“WhatsApp é grande vilão em casos de traição”, diz detetive particular
A infidelidade não é novidade para ninguém, mas as redes sociais a tornaram ainda mais acessível e aumentaram a busca por investigadores
atualizado
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Já diria Marília Mendonça: “Iêê / Infiel / Eu quero ver você morar num motel / Estou te expulsando do meu coração / Assuma as consequências dessa traição”. A infidelidade dentro de relacionamentos não é algo novo, mas nunca foi tão fácil “pular a cerca” e, por isso, a procura por profissionais para identificar casos de adultério tem crescido, especialmente na era das redes sociais.
Uma das principais influências nesse aumento de demanda é exatamente a popularidade dessas mídias, nas quais é possível trocar mensagens e likes, o que pode facilmente levantar suspeitas sobre parceiros e parceiras. Plataformas como WhatsApp, Tinder e Instagram são as que causam maior desconfiança, segundo investigadores particulares de Brasília.
Detetive privado há mais de uma década, Sérgio Barros afirma que muitas pessoas o procuram por causa de alguma suspeita relacionada ao WhatsApp e demais redes. “Hoje em dia, cerca de 70% dos casais têm o smartphone bloqueado, e isso automaticamente cria desconfiança – porque, se há senha, deve ter algo que um não quer revelar ao outro. Esse fato gera perturbação até a pessoa vir contratar o detetive particular. O WhatsApp é o principal vilão, na minha opinião”, esclarece o profissional, à frente do Departamento de Investigação Particular (DPI).
Com quase duas décadas de profissão, o detetive Júnior Monteiro percebe o mesmo padrão. “As redes sociais tiveram um grande impacto na profissão porque as plataformas digitais facilitam a pulada de cerca. Com toda essa conectividade e a exposição visual das pessoas, há mais desconfiança”, argumenta.
As pequenas atitudes são essenciais para despertar a curiosidade. Um dos casos que Sérgio destaca é o de uma cliente que, ao suspeitar da traição do marido, começou a acompanhar cada ação dele no Instagram.
Ele curtia e comentava todas as fotos da suposta amante na plataforma. Ela instalou uma escuta no carro do companheiro e, assim, descobriu que realmente estava sendo traída. Através dos detalhes é possível descobrir as coisas grandes
Sérgio Barros
Quem mais procura o serviço, segundo o investigador Barros, são as mulheres (entre 55% e 60% do total), e a faixa etária mais comum entre os clientes é de 28 a 50 anos. Ele ainda afirma que, muitas vezes, as pessoas já sabem que estão sendo traídas, mas desejam provas, seja para expor à família e mostrar o que deu errado no relacionamento ou para conseguir benefícios no processo de divórcio. Em 70% dos casos, a traição é confirmada, diz o profissional. “Cerca de apenas 3% se separam após o flagrante”, diz Monteiro.
Outro grupo que usa e abusa do serviço é formado por pessoas prestes a casar e noivar. “Geralmente são pessoas de alto poder aquisitivo que querem confirmar a fidelidade do parceiro ou da parceira antes de firmar um compromisso a longo prazo”, aponta Sérgio. O valor médio de um pacote de 10 dias de investigação varia de R$ 5 mil a R$ 10 mil.
Flagrantes, confrontos e sigilo
Uma das atitudes mais comuns, de acordo com Barros, é confrontar o outro antes de buscar a investigação profissional. Para o especialista, a iniciativa atrapalha em vez de ajudar. “Ao questionar, você alerta o investigado, ele vai ficar mais cauteloso e será mais difícil flagrá-lo”, aconselha.
Outra questão importante levantada pelo detetive é que, apesar de o WhatsApp ser a grande fagulha das desconfianças, é impossível ter acesso às mensagens compartilhadas na rede social, a menos que os clientes tenham acesso aos aparelhos físicos utilizados pelos investigados. “As conversas são criptografadas. Uma alternativa cada vez mais comum é o cliente presentear o parceiro ou a parceira com um novo celular e enviar o item antigo para ser totalmente vasculhado”, revela.
Traição e fama
E se é difícil lidar com uma traição sendo apenas um “civil”, imagina quando se é famoso e possui milhares de seguidores? No começo do ano, uma crise que balançou o entretenimento brasileiro tinha a ver com um escândalo de traição. José Loreto foi acusado de ser infiel à esposa, Débora Nascimento. A situação teria sido descoberta pela atriz por meio de mensagens que o marido teria trocado com outras colegas da Globo.
E Loreto está longe de ser o único exposto pelo celular. O ex-marido de Khloé Kardashian, Lamar Odom, usava o telefone da assistente dele para entrar em contato com os affairs. Eventualmente, a influenciadora descobriu a infidelidade e se divorciou dele em 2013.
Outra personalidade que viveu o drama da traição foi Mileide Mihaile. Enquanto estava com Wesley Safadão, ela rastreou o celular do então companheiro. O que ela descobriu? Que o parceiro estava em um motel, acompanhado da amante na época e atual esposa, Thyane Dantas.
Por que as pessoas traem?
As redes sociais facilitaram tanto a traição que surgiram plataformas exclusivas para pessoas com a intenção de trair. É o caso do site Ashley Madison, que possui 60 milhões de cadastros e 8,9 milhões brasileiros associados. Segundo pesquisa da plataforma, 71% dos adúlteros afirmaram que o tédio em seu relacionamento os levou a trair. Ainda, mesmo que a infidelidade fosse descoberta, 67% apontam que continuariam a ter um caso. Para a maioria dos homens que responderam o questionamento, a emoção de estar com outras pessoas é o principal motivo da traição.
Apesar dos dados divulgados, o psicólogo e consultor em abordagem sistêmica Iuri Crema ressalta a importância de não generalizar pessoas ou relacionamentos. Na maioria dos casos, de acordo com o profissional, o que leva à infidelidade é um desequilíbrio entre o casal. “Talvez um dê mais do que recebe nas tarefas domésticas. A existência de muito ciúme também pode gerar um excesso de controle e sensação de pouca liberdade”, conta.
A partir disso, a dinâmica do par começa a gerar estresse e, consequentemente, leva à insatisfação e incerteza sobre a relação. “Quando alguém chega a esse ponto, mas não sabe como terminar – não tem confiança no que deseja ou se está preso a fatores de conforto, estabilidade e comodismo construídos no relacionamento –, pode surgir a abertura para experimentar outras aventuras. Se a pessoa vai buscar isso intencionalmente ou se ocorre em algum contexto oportuno, varia em cada caso”, aponta.
Pessoas que se sentem aprisionadas podem tender a encontrar escapes, mesmo que ainda estejam, ao menos oficialmente, dentro de um relacionamento. Parceiros escolhidos por motivos superficiais, como beleza, também não resistem bem ao passar do tempo
Iuri Crema
Caso o par decida se separar depois de uma traição, o término pode ser doloroso, mas é possível superá-lo. A dica de Iuri é se cercar de pessoas amorosas, como amigos e familiares, e respeitar o momento de luto pelo fim da relação. “Pode ser importante também, se o sofrimento ganhar uma proporção que pareça fugir do controle, procurar ajuda profissional qualificada”, reforça.
Outro conselho relevante é, depois do período de luto, não se apegar ao passado ou ao papel de vítima injustiçada. “Adotar uma postura de vingança e autodestruição pode ser uma tentativa de combater a dor com mais dor, o equivalente a tentar apagar um incêndio com mais gasolina.”