

Embora tenhamos avançado, é preciso reconhecer que o cenário político mais amplo aponta para uma série de retrocessos. Exemplos claros são a recepção da intelectual Judith Butler no Brasil, marcada por agressões físicas e verbais, e a PEC ‘Cavalo de Troia'”, comenta Michele.

As especialistas concordam que 2017 foi um ano transformador para o movimento das mulheres. “Apesar da violência, a mulher sai fortificada porque hoje essas questões são encaradas como problemas”, pontua Daiana. “O fortalecimento acontece tanto no nível individual quanto no coletivo. Cada uma de nós está mais firme para enfrentar situações machistas, especialmente pelo suporte prestado por outras mulheres quando nos posicionamos”, conclui Michele.

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