Conheça a geração de arquitetos que está levando Brasília para o mundo
Existe grande expectativa internacional quanto à produção dos profissionais da capital, e eles não decepcionam
atualizado
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Não é novidade: Brasília é a meca dos arquitetos. Os traçados modernistas de Niemeyer e o estilo de vida idealizado por Lúcio Costa tornam a capital federal um exemplo único no mundo.
Porém, se o peso de seguir os passos dos modernistas é grande, os arquitetos que trabalham no quadradinho atualmente não deixam transparecer. Carregam o título de “crias de Brasília” com orgulho e, embora adotem o tradicional estilo da cidade, o resultado é imprevisível e não parece com nada que você já tenha visto.
Os projetos são modernistas e, ao mesmo tempo, modernos. Se desenvolveram como o morador da capital que não vive mais nos anos 1960, mas percebe o privilégio de circular diariamente em uma maravilha arquitetônica.
Toda essa arte, que também é amor, vem fazendo sucesso, não só em outros estados do Brasil, mas também fora das nossas fronteiras. Publicações internacionais importantes e outras menores já descobriram a riqueza dos arquitetos brasilienses. Rússia, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Estados Unidos, França… não é difícil encontrar projetos feitos na capital divulgados pelo mundo.Apresentamos hoje quatro escritórios brasilienses de arquitetura que estão fazendo sucesso em outros países. Não são os únicos (existem muitos profissionais talentosos e famosos na cidade), mas representam bem o trabalho realizado por aqui.
Clay Rodrigues
Clay Rodrigues, 28, é um “filho de Brasília”, como ele mesmo diz. Nascido na capital, cresceu correndo entre os pilotis, mas só na faculdade de arquitetura descobriu o privilégio da infância. Um passeio de campo o fez olhar criticamente a cidade e perceber como a vida “debaixo do bloco” molda o brasiliense.
Nessa época, Clay começou um blog. Patenteou o nome e, há dois anos, o projeto saiu da internet para a vida real. A Debaixo do Bloco Arquitetura tem pouco tempo no mercado, mas já chama atenção.
Segundo o arquiteto, o interesse nacional e internacional vem por conta do seu estilo: linhas minimalistas, limpas e contemporâneas. “Tenho alguns clientes de fora que me procuram porque querem um projeto com a cara da capital”, conta Clay.
Para divulgar o seu ofício mundo afora, ele investe em divulgação. Envia um mídia kit para os dois principais portais de arquitetura. Após uma curadoria rigorosa, poucos são selecionados para publicação. Clay já teve alguns trabalhos escolhidos. E, se um projeto sai no ArchDaily ou no Dezeen, logo pipocará em revistas e sites especializados.
Confira algumas fotos de um trabalho da Debaixo do Bloco no Lago Sul. A residência tem projeto de Zanine Caldas e foi reformada por Clay para um jovem casal:
BLOCO Arquitetos
A parceria entre os arquitetos do BLOCO não é nova. Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho (ambos na foto) e Matheus Seco atuam juntos há anos, mas com outros nomes. O escritório já se chamou DOMO e Quatro Arquitetos antes de se posicionarem com o título atual, em 2014. A repercussão do trabalho do trio também não é inédita.
Se alguns projetos do estúdio são queridos pelos brasilienses – como restaurantes e prédios residenciais –, os olhos do mundo percebem o talento do BLOCO à distância. “Agora, esse processo acontece de maneira muito natural. Antes, nós enviávamos os trabalhos para os sites internacionais, insistíamos bastante. Hoje eles já entram em contato para saber o que temos de novo”, conta Daniel.
Embora muito se fale sobre a herança de Brasília no trabalho de arquitetura, essa não é a única influência do BLOCO. Após participar de uma Bienal na Espanha, o trio passou a prestar mais atenção no que é produzido na América Latina.
“São realidades muito próximas, com necessidades parecidas. A arquitetura mediana latino-americana vem se mostrando com mais qualidade que a mediana brasileira. Nós, do BLOCO, não fazemos uma arquitetura vazia, só pela beleza. Nos preocupamos em ter uma abordagem racional e pragmática”, explica Henrique.
Confira algumas fotos da Casa Torreão, finalista do prêmio Tomie Ohtake AkzoNobel, uma das premiações mais importantes de arquitetura contemporânea do país:
Samuel Lamas
A família de Samuel Lamas, 37, sempre esteve envolvida no ramo da construção. Há 30 anos, seu pai abriu uma empresa de engenharia civil. Mas Samuel passou a trabalhar com arquitetura apenas em 2010, quando voltou de Roma. Começou com pequenos projetos de interiores até conseguir executar, em sua casa, o que realmente acreditava. Aí a carreira decolou.
O brasiliense diz não ter um estilo fixo: prefere se moldar por projeto. Atualmente está trabalhando em uma casa na Bahia, outra em São Paulo e uma igreja em Brasília. Diversifica para aprender e, a partir daí, criar.
Ele conta que vem percebendo uma espécie de “renascimento” da capital. Ao contrário das primeiras gerações, vindas de suas culturas para uma “tela em branco”, os filhos de Brasília finalmente sentem a cidade como deles. Gostam dos jardins, dos pilotis, da simplicidade. E, com essa aceitação, a visibilidade de projetos que carregam a identidade visual modernista cresce.
O trabalho de Samuel já ganhou vários prêmios internacionais e, volta e meia, aparece em publicações estrangeiras. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Itália… Por aqui, ele já foi apontado como um dos responsáveis por desenhar o futuro da arquitetura no Brasil. “Fico muito feliz e honrado pelo reconhecimento, tudo é desenvolvido com paixão e é legal poder levar nossa cultura para fora do país”, conta.
Um dos projetos mais publicados de Samuel Lamas já apareceu no Metrópoles: A Casa28 traz muito verde para dentro do lar, como uma extensão da paisagem que une a arquitetura à natureza. Veja as fotos:
1:1 Arquitetura e Design
O escritório 1:1 Arquitetura e Design nasceu de uma história de amor. Lílian Glayna, 32, conta que insistiu muito até conseguir convencer Eduardo Sáinz, 30, a namorar com ela – os dois trabalhavam juntos em outro escritório da cidade. O relacionamento seguiu em frente e a parceria também. Em 2011, o casal decidiu abrir o próprio estúdio. Deu certo.
O nome do escritório faz referência à uma escala muito usada na arquitetura. Eduardo conta que o processo de criação é sempre único, mas ele e Lílian tentam imprimir, em cada projeto, a visão do casal: a de um design industrial e vintage ao mesmo tempo, com materiais aparentes e pouco uso de cor. “A arquitetura brasileira é quase orgânica e Brasília é um exemplo forte disso. É uma cidade inspiradora”, conta.
Hoje, o estúdio é um dos mais conceituados de Brasília. A Casa Clara, cheia de cobogós típicos da capital e localizada no Lago Sul, foi considerada uma das 50 mais populares do mundo pelo site ArchDaily.
Para o futuro, a ideia é expandir. Não em tamanho, mas em qualidade. Lílian e Eduardo esperam também internacionalizar os projetos, começando a posicionar a marca em outras cidades: São Paulo já recebeu alguns designs da dupla e deve receber mais. “Queremos ser ótimos no que fazemos, mas não necessariamente grandes. Buscamos um mercado amplo”, conta Eduardo.
Confira algumas fotos da Casa Clara, uma das mais famosas da dupla: