Em Brasília, mulheres vencem machismo e se destacam na coquetelaria
Para entrar na profissão com predominância masculina, as bartenders têm que driblar assédios, mostrar mais serviço e lidar com desrespeitos
atualizado
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Quando você vai tomar um drink para relaxar depois de um longo dia, quem você espera encontrar do outro lado do balcão do bar? A profissão de bartender continua sendo dominada por homens, mas, em Brasília, as mulheres têm se destacado e vencido os obstáculos do machismo na área. No âmbito nacional, elas também mostram sua capacidade: o posto de melhor bartender do Brasil é, atualmente, feminino e ocupado por Adriana Pino.
O bombado Mimo Bar teve sua carta de drinks idealizada por Júlia Santarosa. A bartender – termo que as profissionais da área preferem por ser gênero neutro, então esqueça o bargirl, barlady e outras variações – começou a trabalhar com coquetelaria em 2014, depois de alguns cursos, e hoje atua como freelancer em bares e eventos.
A mixologista afirma não ter tido muitos problemas trabalhando na área, mas já sentiu alguns preconceitos na pele. “Além de mulher, sou gay e a gente acaba aprendendo a lidar com a intolerância dos outros. Uma vez, um cara decidiu que não queria ser atendido por mim, porque tenho parte da cabeça raspada. Acontece dos clientes pedirem para serem servidos por homens, virem tirar sarro de nós e dar em cima”, conta.
Nayara Sousa comanda as bebidas do Barkowski há quatro anos. Passou por um curso de direito, mas a realização só veio quando ocupou a parte de trás do balcão. “Meu interesse pela coqueteleira começou quando fui aprendendo a fazer os drinks básicos no Barkowski mesmo. Fiz curso de bartender e de mixologista. Me interessei tanto pela área que vou iniciar um curso de gastronomia”, afirma.
Apesar do amor à profissão, a bartender reconhece os problemas do machismo na área. “A preferência por homens é bem simbólica. Já vi vários convites de empregos com o aviso explícito da vaga ser só para eles”, fala. Além disso, Nayara tem de lidar com assédio dos clientes.
“Teve um cara que ficou prometendo me levar para viajar. De repente, ele disse: ‘Você é uma delícia pegando essas bebidas na prateleira, estou aqui só por isso’ . É bem constrangedor. Simplesmente ignorei, falei para ele parar de forçar a barra e ele parou. Ser mulher e trabalhar na noite exige muito pulso firme”.
Nayara Sousa
Para ela, os assédios e o machismo são as únicas dificuldades do trabalho. “Nós sentimos esses mesmos desafios em várias profissões, não só na de bartender”, comenta. Nayara acha gratificante ver mais mulheres entrando no mercado não só de Brasília, mas do país todo, e ganhando campeonatos.
Elas por elas
A jornalista e publicitária por formação Malu Moura também se reinventou no mundo da coquetelaria. “Em meados de 2013, fui convidada a fazer parte da equipe do Balaio Café, onde aprendi a me virar nos drinks e me apaixonei pela área”, diz. A bartender passou pelo Open Bar, Cozinha Authoral, Bar da Drops Club, Bucadim de Tudo e Mimo Bar, local em que ela trabalha agora como chefe de bar.
Malu prioriza compor equipes femininas para trabalhar com ela. “Tento ao máximo ajudar na formação profissional dessas minas e manter uma espécie de rede de indicação para facilitar a entrada delas na área”. Para aumentar ainda mais a inclusão, a bartender ministra cursos de coquetelaria voltados para o público LGBTQ.
Por ser pequena, Malu conta que muitos homens com quem trabalha têm dificuldade de vê-la como chefe. “Alguns caras acham que sou a estagiária e não aceitam bem, mas com o tempo acabei ganhando meu espaço, mostrando trabalho duro e competência”.
Para se destacar, a chefe de bar, como várias mulheres, sentiu pressão para exibir mais técnica, produtividade e competência. “Hoje está um pouco mais fácil, o mercado se mostra receptivo para as minas, elas estão chegando com tudo e fazendo nome na coquetelaria de Brasília”, avalia.