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Tânia Gori, bruxa brasileira ensina a ser uma feiticeira moderna

Responsável pela Convenção das Bruxas Brasileiras conta ao Metrópoles a rotina e dá dicas de poções e rituais

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1 de 1 abre_bruxaria - Foto: Stela Woo/Arte/Metrópoles

Você deve ter uma imagem mental quando se fala a palavra bruxa. Narigão, verruga e pele verde? Vassoura, varinha de condão e chapéu pontudo? Malévola ou as simpáticas feiticeiras do filme Abracadabra?

Elas existem desde que o mundo é mundo e estão presentes em diferentes fases da história da humanidade. Desde as celtas às perseguidas durante a inquisição, as bruxas vão se transformando com o tempo — talvez por isso tenham tido tantas identidades ao longo dos anos —, mas mantêm os mesmos conhecimentos.

As feitiçeiras modernas passam longe de qualquer estereótipo. Tânia Gori, 47 anos, é uma das mais importantes do Brasil. Idealizadora da Convenção das Bruxas, que acontece há 15 anos no interior de São Paulo, e da Casa de Bruxa, além de referência em universidades holísticas, a paulista é também escritora e criadora do método bruxaria natural.

Bisneta de ciganos, Tânia foi iniciada nas artes mágicas pela avó. Aprendeu tudo sobre tarô, as propriedades das ervas e os tipos de cristais. “A magia cigana é muito parecida com a da bruxaria, porém, necessita de uma tradição, que você participe de um clã. Minha avó fugiu depois de se apaixonar e nunca foi aceita de volta”, conta.

As maiores diferenças, explica, vêm das regiões originárias dos dois movimentos: enquanto os ciganos provêm da Romênia e da Espanha, a bruxaria vem da Inglaterra e do País de Gales, lugares onde viveram os celtas.

Tânia se encantou com a mágica e se pôs a estudar. Fez vários cursos e conheceu muita gente que compartilhava interesses em comum. Entretanto, só na década de 1980 percebeu como as ervas e os cristais de sua rotina tinham algum vínculo com a bruxaria e podiam ser identificados como tal. “Todas as pessoas são bruxas: algumas despertas e outras não”, afirma.

Nesse processo, a escritora aprendeu o significado de ser bruxa no mundo moderno. Segundo ela, a mulher sabe o que quer, tem foco, energia, está presente e sabe vigiar os próprios pensamentos.

“A bruxa entende que a magia é a arte da realização, sabe o vigor das ervas e dos cristais. Já sofremos muito preconceito. Hoje, as pessoas levam na linha do Harry Potter, associam tudo com ilusionismo, acham uma brincadeira. É deboche. Já escutei falarem: ‘você não é bruxa, anda de vassoura? Então, vira um sapo’. Trabalhamos com a energia da natureza”, diz.

Em 1996, Tânia percebeu que já estava preparada e devia passar para a frente todo o conhecimento acumulado. Alega fazer parte do significado de ser bruxa estar disposta a desabrochar e a despertar a consciência de uma nova vida em outras pessoas. Por isso, criou a Casa de Bruxa, em São Paulo. A primeira universidade holística do estado conta atualmente com mais de 150 cursos para qualquer pessoa com o objetivo de aprender desde bruxaria e astrologia a aromaterapia e massagens.

Arquivo Pessoal

A bruxa conta que 35 mil pessoas já passaram pela Casa. Além dos cursos, a população é atendida gratuitamente, são oferecidas palestras e uma “bruxoteca” com mais de dois mil volumes sobre o assunto, disponíveis a quem quiser estudar. E, em toda entrada de lua, a universidade celebra a mudança com um ritual para as pessoas entenderem como funciona. O objetivo é, de alguma forma, aplacar o preconceito.

No final das contas, segundo Tânia, ser bruxa é estar em contato com a natureza, mas o conhecimento de como transformar essa energia em ação era todo muito solto. Ela foi costurando o que aprendia para tornar disponíveis informações antiquíssimas, à beira da extinção. Chamou tudo de Bruxaria Natural — já são cinco livros publicados sobre o assunto. O mais recente será lançado na Bienal do Livro de São Paulo, no dia 8 de agosto. Todos os volumes contam, pouco a pouco, a história das antigas curandeiras e parteiras, como os antepassados trabalhavam, as funções das ervas e dos cristais.

Bruxas do mundo real
As bruxas modernas seguem fazendo poções e rituais, mas não exatamente o que o senso comum imagina. Sem ingredientes bizarros e caldeirões fumegantes cheios de misturas gosmentas, os feitiços se parecem muito com simpatias para Santo Antônio e as poções com chás fitoterápicos.

“As poções nada mais são que misturas de ervas, óleos essenciais e cristais para promover a abertura de caminhos para o amor e a prosperidade. A diferença entre um chá comum e uma poção é a sua intenção na hora de fazer a bebida. Ela determina a força”, explica Tânia. Além de chá, a mágica pode vir também em sucos, e é preciso prestar atenção até no corte das frutas para garantir a efetividade. Há também banhos mágicos e simpatias para atrair o objetivo, seja ele qual for.

A bruxa conta que são usados talismãs nos rituais: o pentagrama traz esperança de realização, a lua ajuda a despertar a intuição, o símbolo do sol é usado para a prosperidade e o coração, para o amor. É preciso ficar atento nas fases da lua para aproveitar completamente o ritual.

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Para Tânia, pessoalmente, a bruxaria não é uma religião. Existem vertentes (como a Wicca), que são crenças, mas a bruxaria natural, ela diz, é uma filosofia de vida. Não há dogmas ou crenças em seus ensinamentos. “A doutrina pode ser limitadora”, avalia.

Segundo a bruxa, com a modernidade e a vida nas cidades, nos afastamos da natureza e essa migração não levou à felicidade. “A doença do século é a depressão, as pessoas estão apavoradas. É preciso tomar consciência, seja por meio da bruxaria ou não, de que o contato com a natureza é importante. Abraçar uma árvore, andar descalço na terra, voltar a tomar chá e evitar remédios”, opina.

Convenção das Bruxas
Longe de Anjelica Huston e o filme que aterrorizava crianças na Sessão da Tarde, a Convenção das Bruxas do Brasil procura disponibilizar informação sobre os esotéricos do país para quem estiver aberto a escutar.

O evento nasceu de uma inquietação de Tânia e uma provocação de uma das alunas. A Vila de Paranapiacaba, no interior de São Paulo, precisava de um evento para chamar turistas, e o sonho de Tânia era montar um grande evento onde todas as tribos esotéricas se reunissem.

“Lotamos a cidade e conseguimos juntar wiccanos, xamãs, bruxas, ciganos, adeptos do vampirismo, seguidores dos celtas e muitas outras turmas para conversar sobre magia, sobre o lado positivo de tudo. É um evento familiar, sem brigas, que acontece em um final de semana superdivertido, onde todo mundo pode aprender”, conta a bruxa.

O evento é grande: na última edição, mais de 18 mil pessoas estiveram presentes. A Convenção, que completa 15 edições, recebe cerca de 300 atividades entre shows, rituais, apresentações de teatro,  dança e palestras. Sempre no mês de maio. Segundo o site do evento, é o mês da colheita do amor e dos objetivos palpáveis para os celtas; a época também representa a união do Deus e da Deusa, símbolo da fertilidade dos animais e colheita do próximo ano; e o mês de Santa Sarah, a protetora dos ciganos.

A próxima edição já tem data. Acontecerá entre os dias 17 e 19 de maio de 2019 com o tema “A Força do Rito”.

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