Ex-Vogue Brasil troca revista por projeto de violência contra a mulher
Yasmine McDougall Sterea, antiga editora da publicação, fundou em 2018 o Free Free, plataforma que luta contra abuso físico e emocional
atualizado
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A vontade de fazer a diferença move ativistas e militantes de diferentes segmentos. No caso de Yasmine McDougall Sterea, a vontade virou um projeto que, com quatro anos de existência, trouxe luz para a importância de libertar meninas e mulheres de abusos físicos, emocionais e financeiros. Nomeado Free Free, o programa já formou uma rede de 70 marcas parceiras e impactou diretamente mais de 16 mil mulheres.
Antes do Free Free, Yasmine tinha uma rotina digna de filmes hollywoodianos que pintam a moda como um universo glamoroso. Semanas de moda internacionais e ensaios fotográficos com celebridades como Rihanna faziam parte do seu cotidiano. A realidade, porém, era outra. A mãe da ex-editora de moda da Vogue Brasil tirou a própria vida e, não bastasse o grande trauma, a carioca engravidou e passou a olhar para a vida sob uma nova ótica.
Em entrevista ao Metrópoles, Yasmine contou que entendeu que não queria que a filha passasse pelo que ela, a mãe e as amigas da mãe passaram, em diferentes níveis. “Como eu posso usar algo que já sei fazer para contribuir de alguma forma?”. Nasceu então, em 2018, o Free Free, já com uma parceria com o Ministério Público, com o objetivo de levar o lado lúdico da moda e da arte como terapia para meninas e mulheres que passaram por algum tipo de abuso ou violência.
Após 11 anos na publicação de moda mais consolidada do país, Yasmine começou a trabalhar diretamente com vítimas e assistentes sociais para mostrar o potencial da roupa, da maquiagem e das cores como terapia. Mas o Free Free já chegou com o “pé na porta” e, dois anos após o lançamento, estruturou uma ação com o Ministério Público contra o assédio no Carnaval. “Fizemos uma parceria com a Cláudia Leitte e rodamos trios no Rio de Janeiro, em Brasília e na Bahia com a campanha ‘Eu Decido’”, relembra a empresária.
No começo, o plano de Yasmine Sterea era combinar os eventos presenciais com a presença nas redes sociais e campanhas nacionais de conscientização. A pandemia, porém, obrigou o Free Free a recalcular a rota. “Foi um momento muito delicado para as mulheres, que ficaram mais suscetíveis ao abuso por problemas com parceiros, problemas financeiros e jornadas infinitas”. A plataforma passou a investir em workshops on-line, o que permitiu maior alcance.
A plataforma tem impactado a vida de mulheres e meninas por meio da parceria não apenas com órgãos públicos, como também com a iniciativa privada. Pense em empresas como a joalheria Vivara e as empresas de beleza TRESemmé e Quem Disse, Berenice?. “É muito importante a gente entender que todo mundo tem um papel. E as empresas têm um alcance de falar com milhões de pessoas por dia com seus produtos, além de terem poder de influência”, explica a CEO do Free Free.
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Atuação internacional
Apesar da pouca idade, a plataforma já expandiu fronteiras e lançou projetos em cidades de países como Espanha, Portugal, Itália e Inglaterra. O próximo passo é fincar os pés no continente africano e também na região do Oriente Médio. Outra frente de investimento do Free Free é no metaverso: “Abrimos uma casa no metaverso onde qualquer pessoa pode entrar, ver vídeos, mensagens, informações importantes e até meditação guiada”.
“Quem tem um óculos consegue ter uma experiência mais imersiva, mas mesmo quem não tem consegue acessar”, reforça Yasmine, mostrando que sabe dos desafios que se impõem. O metaverso, porém, é apenas um braço do Free Free que, segundo a criadora, seguirá com eventos presenciais, agora pelo interior do Brasil, e com os workshops on-line. O projeto não tem barreiras — e não quer que ninguém tenha.