Setembro Amarelo: saúde mental de adolescentes demanda cuidados
Levantamento indicou que o suicídio é a terceira causa de morte entre os jovens com idade entre 15 e 19 anos. Saiba como procurar ajuda
atualizado
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Não apenas em setembro, mas especialmente este mês, a prevenção à vida deveria ser um assunto discutido sem tabus. Dados analisados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram que acontecem mais mortes por suicídio que por HIV, malária e câncer de mama no mundo. Entre os jovens, os números são ainda mais alarmantes.
Em 2019, por exemplo, foi a quarta causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Reduzindo a janela da idade para 15 a 19 anos, o suicídio foi a terceira causa de morte, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Os números comprovam a urgência de levar o debate para além da campanha do Setembro Amarelo, conhecida por lançar luz sobre a saúde mental.
“As pessoas tendem a tratar o suicídio como uma doença e só falam no assunto quando artistas morrem, mas esse é um problema que acontece todo dia, com todo tipo pessoa”, afirma o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Christian Dunker.
Com políticas de prevenção pouco eficazes, o profissional explica que os tratamentos são abordados de forma errônea. “A baixa eficácia se dá justamente por confundi-las com o tratamento de outros distúrbios, como a depressão, dificultando a identificação de um possível suicida e evitando a tragédia”, esclarece.
Dunker ressalta que, em algumas regiões do mundo, o suicídio se torna a segunda causa de morte entre aqueles que têm idade entre 15 e 24 anos, perdendo apenas para acidentes de trânsito e mortes violentas.
“Vemos muitos jovens se sentido pressionados por questões que, na maioria das vezes, são os adultos que passam a eles”, acredita. “Passar no vestibular, a escolha da profissão, a construção de uma carreira, a construção de uma família… Tudo isso são fatores que estimulam uma pressão interna nesse adolescente que pode ou não externalizar seu sofrimento e acabar imerso em uma depressão”, alerta.
A psicóloga e professora do CEUB Ciomara Schneider aponta que as mudanças causadas pela pandemia também agravaram o cenário de insegurança. “Aumentaram os casos de ansiedade e depressão, somadas a sensação de perda de uma fase importante da vida. Os adolescentes passaram praticamente os dois últimos anos do colégio longe da escola e dos amigos”, salienta.
As redes sociais e saúde mental
Dunker ainda enumera mais um fator de risco: o intenso uso das redes sociais. Especialistas já sugerem que a conexão on-line, aplicativos de compartilhamento de fotos e vídeos e o uso do celular são fatores que agravam o adoecimento mental.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os transtornos mentais estão associados a aproximadamente 96,8% dos cerca de 12 mil casos anuais de suicídio ocorridos no Brasil.
Alerta
De acordo com Dunker, todo suicídio é premeditado de sinais anteriores que podem ser observados por quem convive com essa pessoa. “Muitas vezes, esses sinais são ignorados por serem confundidos com situações da adolescência ou até mesmo interpretados como ‘frescura'”, reitera o especialista.
Entre os sinais, ele elenca:
- Observe a maneira como a pessoa se interpreta e interpreta regras sociais;
- Veja como ela se enxerga dentro daquela cultura e sociedade;
- Fique atento à disposição desse individuo em se colocar em situações de risco ou perigosas;
- Fique alerta para a casualidade de acidentes e machucados, que se tornam repetitivos.
Além desses conselhos, Dunker defende que é importante reparar os períodos em que há uma aparente melhora. De acordo com ele, nesse processo de reconstrução, há novos obstáculos.
“A situação mais crítica não é quando eles estão totalmente deprimidos e recusando alimentação. O problema é quando eles estão saindo da depressão, recuperando suas energias e voltando à vida”, alerta.
Por fim, esteja aberto e escute quem demanda a sua atenção. De acordo com o Centro de Valorização à Vida (CVV), esse pode ser o meio mais eficaz para evitar que alguém tire a própria vida. “As pessoas nos ligam só para conversar e desabafar, isso já pode ser suficiente para que ela mude de ideia em relação à própria vida”, afirma Leila Heredia, voluntária e porta voz do CVV em Brasília.
Realizando um trabalho voluntário a mais de 60 anos, o CVV é uma das principais plataformas no combate ao suicídio. De acordo com Heredia, são cerca de 4 mil voluntários no atendimento de quase 3 milhões de atendimentos por ano.
Busque ajuda
O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.
Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
O que fazer?
- Especialistas indicam que, em caso de insegurança ou de crises, conversar sobre o que te aflige é essencial. Se sentir confortável, desabafe com alguém de confiança;
- Ligue no Disque 188 e fale com um dos profissionais do CVV;
- Se não quiser falar, o Centro de Valorização à Vida também recebe e-mails e mensagens;
- Procure ajuda profissional.
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, atendendo em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Disque 188
A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.
Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem 24 horas por dia a quem precisa.