Tatuadoras sentem na pele o preconceito
Profissonais de Brasília ainda precisam provar que podem dividir espaço profissional com os homens e vencer as barreiras impostas pelo mercado, pela família
atualizado
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Elas entraram com tudo em uma profissão considerada masculina e estão mostrando que não estão para brincadeira. O trabalho das tatuadoras que atuam em Brasília é sério – e muito bom.
Dominando a arte e as agulhas, quatro profissionais que atendem em Brasília afirmam que a discriminação contra mulheres no ramo da tatuagem existe, sim. Por parte dos homens, familiares, companheiros de trabalho e até de outras mulheres.
Elas relatam que grande parte da culpa vem do próprio mercado. Capas de revistas de tatuagem trazem, na maioria das vezes, a figura de mulheres tatuadas sensualizando, com pouca ou nenhuma roupa. Outra reclamação: as convenções de tatuadores não dão muito espaço para tatuadoras, mas abusam do uso de mulheres seminuas como atrativo.
O Coletivo Mulherada é um grupo de mulheres do DF que busca fortalecer laços e propor espaços que deem voz e visibilidade ao trabalho feminino. Um levantamento, ainda não concluído, feito pelo grupo mostra que há dez anos era possível contar nos dedos as mulheres tatuadoras no DF.
Hoje, segundo elas, esse número chega a quase 30 profissionais, lembrando que também existem mulheres aprendizes. O número é incipiente quando comparado ao universo masculino. O Sindicato dos Tatuadores, no entanto, não tem dados oficiais sobre o mercado nem sobre a participação feminina.
Talentosas e com estilos bem diferentes entre si, Anninha, Narmada, Sindy e Gabriela relatam as dificuldades que enfrentam no dia a dia em Brasília, o amor pela arte e mostram que, hoje, as mulheres estão cada vez mais fortes no mundo da tatuagem.
Quem são elas
Anninha Tattoo, 30 anos, está no mercado há seis. Com uma agenda flexível, atende até três clientes por dia. Tem o estilo voltado para o cartoon, mas também adapta o traço para o gosto do cliente. Hoje com 35 tatuagens no corpo, ainda lembra da primeira, feita aos 18 anos, quando escolheu uma iguana para marcar na pele.
Narmada, 35 anos, decidiu fazer a sua primeira tatuagem aos 18. Escolheu uma rosa com tribal para ser feita no bíceps e ouviu que o local escolhido era de tatuagem masculina. Há 17 anos no mercado, trabalhou em diversos estúdios de Brasília e no México, seguindo o estilo indígena e polinésio. Atualmente, está de licença médica e não está atendendo.
Sindy Britto, 26 anos, é casada, mãe de dois filhos e tatuadora há sete anos. Começou a planejar sua primeira tattoo aos 18, mas só tirou os planos do papel aos 21. Hoje tem 36 desenhos pelo corpo. Seu estilo é o blackwork, uma linha nova de tatuagem feita basicamente com tinta preta, texturas, pontos e linhas e rachuras. Se solicitado pelo cliente, também trabalha com o colorido tradicional. Seus traços são finos e delicados. A tatuadora faz 18 tatuagens por semana.
Aos 17 anos, Gabriela Fune fez sua primeira tatuagem. Hoje, aos 23, já soma 24 tattoos. Trabalhando como tatuadora há quatro anos e meio, ela faz parte do VCT Estúdio e define seu estilo como blackwork, apesar de mudar conforme o que esteja pesquisando no momento. Gabriela cuida pessoalmente da sua agenda e o número de atendimentos varia de acordo com o tamanho do desenho a ser feito.
O Metrópoles pediu a cada uma das profissionais entrevistadas que criasse uma tatuagem inspirada na marca do portal, seguindo seu próprio estilo. Confira os resultados.