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“Sem desespero. Sobrevivi à Covid-19 na China”, diz brasiliense

Professora brasiliense radicada na China afirma que país vive dias de esperança após ser epicentro da pandemia do novo coronavírus

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Arquivo pessoal
Jakeline Nunes
1 de 1 Jakeline Nunes - Foto: Arquivo pessoal

Desconhecido há poucos meses, o novo coronavírus fez vítimas em todo o mundo e levou bilhões de pessoas a se isolarem em casa. A população brasileira, como tantas outras, vive um clima de incerteza e dor. Sufocados entre o medo de morrer ou de perder alguém, muitos não enxergam o fim de uma das crises de saúde mais graves da história. Vem da China, epicentro da Covid-19 e onde foram registrados os primeiros casos, uma mensagem de esperança.

Radicada no país há mais de um ano, a professora universitária brasiliense Jakeline Nunes vivenciou as sensações que, agora, assombram o ocidente. As primeiras notícias sobre o coronavírus surgiram no fim de janeiro, mas ela só tomou dimensão do tsunami emocional que viveria quando as comemorações do Ano-Novo chinês foram canceladas.

“De um dia para o outro, estações de trem, aeroportos, estradas, excursões, lugares turísticos, hotéis, pousadas e até reservas por aplicativo de compartilhamento de hospedagem estavam suspensas em toda China”, recorda.

O isolamento social causou um choque de realidade. “Aqui, uma situação assim é inimaginável, porque a China é sinônimo de movimento. É possível atravessar o país em cerca de 12 horas a bordo de um trem bala. E ser impedida de me deslocar me deixou apreensiva”, relembra a jovem, mestre em Letras e Tradução pela Universidade de Brasília.

Ela mudou-se para o Distrito de Chongqing em março do ano passado, encantada com a chance de ensinar português a estudantes locais. Há dois meses, o faz de forma on-line, depois de ver o local onde mora virar uma “cidade fantasma”.

Saúde mental

O vazio nas ruas, porém, não a assustou, pelo contrário. “As rígidas regras de confinamento na quarentena controlavam a saída e entrada não só dos serviços essenciais quanto nas entradas e saídas de bairros, comunidades e condomínios. Isso trouxe uma sensação de segurança muito grande”, conta.

Quadras, jardins e pistas de corrida ficaram vazios. Supermercados, idem. Farmácias tinham acesso controlado. E famílias viram suas rotinas mudar drasticamente.

“Não há como passar ilesa a essa sensação de que você não pode mais ter a sua rotina. Aquele cotidiano, além de suspenso, não voltará a ser como era”, diz. Depois de um malabarismo para manter a saúde mental na quarentena, a professora tem usado as redes sociais, como o Instagram, para passar mensagens otimistas a quem vive do lado de cá dos trópicos.

“Tive todas as fases de ansiedade, como ficar neurótica com lavagem e higienização de tudo o que chegava da rua, ter estafa de tanto ler informações diferentes, brigar contra fake news e ver meus planos alterados diariamente”, conta.

Jakeline Nunes
Professora brasiliense mora na China e manteve equilibrio em meio à pandemia

Em vez de confrontar os dados, a postura dela – e da maioria dos habitantes – foi de total respeito às novas regras estabelecidas. “Adaptar-se a isso foi algo fundamental para me manter nos eixos como forma de proteção e força para superar e viver no mundo em meio à Covid-19.”

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Manter a calma

Para tomar decisões adequadas, Jakeline Nunes disse que foi preciso manter a cabeça fria. Ela diz como: “avalie o que pode mudar por meio das atitudes diárias que envolvem se proteger, se higienizar da forma adequada e evitar aglomerações. Não é possível fazer muito além disso.”

Foram três meses em casa e sem ver nenhum amigo. Mas Jakeline agradece por pequenos momentos de alegria, como quando fez a brasileiríssima feijoada em território chinês.

Apesar de ser um momento de oportunidade para mudanças é, também, uma chance para descobrir quem somos e redefinir nossos interesses. E isso a gente só faz olhando para dentro, às vezes, no silêncio

Jakeline Nunes

A milhares de quilômetros de casa, “sem desespero”, como ela relata, Jake sobreviveu ao pior surto de uma doença em décadas. Passada a fase turbulenta, ela quer ser mensageira do otimismo.

O país oriental, aos poucos, se parece com o que era há alguns meses: “Agora, a China vive de forma bem plena essa primavera. As crianças voltaram aos parques e para as ruas, ocupando os espaços. Os centros comerciais e pontos turísticos estão reabertos.”

Algumas marcas da pandemia – e medidas sanitárias, como o álcool em gel disponíveis nas ruas – continuam, mas não parecem incomodar a quem sabe que dias melhores sempre virão. “Todos saem na rua de máscaras, alguns até de luvas. Parece que tudo vai bem neste ‘novo normal’ depois da pior fase da Covid-19”, pondera.

Situação atual

Até esse sábado (11/04), a China contabilizava 3.340 mortes em decorrência do novo coronavírus. Mais de 80 mil casos foram confirmados e 77 mil pessoas receberam o diagnóstico de cura. Aos poucos, o país volta à normalidade.

Em Wuhan, onde foi registrado o primeiros casos, o fim da quarentena ocorreu em 8 de abril, mas diversos serviços continuam fechados, e aglomerações continuam desaconselhadas.

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