Conheça o herói Gabriel, símbolo da campanha #SomosTodosGigantes

Para quem pensou que o Homem de Ferro, personagem dos quadrinhos americanos da Marvel Comics, se escondia em Long Island‎ (Nova York), enganou-se. Na verdade, ele mora em Goiânia (GO), chama-se Gabriel Yamin Nogueira e, com apenas 10 anos, já travou grandes lutas. A batalha do garoto, no entanto, não é contra o Mandarim (arqui-inimigo do herói dos gibis), e sim contra o preconceito.

Diagnosticado com acondroplasia, forma mais comum de nanismo, Gabriel tem 1,22m de altura, e é o protagonista da campanha “Somos Todos Gigantes”, que visa combater a intolerância contra quem é anão. O apelido de Homem de Ferro se deve aos 32 pinos e parafusos de titânio, além dos 12 anéis de fibra de carbono que ele tem nas duas pernas.

Em 6 de dezembro do ano passado, Gabriel foi submetido à primeira etapa do tratamento de alongamento e reconstrução óssea. O procedimento, realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, permite corrigir deformidades ósseas e aumentar em até 40cm a estatura de uma pessoa. A proposta pode englobar cinco procedimentos cirúrgicos para alcançar o sucesso esperado.

 

Grosso modo, a técnica consiste em cortes nos ossos da tíbia e do tornozelo. Pinos e parafusos fazem a ligação entre as áreas atingidas. Após um período de estimulação, o osso regenera-se, corrigindo, assim, o encurtamento dos membros inferiores.

O procedimento causa muito desconforto, mas não foi escolhido por Gabriel para responder às preocupações estéticas. Na verdade, a busca pelo tratamento se deu em uma tentativa de facilitar sua vida no futuro.

“O Biel percebeu que teria dificuldades para pegar um produto nas prateleiras do mercado ou usar caixas eletrônicos. Mesmo sabendo da dor, ele quis fazer o alongamento”, explicou Juliana Yamin, 41, mãe da criança.

Durante a gravidez, Juliana ouviu de um médico que o seu bebê nasceria completamente deformado e anão. O desespero tomou conta da mãe. “Conversei com Deus e o ouvi falar: ‘Não te dei uma opção, te dei uma benção’. Nesse momento, parei de fazer questionamentos e pedi apenas uma coisa: ‘Que Deus me desse sabedoria para fazer o Biel feliz’”, recorda-se.

 

As deformidades diagnosticadas pelo médico não se concretizaram. Gabriel nasceu em 21 de novembro de 2006 com 49 cm e pesando cerca de 4kg. O parto não teve complicações. O nanismo, contudo, revelou-se aos três meses de idade quando os pais decidiram levá-lo a uma consulta com um geneticista em São Paulo. Ao completar seis anos, Biel se deu conta de que sofria uma deficiência física — em 2004, o nanismo foi reconhecido como deficiência física no Brasil.

O nanismo é resultado de uma alteração genética e não, necessariamente, precisa ser hereditária. Os irmãos de Gabriel – Laura e Fernando –, por exemplo, nasceram com a estatura correspondente às suas idades.

 

Para revelar ao filho os detalhes sobre o nanismo, Juliana se preparou desde a gravidez. Durante a conversa, o pai, Marlos Nogueira, 41, não conseguiu falar, apenas chorou. “A gente via nos olhinhos do Gabriel que ele entendia que era algo definitivo. Também foi uma situação difícil para o Marlos. Depois, ele escreveu uma carta para o nosso filho”, contou a empresária.

O texto feito pelo advogado, intitulado “Carta para um Gigante”, se transformou no vídeo da ação “Somos Todos Gigantes”. “Meu tamanho te incomoda? Na verdade, o que me incomoda é o seu preconceito, mas não tem problema, juntos, somos todos gigantes”, diz o estudante na gravação.

A campanha ganhou repercussão no país em 30 de setembro de 2015, quando um grupo no Facebook se uniu para a aprovação do projeto de lei que instituiu o Dia Nacional do Combate ao Preconceito às Pessoas com Nanismo, proposto pelo senador Romário (PSB-RJ).

Juliana e Marlon faziam parte desse coletivo e resolveram dar fermento ao projeto. Eles, então, criaram um espaço de discussão e de transmissão de informações sobre o nanismo.

Atualmente, a página “Somos Todos Gigantes”, no Facebook, conta com cerca de 6,7 mil curtidas. A história de Gabriel conquistou gente de todo o Brasil e, durante o tempo em que ficou internado no Albert Eistein, em São Paulo, para se recuperar da cirurgia de alongamento, o garoto recebeu até a visita do ginasta e medalhista olímpico Diego Hypólito.

Para a família, essa é apenas uma fase da vida de quem coleciona notas altas no colégio, aprendeu a escrever aos três anos e sonha cursar engenharia mecatrônica no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA.