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Grupo Católicas pelo Direito de Decidir concilia fé e apoio ao aborto

O movimento reúne cristãs e trabalha defendendo os direitos das mulheres e espalhando mensagens positivas sobre sexo

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1 de 1 Cristãs-com-direito-de-abortar - Foto: Stella Woo/Metrópoles

Nas discussões acaloradas a respeito da descriminalização do aborto no Supremo Tribunal Federal (STF), no começo de agosto, um vídeo chamou atenção. Durante a audiência pública para se discutir a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana, uma senhora caminhou até o microfone e usou sua fé para se posicionar a favor da ação.

Maria José Rosado é socióloga, cristã, feminista, presidente da organização Católicas pelo Direito de Decidir e responsável pela fala, que viralizou no Facebook. O grupo, fundado em 1993, não foge dos tabus e enfrenta grandes dogmas da fé. As mulheres por trás da ONG são enfáticas sobre seu apoio aos direitos sexuais e reprodutivos femininos, além de proporem a sexualidade como algo positivo. As ativistas também representam uma visão favorável ao movimento LGBT.

A coordenadora Regina Jurkewicz está no grupo desde o início e o formou com Maria José Rosado, sua orientadora de mestrado na época. Atualmente, existem coletivos semelhantes no Caribe, Estados Unidos e Europa.

Elas acompanham projetos de lei e espalham suas palavras de fé combinadas ao feminismo através de seminários e pesquisas, a mais recente tratando de aborto e percepção do povo. “Na minha visão, pedimos por direitos humanos e políticas públicas”, fala a coordenadora Rosângela Talib, membro da organização desde 2001.

 

Em um estudo que ganhou visibilidade nos últimos dias, o grupo chamou atenção para a descriminalização da interrupção da gravidez. As perguntas foram elaboradas para estimular os entrevistados a pensarem sem preconceitos. “Essa ideia veio da nossa percepção de anos trabalhando com as mulheres e de como é importante mostrar que a realidade é diferente do que é falado nas esferas de poder”, diz Rosângela.

De acordo com o relatório, 64% da sociedade brasileira pensam que a mulher deve ser a responsável por escolher ou não abortar. Apenas 12% acreditam que a decisão cabe a instituições, como Igreja, Poder Judiciário ou Presidência da República.

Liberdade
Na questão do aborto, as integrantes do Católicas pelo Direito de Decidir posicionam-se de maneira forte e clara: elas são favoráveis à descriminalização. As coordenadoras apontam que a Igreja já foi contra divórcio e anticoncepcional, enquanto apoiou pena de morte e escravidão. “Essas situações mostram a relativização do valor da Bíblia”, aponta Regina. 

O grupo utiliza argumentos baseados na teologia, majoritariamente, para justificar a posição favorável ao aborto. “Algo central do cristianismo é usar a própria consciência para decidir momentos difíceis. É mais importante do que a hierarquia da Igreja ou o papa”, diz Regina.

“Algumas propostas teológicas dizem: na dúvida, recorra à liberdade”, complementa. “A proibição não tem feito as mulheres deixarem de abortar. Pensamos a religião a partir da dor do outro, como um bloco de apoio, não de condenação. É importante as mulheres saberem que se pode ser católica, basear-se na teologia feminista e se sentir acolhida”, ressalta Rosângela.

Regina diz que, na visão religiosa, o aborto nunca deixou de ser pecado e jamais foi encarado como algo bom. Apesar disso, ela mantém a posição. “Em alguns casos, realmente é uma solução, não podemos fechar os olhos e ignorar. O número de mortes nos países legalizados diminuiu, e com um pouco de razão e bom senso a gente salva mais vidas”.

Amadas e odiadas
Por mais que a maioria das religiões pregue amor e respeito, as duas coordenadoras do movimento já sentiram o contrário vindo de outros fiéis. “Passei por várias situações. A mais forte foi no doutorado, quando defendi minha tese falando de abuso sexual de padres contra mulheres. Dava aula de religião numa faculdade de teologia e a direção me mandou embora quando soube”, conta Regina.

Rosângela também foi proibida de dar aulas e tem sua fé constantemente questionada. “Uma vez, em um seminário, falaram que eu não era católica, porque não professava o que a Igreja preconiza de sexualidade e reprodução. Fui batizada, crismada, nunca reneguei minha fé e tenho direito de falar como católica. A religião, na verdade, é uma experiência individual, e as pessoas podem ter uma posição diferente da hegemônica. A gente clama dar voz e avançar na discussão, o aborto é um dogma, e os fiéis têm direito de discutir”, finaliza.

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