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Sem traumas! Como evitar que a crise política acabe com a sua saúde mental

Fontes ouvidas pelo Metrópoles apontam que pandemia e cenário político estão causando uma espécie de trauma generalizado na população

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Camila Quintero Franco/Unsplash
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1 de 1 saúde mental - Foto: Camila Quintero Franco/Unsplash

Antes mesmo do início da pandemia do coronavírus, a brasiliense Bárbara Madureira, 29 anos, percebeu que seu comportamento mudava sempre que era exposta a notícias envolvendo a crise política. Com o avanço da doença no Brasil, os sentimentos de angústia, ansiedade e medo se agravaram. “Tenho que me manter informada, por causa do trabalho. Mas passei a ficar nervosa, enjoada, com insônia. Também sentia muita vontade de chorar”, lembra.

O mesmo aconteceu com a funcionária da Câmara dos Deputados Maria*, de 25 anos. “As notícias chegam muito rápido, é impossível se blindar. Eu já estava acostumada com esse ritmo, mas, com a Covid-19, ficou mais difícil. Tenho familiares na área de saúde e sinto que estamos muito perdidos. Recentemente, tive minha primeira crise de ansiedade”, relatou a estudante de direito, que pediu para ter seu nome preservado para evitar retaliações no trabalho.

“Atentado à saúde mental”

O fenômeno mencionado pelas fontes ouvidas pelo Metrópoles já é observado por profissionais de saúde em clínicas e rodas de conversa. Segundo o psicanalista e professor titular da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, essa exacerbação de sentimentos como pânico e ansiedade são estudados com ênfase desde as polarizadas eleições de 2018.

“O contexto de violência política — com as eleições marcadas pelo atentado ao então candidato Jair Bolsonaro, a proliferação de notícias falsas pelo WhatsApp, rompimentos familiares e casos de agressões — e os recentes discursos sobre a crise de saúde ativam modalidades de sofrimento que já estão presentes nas pessoas”, explica o psicanalista.

Para o professor, a combinação de informações sobre política, corrupção e pandemia se tornam um “verdadeiro atentado à saúde mental dos brasileiros”.

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“A maneira como a gente interpreta o coletivo nos afeta profundamente de forma individual. Se há uma percepção de que, no futuro, pessoas próximas possam ser excluídas do trabalho, do estudo, de bens simbólicos, sua perspectiva muda no presente. E isso é muito afetado pelo discurso bolsonarista, que ameaça o futuro de muitos, em detrimento de poucos”, pondera Ducker.

Efeitos

É fato que as particularidades do novo coronavírus interferem de maneira única no bem-estar geral. Embora seja difícil dizer, com precisão, como será o mundo pós-pandemia, estudos e experiências internacionais ajudam prever alguns efeitos a longo prazo.

Entre 2002 e 2003, um tipo de coronavírus provocou pânico no mundo e registrou 800 mortes pela síndrome respiratória aguda grave (Sars). Quatro anos depois, 42% dos sobreviventes haviam desenvolvido algum transtorno mental. A maioria deles (54,5%) manifestou transtorno de estresse pós-traumático, e 39% tiveram depressão, de acordo com um estudo publicado em 2014 na revista especializada East Asian Arch Psychiatry.

Em Wuhan, epicentro da Covid-19, as buscas por atendimento especializado também aumentaram. Um cenário que também se repete na Itália, onde  32 mil pessoas já morreram em decorrência do vírus.

O psicólogo e psicanalista Francisco Nogueira concorda que o “trauma” pode ser mais grave no Brasil, à medida que o chefe do executivo minimiza a dimensão dos fatos e o sofrimento que milhares de famílias já experimentaram em decorrência da doença. Ele é diretor do projeto Experiência de Escuta Covid-19, uma rede solidária que busca dar suporte emocional a quem se sente afetado pela situação precisa de suporte.

“Viemos acompanhando as questões políticas por causa do nosso trabalho. Nas primeiras semanas da quarentena as pessoas estavam muito ansiosas e tivemos bastante procura pelos profissionais do projeto. Mas a cada nova polêmica, declaração do presidente, o número de desistências aumentava. Um tempo depois, os agendamentos dobravam de novo”, relata o profissional.

Para ele, essa observação ajuda a entender o impacto que as informações desencontradas de eventos políticos têm sobre o psicológico das pessoas. E terá, mesmo após o cenário de pandemia cessar.

Sensação de insegurança

Francisco acredita que “as pessoas não estão preparadas para o ‘novo normal’” e que casos de Burnout, estresse e síndrome do pânico serão mais frequentes.

“Conforme a pandemia avança e pessoas de círculos mais próximos começam a falecer, a gente percebe um aumento nos relatos de medo. E esse sentimento é acentuado quando você liga a tevê, assiste a uma notícia e se dá conta de que esse problema, que deveria ser resolvido de forma técnica e científica, está no campo ideológico. Isso aumenta a sensação de insegurança”, analisa.

