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Bombeira cria movimento para denunciar assédio em quartéis e recebe ameaças

Camila Paiva iniciou movimento nacional para relatar abusos vividos por mulheres militares. Com a repercussão, virou alvo de criminosos

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Camila Paiva, tenente coronel dos Bombeiros, idealizadora do movimento Somos Todas Marias
1 de 1 Camila Paiva, tenente coronel dos Bombeiros, idealizadora do movimento Somos Todas Marias - Foto: Reprodução/Instagram

Assim como muitas mulheres militares, a tenente coronel Camila Paiva, do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, já vivenciou uma série de episódios de importunação sexual, assédio e machismo por parte dos próprios colegas. Para chamar atenção ao problema e dar voz às vitimas, ela desafiou companheiras de farda à relatarem essas situações em uma série de posts no Instagram, com a hashtag Somos Todas Maria e Assédio no Quartel. Em poucas horas, o conteúdo viralizou e centenas de casos chegaram à sua caixa de entrada.

A gota d’água para a iniciativa foi um áudio vazado, atribuído a policiais militares do Ceará. Nele, um PM diz que as mulheres de seu quartel deveriam ser encarregadas de “desestressá-los” com práticas sexuais. Os colegas concordam com o comentário misógino e debocham da situação.

Ao tomar conhecimento do áudio, Camila postou o conteúdo em seu Instagram e recebeu como resposta desabafos revoltantes de colegas que passaram por situações similares. “Foi aí que resolvi lançar o desafio, em que elas publicavam uma foto em preto e branco e contavam essas histórias, delas próprias ou de conhecidas, com a possibilidade de terem a identidade preservada”, contou a tenente coronel ao portal.

Durante quase duas décadas como oficial da corporação, Camila também foi vítima de várias agressões, de ser estereotipada ao assédio. Somados, esses episódios a levaram a um quadro de depressão.

“Todos os papeis sociais que escolhi — oficial, mulher, esposa, mãe, evangélica —  trazem padrões a seguir. Quando entrei na academia militar, por exemplo, fui ensinada que o meu jeito de ser, extrovertida, simpática, de falar com todo mundo, não era adequado para uma oficial”, recorda.

“Passei 10 anos da minha vida me adequando, me submetendo àquilo, quando, na verdade, não era minha vontade. Foi só a partir da depressão que compreendi os efeitos de tantos padrões”, emenda a alagoana.

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Ela afirma que é preciso investir em uma mudança de cultura nas instituições militares, das forças armadas às instituições de apoio, como a PM e os Bombeiros
Campanha Somos Todas Marias nasceu a partir de um "basta" de Camila, que se revoltou ao receber um áudio machista vazado de um grupo de policiais
Na página @movimentosomostodasmarias, é possível encontrar dezenas de relatos de abuso, assédio e machismo vividas por mulheres militares
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Camila é presidente da Associação dos Bombeiros de seu estado. Por causa da atuação pela valorização dos pares, já sofreu represálias de colegas. Nunca, porém, ameaças tão graves quanto após a campanha

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Ela afirma que é preciso investir em uma mudança de cultura nas instituições militares, das forças armadas às instituições de apoio, como a PM e os Bombeiros

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Campanha Somos Todas Marias nasceu a partir de um "basta" de Camila, que se revoltou ao receber um áudio machista vazado de um grupo de policiais

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Na página @movimentosomostodasmarias, é possível encontrar dezenas de relatos de abuso, assédio e machismo vividas por mulheres militares

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O movimento criado por Camila também ganhou a adesão de homens que não compactuam com o comportamento de seus pares e chamou atenção, até mesmo, de perfis famosos. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT) foi uma das personalidades que enviaram uma mensagem de apoio à bombeira no Instagram.  “Não passarão”, diz a publicação da parlamentar.

Ameaças

Infelizmente, não foi só apoio que Camila despertou com a  iniciativa. No domingo (26/7), a oficial recebeu mensagens intimidadoras de um perfil anônimo, sucedidas pela divulgação de seus dados pessoais na internet.

“A mensagem dizia ‘sou o líder dos imortais, o demônio que se esconde debaixo da sua cama. Morte às feministas, LGBTs e militantes'”, relembra.  “Fiquei assustada, claro, mas imaginei que era um ataque isolado. No entanto, o delegado já iniciou as investigações e constatou que esses ataques são iniciados em salas privadas na deep web, que disseminam ódio a pessoas que defendem certas causas. A partir da repercussão da campanha, virei alvo deles”.

Apesar do susto, Camila pretende continuar levantando a bandeira feminista e lutando por mais respeito nos quartéis brasileiros. “Não se trata mais da minha voz. São milhares de vozes de mulheres que passam por isso. Não vão conseguir calar a todas nós“.

Seu objetivo é contribuir com uma nova cultura de tratamento às minorias, não só entre bombeiros e policiais, mas em todas as forças militares do país.

“As instituições militares são o retrato da sociedade, com um agravante: como são majoritariamente compostas por homens,  o machismo é potencializado. Precisamos de políticas institucionais que promovam uma mudança de postura, como canais de denúncia e acolhimento,  militares aprendendo desde a academia que esses comportamentos não são toleráveis e punição dos casos. Se temos um ambiente de trabalho mais respeitoso, a sociedade será beneficiada com um trabalho melhor”, conclui a militar.

Resposta da Polícia Militar do Ceará

O Metrópoles questionou a Polícia Militar do Ceará sobre o áudio publicado no início da reportagem. Em resposta, a corporação afirmou que o caso está sendo apurado por meio de Inquérito Policial Militar (IPM). Ele será encaminhado para a Justiça Militar assim que concluído.

“Além disso, simultaneamente, todos os áudios e a documentação foram encaminhados à Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), a fim de que fosse instaurado um Processo Administrativo adequado à situação”, alegam, em nota.

 

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