Sem barraco on-line! Como superar o término na era das redes sociais
Excluir o ex, atualizar status e varrer lembranças dos álbuns. Especialistas dão dicas para superar o fim do relacionamento com dignidade
atualizado
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De repente, o carinho diminui. A euforia e o desejo dos primeiros meses dão lugar a desencontros e brigas. Até que um dia, de forma traumática ou amigável, o relacionamento acaba. O mesmo, no entanto, não ocorre com os sentimentos. Eles permanecem ali e, muitas vezes, viram empecilhos para que as ambas as partes sigam em frente. Mas, como superá-los quando o(a) ex mantém-se ali, a um Instagram Stories de distância?
Estar cada vez mais conectado não ajuda quem sofre por amor, embora alguns aplicativos ajudem a fila a andar mais rápido. Nem precisa ter passado por essa fase para imaginar como pode ser tentador usá-los para seguir a rotina do outro, alfinetar a atual relação do(a) ex e prolongar o próprio sofrimento. O desenrolar da tríade Luana Piovani, Pedro Scooby e Anitta está aí para provar.
Apesar de não existir um manual de como agir nas redes sociais após o término, especialistas acreditam que evitar alguns comportamentos e ponderar outros pode ser interessante a quem precisa dar ou absorver um adeus.
Unfollow
Nenhum término é fácil, mas acompanhar a rotina do ex nas redes sociais pode dificultar (e muito!) as coisas. A decisão de manter ou não o outro digitalmente próximo é pessoal, mas psicólogos indicam desfazer o vínculo quando notícias a respeito do antigo amado despertarem ansiedade, tristeza e/ou comportamentos repetitivos.
Segundo a psicóloga Jandha Siqueira, o mais importante é manter a saúde mental. “Somos muito cobrados a ter maturidade nessa situação, mas o mais importante, nesse momento, é cuidar dos próprios sentimentos. Se o rompimento está doendo, não há porque manter o elo nas redes sociais”, avalia a especialista.
“Vemos o ex construindo novas histórias e relacionamentos, tendo comportamentos que não tinha quando estava namorando. Isso pode desencadear um sentimento de comparação, além de fazer quem está sofrendo questionar a história que construiu com a pessoa”, afirma Jandha. Ela chama atenção, ainda, para os aplicativos de mensagem. Quanto menor o vínculo, mais difícil fica enviar uma mensagem em um momento de fragilidade.
Professor da USP e autor do livro Relacionamento Amoroso, o psicólogo Ailton Amélio compartilha a mesma opinião, mas explica que o rompimento nas redes sociais não precisa parecer uma atitude agressiva. “Se couber, é possível dialogar com o ex e explicar que a atitude é temporária e tem o objetivo de facilitar as coisas para os dois”, sugere o profissional.
Há casos em que as soluções podem ser mais simples, porque ambas as partes se preservam. Nessas situações, alguns recursos oferecidos pelas redes sociais podem ajudar. O Instagram possibilita ocultar as publicações e Stories do outro. Basta ir no perfil da pessoa, clicar na opção seguir/seguindo e, em seguida, na opção silenciar e escolher o tipo de post que você não quer ver. No Facebook, basta “dar um tempo”. A opção aparece ao clicar a opção bloquear, justamente como alternativa para o rompimento definitivo.
Aliás, o recurso aparece automaticamente ao mudar o status de relacionamento associado ao perfil do outro.
Excluir os amigos do ex
É normal que, ao longo do relacionamento, os círculos de amizade se misturem. E após o término, como proceder? Manter a linha amigo(a) de todo mundo ou parar de se torturar com as notícias que chegam por meio dos feeds alheios? “É preciso fazer uma avaliação. Entender quem, de fato, virou amigo e com quem você conviveu por causa da relação”, explica Jandha Siqueira.
A decisão de manter a amizade com certas pessoas do círculo do ex também deve passar por uma honesta avaliação. “Muitas vezes, a decisão de acompanhar, comentar as fotos dos amigos em comum é uma tentativa de manter o elo com o afeto e ser visto por ele”, avalia.
Depois de separar o joio do trigo, vale a mesma reflexão sobre excluir o(a) ex. Se a conexão nas redes sociais fará você sofrer, com notícias que caem no seu colo, preserve a saúde mental e, se necessário, abra o diálogo. Amigos de verdade compreenderão.
