Ex-mordomo de Diana revela o que é real e o que é ficção em The Crown
Produção da Netflix sobre a família real britânica mistura fatos reais com fantasia para dar mais fluidez ao enredo
atualizado
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Desde o lançamento da 4ª temporada, em meados do mês de novembro, a série The Crown está dando o que falar. Com protagonismo de grandes personalidades como Margareth Tatcher e a princesa Diana, que somam ao enredo monárquico protagonizado pela rainha Elizabeth II, a trama se propõe a relatar os acontecimentos históricos do período entre 1977 e 1990.
Embora o roteiro da série conte com historiadores e empenhados estudiosos da realeza britânica para dar fluidez aos acontecimentos, alguns aspectos foram modificados ou inventados. Nesta semana, por exemplo, o secretário de cultura do governo do Reino Unido, Oliver Dowden, acusou a Netflix de não deixar claro que o programa é baseado em fatos reais e não um retrato fiel da realidade.
Além do secretário, uma personalidade próxima à Lady Di também criticou as imprecisões do enredo. Paul Burrell, então mordomo da princesa, estava no centro de muitas das histórias retratadas na mais recente temporada do programa da Netflix, incluindo o polêmico casamento com príncipe Charles e a dinâmica feroz entre a rainha e Margaret Thatcher.
Ao The Sun, Burrell separou o que é verdadeiro e o que é fantasia na série. Atenção, o conteúdo a seguir contém spoilers!
O príncipe Charles foi cruel com Diana – Fato
As cenas da série mostram o príncipe Charles parecendo desinteressado quando Diana dança no palco, indiferente a seus filhos e empenhado em um caso com Camilla Parker-Bowles. Apesar da controvérsia sobre a “licença artística”, Paul diz que o drama pinta um quadro preciso do relacionamento cada vez mais frio entre quatro paredes.
Relembrando seus anos na casa do jovem casal, o ex-mordomo afirma: “Josh O’Connor interpreta o príncipe Charles como uma pessoa fria e um tanto indiferente. E temo que tenha sido isso que vi atrás de portas fechadas”.
“Diana me disse: ‘Quando me casei, pensei que meu marido estaria lá para mim, para cuidar de mim, para me apoiar, para me encorajar, mas ele não está’. Há pessoas que dizem, ‘isso não é factual’, mas isso é muito próximo da verdade.”
As cenas na Austrália, a popularidade dela e o incômodo do príncipe de Gales são verdadeiras, de acordo com Burrell. Ele ainda acrescentou um relato do que presenciou na casa, e diz que os roteiristas ainda “poderiam ter ido mais longe”.
“Eu teria feito outra cena relatando quando a princesa Diana desceu as escadas usando um lindo vestido preto e branco, apenas para agradá-lo, e Charles disse a ela ‘Você parece que pertence à máfia’”, conta.
A relação entre Diana e a rainha também é fiel à realidade, nas palavras do ex-mordomo. “Elas não tinham uma relação muito próxima. Eu a ouvi dizer que Diana é ‘uma garota tão boba, ela não percebe, os homens têm casos’. Isso é muito revelador, é aceito e é o que acontece, e você simplesmente aguenta”, assim como ocorreu em um diálogo na série.
A rainha estava sozinha durante a invasão – Fato
Outro episódio no programa relata o dia em que Elizabeth II acordou e encontrou Michael Fagan, um intruso dentro do Palácio de Buckingham, em seu quarto. Mas a descrição do evento feita em The Crown está repleta de imprecisões, diz Paul, desde a decoração do aposento real até a conversa que a monarca teve com Fagan.
“O quarto da rainha não é vermelho e grandioso como eles retrataram. É muito humilde, com apenas uma cama, duas mesinhas de cabeceira e sem flores”, descreveu. Assim que ela acordou, sem nenhum barulho, sentiu que alguém havia sentado na cama. Quando acendeu a luz, enxergou um homem.
Diana escolheu seu anel de noivado – Ficção
Embora um dos episódios retrate Diana escolhendo seu anel de noivado, Paul diz: “Eu estava lá. A rainha escolheu com o príncipe Charles”. O acessório foi um pedido ao joalheiro da Coroa, que apresentou uma extensa gama de possibilidades. “O príncipe desceu de sua suíte no Palácio de Buckingham e, entre eles, escolheram o anel. Diana foi presenteada.”
Diana lutou contra a bulimia – Fato
Cenas da série reproduzem a luta de Lady Di contra a bulimia. A batalha da princesa contra a doença foi bastante demorada, revela Paul. “Ela começou a ficar doente pouco antes de se casar, e me disse que até teve um episódio na noite de núpcias.”
Paul compartilha o incômodo ao assistir as cenas. “É muito chato para mim assistir, deve ser chato para o público também. Ela sofreu muito com isso. The Crown retrata isso, mas apenas em pequenas cenas. Não existe um fio condutor ao longo dos 10 episódios. Ela sofreu com isso a vida toda e não encontrou ajuda.”
Rainha e príncipe Philip dormem em camas separadas – Ficção
O relacionamento sóbrio e abafado da rainha com o príncipe Philip também é fantasioso. Paul é quem explica: “Deram a eles uma relação muito distante, e não é. A rainha e o marido não são frios um com o outro”. A descrição na série de que o casal dorme separado também é incorreta. “Ambos têm um conjunto de quartos. Mas há um quarto comum no meio e é o cômodo que eles usam.”
As camisolas de vovó desalinhadas que a chefe da Coroa usa são outra imprecisão. “Ela é uma mulher elegantemente vestida que usava seda rosa esvoaçante para dormir”, descreve Paul.
Sua majestade não gostou de Margaret Thatcher – Ficção
A relação entre a então primeira-ministra, Margaret Thatcher, e a rainha era muito mais calorosa do que a retratada por Gillian Anderson e Olivia Colman. Elizabeth II até fez uma mudança rápida para que, ao contrário do programa, as duas não estivessem usando azul na primeira audiência de Thatcher com a soberana.
A primeira-ministra tinha um grande respeito pela rainha e sua reverência foi a mais baixa de todas as damas que a conheceram. Ele acrescenta: “Elas não estavam em guerra entre si e ninguém sabe o que é dito porque essa reunião é privada. Então, conversaram muito lá”.