O profissional também diz que esse contexto, somado às medidas de isolamento, geram aumento nos casos de depressão, alcoolismo, dependência de drogas e violência no ambiente familiar.

“Estamos vivendo um fenômeno da saturação. Antes, se tínhamos um estresse em casa, íamos para o trabalho. Quando nos sentíamos sobrecarregados, voltávamos para casa, íamos à praia, saíamos com os amigos. Perdemos essa válvula de escape e somos panelas de pressão ligadas no fogo máximo. Muitas vezes descarregamos de formas violentas”.

Francisco Nogueira, psicólogo e psicanalista do projeto Experiência de Escuta Covid-19

Na explicação de Silvia Nogueira, membro do Instituto Sedes Sapientiae, referência em saúde mental, buscar ajuda profissional é a melhor saída. “Estamos diante de um momento muito difícil, em que o risco de morte é palpável e tudo que é dito, sobretudo por pessoas que têm um discurso capaz de impactar pessoas, ganha muita importância”, justifica.

“Quando o presidente Bolsonaro ignora as medidas de proteção a um vírus que não tem como controlar, a não ser ficando em casa, quando fala em liberação das armas, se posiciona sobre casos de repercussão, como o assassinato de jovens, faz apologia à tortura, tuo isso produz uma vertigem coletiva, que também causa uma perplexidade coletiva”, acrescenta.

Autocuidado e ajuda

As fontes cujos relatos constam no início da matéria têm conseguido superar os quadros de ansiedade com acompanhamento psicológico e exposição reduzida a informações. Atitudes que os especialistas consideram válidas.

“Tenho passado para as pessoas uma ferramenta simples. Pegar uma folha A4, dobrar no meio, escrever o sinal de positivo de um lado e negativo no outro. E anotar, ao longo dos dias, quais são as ações que fazem bem e as que causam angústia. Depois disso, muita gente passou a definir horários específicos para ler notícias sobre o tema”, exemplifica Francisco.

O momento também é propício para exercitar o autocuidado. “Estamos nos cobrando muito. Várias pessoas, por exemplo, estão em casa, trabalhando excessivamente para produzir como no escritório. Mas a casa exige cuidados, inclusive com os filhos. Portanto, é essencial se perdoar nesse momento, e aplicar os sentimentos gerados a partir dessa situação em algo que promova bem-estar, como ajudar alguém que precisa”, sugere o profissional

É justamente o que tem feito os profissionais da área de saúde mental. Francisco, à frente do Experiência de Escuta, e Silvia, do Escuta Sedes. Ambas as iniciativas visam ampliar o acesso a profissionais de saúde por meio de atendimentos e rodas de conversa, realizadas on-line, pelo menos enquanto durar as medidas de restrição à circulação de pessoas.

 

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No Experiência de Escuta, é possível agendar um horário para conversar com um dos psicólogos e psiquiatras cadastrados por 30 minutos. A sessão é totalmente gratuita.

Já o Escuta Sedes aborda as crises políticas e do coronavírus em rodas de conversa gratuitas e comandadas por psicanalistas. “Nesse espaço, temos incentivado as pessoas a aproveitar o distanciamento social para se ocupar doando alimentos a quem precisa, fazendo uma horta, cozinhando algo, distribuindo em potinhos para presentear os vizinhos. Ativando outras formas de interação social”, complementa a profissional.

A psicanalista também aconselha o consumo de entretenimento. “Se possível, escutar menos falas oficiais e mais artistas.Inclusive sobre a crise políica. A arte é um dos meios de respirar em meio a esse susto todo”, conclui.

 

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Para trazer um respiro e beleza para essa quarentena (para quem pode ficar em casa), a colunista d’AzMina Luísa Toller reuniu amigos músicos e cantores para compor e gravar (cada um da sua casa) um samba. Cantaram: Anita Galvão Bueno André Bordinhon Bruna Alimonda Bruna Lucchesi Bruna Nunes Damião Mamede Florêncio Daniel Minchoni Henrique Cartaxo Felipe Bemol Fernanda Guimarães Luísa Toller Mara Braga Marcos Mesquita Mariana Furquim Marina Santana Mônica Fogaça Murilo Gil Paola Gibram Raíça Augusto Ritamaria Rodrigo Travitzki Rogério Santos Thais Sanchez Valéria Kimachi Vanessa Longoni Victor Kinjo Violões: André Bordinhon Gustavo de Medeiros Viola: Catarina Schmitt Clariente: Sergio Wontroba Flauta: Marina Bastos Pandeiro: Jaír Junior Tamborim: Daniel Carezzato Panela Cínica: Thiago Melo Intérprete Libras: Leonardo Castilho Composição: Luísa Toller, Gustavo de Medeiros e Henrique Cartaxo Produção Musical e Mix: João Antunes Edição do Vídeo: Henrique Cartaxo Créditos: https://youtu.be/fI9RWKZUSYs

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