Especialista destaca importância do empoderamento negro na infância
As crianças negras enfrentam desafios significativos apenas pela cor da pele. Por isso, é importante empoderá-las desde cedo
atualizado
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Segundo o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 68,6 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos de idade residam no país. Desses, mais de 31 milhões são negras, de acordo com as informações do UNICEF.
Em uma sociedade que tenta deslegitimar as pessoas negras, é importante reforçar as crianças negras sua origem, força e valor desde cedo. É na infância que elas descobrem o que é ser negro por meio da discriminação de alguns “amiguinhos”, disfarçada de piada ou brincadeira.
Além disso, a falta de representatividade, que permeia desde os desenhos até os espaços sociais, leva as crianças negras a internalizarem uma visão negativa de si mesmas, resultando em sentimentos de inferioridade. Em outras palavras, elas já iniciam a sua jornada com barreiras.
E como reverter essa situação para promover o desenvolvimento saudável das crianças negras? De acordo com a ativista pela educação antirracista e autora do livro-caixinha Vamos Falar de Racismo, Alexandra Loras, é essencial realizar um extenso trabalho de conscientização.
“Negar ou acreditar que somos todos iguais, ignorando a questão racial, não fará com que as crianças nasçam ou continuem livres de preconceitos. Uma vez que a sociedade é capacitista, racista, heteronormativa, homofóbica, as crianças se tornam alvos para reproduzir esses conceitos”, diz a especialista, ao Metrópoles.
Desafios da criança negra
As crianças negras enfrentam desafios significativos apenas pela cor da pele. Ao nascer, o risco de uma criança negra morrer antes do primeiro ano de vida é 25% maior que uma criança branca, segundo o UNICEF. Outro estudo indica que 64,78% das crianças e adolescentes que trabalham no Brasil, são negros.
Essas dificuldades são exacerbadas por outras questões, como a textura do cabelo. “Se escuta muito que o cabelo é ruim, que o cabelo é duro. Essas frases fazem as crianças quererem ter a mesma textura de cabelo das princesas. Infelizmente, as poucas princesas negras da Disney têm que alisar o cabelo”, explica Alexandra.
A ativista destaca a importância de mudar essa narrativa. “Para os pais e cuidadores que desejam criar um ambiente que promova o empoderamento negro, é essencial apresentar várias referências negras. Não basta apenas ter uma boneca negra e acreditar que isso resolve a questão da diversidade.”
Mídia e representatividade
A representatividade de crianças negras na mídia desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais inclusiva e equitativa. Quando as crianças veem personagens que se parecem com elas em filmes ou livros, não valida apenas suas identidades, mas também promove um senso de pertencimento e autoestima.
“Devemos buscar uma maior representatividade nos desenhos animados, nas novelas e nos livros didáticos. Essa narrativa é fundamental no audiovisual. Isso não é apenas um dever das pessoas negras, mas também das pessoas brancas, que precisam se conscientizar através do letramento racial”, elucida Alexandra.
Além disso, a representação positiva ajuda a desconstruir estereótipos prejudiciais, mostrando a diversidade dentro da comunidade negra. Ao ampliar a presença de crianças negras na mídia, é possível criar um ambiente onde todas as crianças se sintam valorizadas e inspiradas.
Papel dos pais e educadores
Questionada sobre a melhor estratégia dos pais e educadores para estimular a autoestima de crianças negras, Alexandra diz que não é necessário apenas o letramento racial para os educadores e pais. É importante, também, fazer com que o empoderamento infantil seja um grande aliado no combate ao problema social.
“Há muitas histórias positivas a serem compartilhadas sobre os negros, mas é fundamental realizar um trabalho de curadoria e pesquisa para promover efetivamente a diversidade. É essencial trabalhar essa prioridade, tendo a coragem de enfrentar essas questões com as crianças”, finaliza.