Status e balada nos Stories
Não fazer nada no calor da emoção é regra de ouro e vale para praticamente qualquer caso. Por isso, pense bem antes de expor a nova fase – já pensou se o rompimento dura apenas alguns dias?
Para agir de maneira reservada no Facebook, antes de trocar seu status para solteiro, vá em suas configurações de privacidade e selecione a opção para a atualização do status aparecer para “somente eu”. Depois mude para “solteiro”. Ninguém vai perceber a alteração.
Esbanjar felicidade mostrando fotos em festas logo depois do término também é uma atitude um tanto questionável. Se a decisão de terminar foi unilateral, as publicações na balada de quem foi abandonado soarão fake. Além disso, é possível que a pessoa passe mais tempo elaborando histórias para o outro ver que preocupado em, de fato, seguir em frente.
Quem pediu pelo fim também deve refletir sobre a decisão de postar fotos e vídeos que possam machucar. Especialmente se a relação foi importante e o término é recente. “É preciso pesar o quanto me expor ou me recolher é importante para mim, quando eu sei que existe outra pessoa que está sofrendo, vivendo esse momento de uma forma diferente da minha”, afirma Jandha.
Para Ailton Melo, também vale avaliar se, apesar de ter tomado a iniciativa do rompimento, os registros felizes visam atingir o ex de alguma forma. “Se a resposta for positiva, é porque, de alguma forma, a pessoa que terminou não superou a relação.” Nesse caso, é hora de fazer uma reflexão no ambiente off-line.
Apagando as lembranças
Há alguns anos, bastava colocar as fotos e lembranças do “falecido(a)” em uma caixa e guardar no fundo de um armário. Na era das redes sociais, fica a dúvida: apagar ou não as fotos do ex? A resposta depende de como a pessoa avalia a ligação anterior e os sentimentos que mantém sobre a outra parte. Só não apague para atingir o ex. Você pode se arrepender depois.
“Tem gente que apaga para alfinetar, para a outra parte saber que o mundo foi comunicado sobre o fim da relação. Outras pessoas veem o feed do Instagram e o Facebook como um registro da própria vida. O mais interessante é questionar os sentimentos que são associados àquelas fotos: eu tenho orgulho daquela pessoa, dessa fase da minha vida?”.
Jandha Siqueira
No Insta, uma funcionalidade ajuda quem não tem certeza se quer apagar, pra sempre, o ex do feed. O recurso arquivar fica no mesmo menu da opção excluir. Já no Facebook, é possível limitar quem terá acesso às suas memórias com o antigo amor, configurando a privacidade das fotos que você postou. Se a imagem estiver no perfil de um amigo, é possível remover a marcação.
Seguindo em frente
Pode ser o que o momento de retomar o contato com a antiga paixão nunca chegue. E “tá tudo bem“. “Não precisa se cobrar para ser mais maduro(a) ou mais simpático (a). Se não estiver afim de reestabelecer contato, se respeite”, aconselha a terapeuta gestalt.
Quando encontrar o ex na vida real não for um problema, eventuais relatos sobre ele(a) não incomodarem mais e surgir a vontade de falar, mande um oi. “Se o clima estiver legal para os dois e houver espaço para uma amizade, faça”, recomenda a terapeuta.
Para chegar a essa parte do processo, no entanto, é necessário viver o luto do término e focar na premissa de que pontos finais podem ser o começo de algo novo – e melhor. “O mais importante é entrar em contato com você, se permitir ficar triste e não se preocupar com a imagem que vai passar para as outras pessoas”, finaliza Jandha.
Ailton também sugere consumir arte e dedicar-se a novas atividades. “Trabalhar a autoestima, recompor a rotina, projetos e planos. E lembrar que muito do que pensamos sobre o outro é uma construção do que a pessoa é, com o que nós projetamos a respeito dela”. Ou seja, mesmo que agora pareça extremamente improvável se apaixonar por outra pessoa, acredite, esse momento chegará um dia.
Se você não quiser passar por essa fase sozinho, procure um analista. Eles estão aí para ajudar nos ajudar superar a barra, praticar o autoconhecimento e partir para a próximo relacionamento sem traumas do passado.