Cooperativa da Estrutural cria móveis com madeira reaproveitada
A Sonho de Liberdade nasceu da necessidade de empregar e oferecer uma vida honesta a ex-presidiários. São criados móveis e peças sob medida
atualizado
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Quando uma pessoa sai do sistema prisional, é difícil retornar a vida. A primeira coisa que se pede depois de uma entrevista de emprego é um certificado de nada consta. E quando consta tudo? Sem ter como trabalhar e conseguir o ganha-pão de forma honesta, são muitos os que são tentados e caem de volta no mundo do crime.
Para fugir do ciclo vicioso e evitar voltar às origens, em 2007 Fernando de Figueiredo, 43, teve a ideia de abrir um negócio que acolhesse os recém-saídos da cadeia, como ele mesmo. Onde todos pudessem andar de cabeça erguida, ganhar o sustento da família sem dever nada para ninguém. E no meio da Chácara Santa Luzia, na Estrutural, em uma rua de terra cheia de galpões de madeira e próximo a uma cooperativa de reciclagem, uma casa branca de cerca colorida é a construção que chama a atenção e representa seu sonho.
A cooperativa Sonho de Liberdade hoje conta com 40 funcionários e tem como carro-chefe o uso de madeiras recicladas. Caminhões chegam com restos do material da construção civil que seriam destruídos e, em um enorme galpão, o material ganha vida nova. É transformado em estantes, mesas, móveis, cadeiras, poltronas, painéis. Fazem também madeiras sob medida.
O auge da Sonho de Liberdade foi na época da construção do Estádio Nacional. Recebiam cerca de 40 caminhões cheios de madeira para reciclar por dia, empregavam cerca de 100 funcionários. Eram conhecidos pela cidade inteira, apareceram em programas de televisão, recebiam vários alunos da UnB interessados em conhecer o projeto. Entre eles Thiago Lucas e Bruno Antunes, da Baru Design, que criaram móveis produzidos pela cooperativa e que foram sucesso imediato. As peças saíram do galpão na Estrutural para os ambientes da Casa Cor.No começo de sua história, a cooperativa fabricava também bolas de futebol. Mas devido à concorrência com empresas gigantes do esporte e confecções chinesas, Fernando explica que tiveram que deixar a produção de lado. Enquanto uma bola costurada pela Sonho de Liberdade não tem como custar menos de 40 reais, as opções asiáticas são vendidas nos sinais de trânsito por 10 reais.
Depois dos anos de glória, a Sonho de Liberdade continua de pé, firme e forte, apesar de todas as dificuldades. Mas hoje recebem apenas cinco veículos carregados de madeira por dia, e a demanda também diminuiu muito. “Estamos lutando para sobreviver”, conta Fernando.
Quem quiser fazer encomendas de móveis ou bolas, pode entrar em contato com a cooperativa pelo telefone (61) 99693-6465