Convite para encontros está em alta nos apps de paquera, aponta pesquisa
Com flexibilização das medidas de restrição social, encontros românticos voltam a ser presenciais
atualizado
Compartilhar notícia
A flexibilização da quarentena, com reabertura de locais como bares e restaurantes, tem encorajado usuários de aplicativos de relacionamento a retomar saídas para encontros. Um levantamento do app Inner Circle com palavras-chave usadas por usuários brasileiros mostrou um aumento de 420% nas referências a “encontrar pessoalmente” e de 500% de “olhos nos olhos” no começo de agosto em relação aos últimos dias de março
Entre os locais para possíveis encontros, também houve aumento em “na minha casa” (205%), café (190%), almoço (178%), jantar (164%) e parque (141%). No Brasil, o aplicativo tem 343 mil usuários e o levantamento foi feito com base em palavras-chave presentes em mensagens, mas sem avaliação do conteúdo e da identidade do usuário.
CEO do aplicativo, David Vermeulen diz que, no começo, as pessoas imaginavam que fariam uma “pequena pausa na paquera” para cuidar da saúde, mas algumas começaram a se sentir solitárias com o prolongamento da situação. “Os solteiros se sentem, agora, mais confortáveis para novos encontros a uma distância segura, já que as regras de quarentena foram flexibilizadas e a pandemia, acompanhada das medidas de distanciamento social, deve continuar por um período mais longo do que a maioria esperava.”
Vermeulen acredita que, com um vírus contagioso em circulação, o comportamento das pessoas que usam aplicativos de relacionamento pode passar por mudanças. “Não apenas vamos nos adaptar ao uso de álcool em gel para as mãos no dia a dia, mas, para namorar e ter encontros depois de uma pandemia, os solteiros estarão mais conscientes sobre a sua saúde e prestarão mais atenção à higiene Estamos prevendo uma nova tendência que estamos chamando ‘encontro limpo’ ou encontro ideal. Ao invés de mais ‘seletivos’, esperamos que o tema da ‘exclusividade’ apareça primeiro, pois os solteiros querem saber se seus encontros podem colocar a saúde em risco.”
A pedagoga Samantha Romeira, de 24 anos, evitou encontros até a flexibilização dos restaurantes e bares, em julho. Com a reabertura, ela voltou a sair, mas tem optado por se encontrar com rapazes que conhece.
“Nesta época de pandemia, é complicado sair com uma pessoa que você não conhece. Então, estou dando oportunidade para pessoas que já conhecia. Com pessoas que não conheço só mantenho o papo.” Ela diz que, com o relaxamento da quarentena, as conversas sobre a covid-19 mudaram também. “No começo, as conversas eram relacionadas à quarentena, à pandemia. Agora, as pessoas estão mais tranquilas.”
O levantamento feito pelo app mostrou que, em agosto, houve queda de 75% nas referências a coronavírus, de 29% para quarentena e de 43% para isolamento. Por outro lado, pandemia e máscara aumentaram 915% e 310%, respectivamente. A plataforma também fez uma pesquisa com 3 mil usuários brasileiros e indagou se eles já estavam se encontrando pessoalmente e 64% responderam que não, mas que estão disponíveis para encontros. Outros 29% afirmaram que já estão se encontrando e apenas 6% disseram que não e também não estão disponíveis para sair.
Consultor de estilo e imagem para homens, Rodolfo Kanematsu, de 32 anos, foi infectado pelo coronavírus quando os primeiros casos estouraram. Depois, fez uma quarentena rígida. “A vontade é de partir deste planeta para outro lugar. Com esse baque, fiquei em quarentena e não tive nenhum encontro físico. Seria muito mesquinho simplesmente ignorar tudo que está acontecendo no País, porque eu me preocupo com a pessoa que está ao meu lado Não tem como não criar empatia.”
Kanematsu voltou a fazer trabalhos presenciais e, como não está mais em completo isolamento, já pensa em flexibilizar para encontros. “Conheci pessoas interessantes neste período e tem uma ou outra que a gente vai se encontrar depois. Até estou um pouco mais ansioso. Vejo as moças conversando mais, porque está mais flexível.”
Ele diz que vai ser cuidadoso, mas compreende que sempre há um risco ao se encontrar com outras pessoas. “A partir do momento em que eu sair, vou saber que estou correndo risco. Enquanto não estiver rolando namoro, a exclusividade é difícil de ser detectada, porque não vou saber por onde a pessoa andou. É fácil mentir.”
Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Francisco Ivanildo de Oliveira Junior vê com preocupação esse movimento de retomada dos encontros por usuários de aplicativos de paquera.
“A primeira coisa é que parte das pessoas que usam esses aplicativos está buscando um relacionamento casual e a questão do encontro casual se torna preocupante quando aumenta a frequência que acontece com vários parceiros. Quanto maior o número de contatos, maior a probabilidade de se infectar. E não é preciso ter uma relação sexual para pegar o vírus.”
Oliveira Junior diz que é difícil estabelecer formas para evitar o vírus nesse tipo de contato. “Teria de reduzir o número de pessoas com quem elas ficam. O jovem sabe que a chance de ter a forma grave é pequena, mas eles têm contatos com os pais, avós e pessoas que, mesmo não sendo idosas, podem ser vulneráveis, como quem tem doenças crônicas. É muito importante a gente passar a mensagem de que a pandemia não acabou e, se pode dar uma flexibilizada hoje, é porque houve um cuidado. Se não tiver esse comedimento nesse retorno, vai ter de retroagir em poucas semanas.”