Youtuber mirim do DF faz sucesso ao dar visibilidade ao nanismo
MC Divertida tem 11 anos, 7 milhões de seguidores no Youtube e, para ter o próprio canal, ensinou os pais a lidarem com os haters
atualizado
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Por muito tempo, a relação de aprendizado entre adultos e crianças seguiu um fluxo unilateral: aos mais experientes, cabia ensinar; aos pequenos, aprender. Felizmente, os tempos têm mudado e as crianças vem conquistando mais autonomia. Ganham os adultos, que reconhecem a importância de aprender com suas visões de mundo, bagagem afetivas e capacidade de solucionar problemas de forma simples, como quem monta e desmonta um quebra-cabeças de poucas peças.
Foi assim com Maria Clara Fernandes, mais conhecida como MC Divertida. A influenciadora brasiliense, de 11 anos, conseguiu convencer os pais a ter um canal no YouTube — hoje com 7 milhões de seguidores — em 2018. O pedido era recorrente desde os 5 anos, mas os pais, Claudiene Santana e Leonardo Fernandes, tinham vários receios, além de não se considerarem experts em redes sociais.
Decidida, MC os ajudou a enfrentar todos os desafios que surgiram pelo caminho — da falta de intimidade e desenvoltura nas redes sociais às ofensas dos haters. O último, inclusive, era um dos maiores medos dos genitores.
Eles temiam que pessoas preconceituosas se aproveitassem do anonimato favorecido pelas telas para promover discursos de ódio e ofender a MC, que tem nanismo. A proteção é justificável mas, logo no primeiro ataque, Maria propôs uma solução inteligente. “Falei pra mamãe para gente rezar para ele”, conta a menina.
“Sempre tivemos medo e sabíamos que eles iam chegar. Quando recebemos o primeiro comentário ruim, ela estava ao meu lado e viu. Pensei: ‘Poxa, e agora, o que eu faço?’. Para minha surpresa, ela disse exatamente isso: ‘Mamãe, não fica chateada, vamos só rezar por essa pessoa, para que ela não tenha essa coisa ruim no coração. Hoje, não conseguimos responder todas as mensagens, nem mesmo as positivas’”, lembra Claudiene.
Os pais contam que a reação da filha fez com que eles refletissem melhor sobre os comentários, na maioria das vezes deixados por outras crianças.
“Ponderamos várias coisas. A criança pode estar ali, na internet, vendo uma menina feliz, saudável, amada pelos pais, brincando com eles no vídeo e, de repente, ela não tem nada disso. Por isso, durante um tempo, até respondíamos, carinhosamente, desejando que ele tivesse um bom dia e que ‘papai do céu’ o protegesse. Alguns até pediam desculpa e diziam que um primo havia mandado a mensagem, que amavam a Maria Clara”, relata Claudiene.
Apesar disso, a mãe calcula que 95% das mensagens que a filha recebe são positivas. Foi a partir de algumas delas que o casal pôde compreender a proporção que o hobby estava tomando e das escolhas que teriam de fazer. Como a de darem uma pausa em suas carreiras para se dedicarem ao canal.
Na época, Leonardo havia deixado o emprego de bancário há pouco tempo e Claudiene teve de pedir uma licença não-remunerada no cargo público que ocupa. “É muito difícil, porém, também é a parte mais legal: quantos pais têm a oportunidade de estar com os filhos, todos os dias, em tempo integral?”, pontua Leonardo. “Quando vemos ela feliz e lemos os feedbacks, percebemos que tudo valeu a pena”, completa a mãe.
Visibilidade espontânea
Até o momento, Maria Clara não gravou vídeos abordando a temática do nanismo. Apesar de participarem de lives sobre o tema, os pais preferem que a iniciativa de fazer algo a respeito seja dela, caso a vontade surja no futuro.
Ainda assim, muitas pessoas com a mesma condição genética se sentem tocadas pelos vídeos e enviam mensagens inspiradoras. A youtuber mirim ama recebê-los. “Eu fico muito feliz”, responde, tímida, MC Divertida.
“Não vamos tornar isso uma obrigação para ela, de jeito nenhum. O que ela faz já promove visibilidade, recebemos mensagens de pessoas com nanismo dizendo que só de seguirem e assistirem aos vídeos passaram a se sentir representadas. A MC tem uma vida normal, como a de qualquer criança, e mostrar isso é muito importante”, destaca a funcionária pública.
Papais nas redes sociais
A máxima de que os filhos devem seguir os passos dos pais e não o contrário já foi superada pela família. Inspirados por MC, os dois criaram um canal recentemente, onde mãe, pai e os tios da pequena se divertem com vídeos bem-humorados, que vez ou outra contam com a participação da menina. “No começo, não aparecíamos nem nos vídeos dela. Um dia, ela falou: ‘Pai, hoje vou precisar que você apareça’. Começamos aos poucos, era muito difícil, mas gostamos e virou um desafio”, diz Leonardo.
Por esse e tantos outros aprendizados, o casal descreve a convivência com a menina como “alegria e aprendizado constantes”. “Sermos pais da Maria Clara é sentir essa presença de Deus todo dia”, diz Clau. “Ela veio pra mudar muita coisa em nossa vida, para muito além dessa questão das redes sociais. Desde novinha se importa com os outros, chora se vê alguém com necessidade. Graças a ela, também aprendemos a ter esse olhar”, conclui o pai coruja.
