Brasileiros vão aos EUA ter bebê e garantem cidadania americana
Bom sistema de saúde e incentivo ao parto normal, entre outros fatores, são atrativos para as futuras mães
atualizado
Compartilhar notícia
Karina Bacchi causou espanto nas redes sociais, no ano passado, ao anunciar os planos de realizar o parto do seu primeiro filho nos Estados Unidos. Para conseguir apoio no país estrangeiro, ela contactou a agência Ser Mamãe em Miami.
A empresa facilita o parto de mulheres de diversas nacionalidades nos Estados Unidos. Criada em 2015, a agência estima ter prestado serviços para 300 famílias nos últimos três anos. Eles dizem que o intuito não é promover imigração, apenas oferecer assistência de qualidade durante todo o procedimento. Mas, no processo, os bebês saem com passaporte americano.
Qualquer criança que nasce nos Estados Unidos tem direito à cidadania norte-americana. Segundo informações da Embaixada Americana no Brasil, na Lei de Imigração e Nacionalidade dos EUA não há inelegibilidade para gravidez ou intenção de ter bebê no país.
Entretanto, o viajante deve demonstrar que não pretende usar o visto de visitante para ficar permanentemente nos EUA e também precisa comprovar se tem dinheiro para arcar com os custos, incluindo médicos. O procedimento deve ser todo pago pela gestante, sem nenhum auxílio de benefícios do governo.
“Não existe nenhum veto legal capaz de proibir mulheres estrangeiras a darem à luz em solo americano”, explica Patrícia Zapponi, advogada especialista em direito internacional. Não há também um visto específico para parto. “Pode ser usado o de turismo, e o tempo de estadia local [seis meses] deve ser respeitado”, diz.
A advogada também recomenda honestidade na hora da imigração. “A mulher deve falar que está indo para o nascimento do bebê. É importante informar corretamente, para não surgir dúvida de fraude para ficar por lá”. Segundo Patrícia, países como Portugal, Argentina e Israel têm procedimentos para partos de estrangeiras parecidos com o americano.
“Notei os russos vindo aos Estados Unidos para terem filhos, e a prática também se tornou comum entre os latino-americanos. Então, para que as famílias de outros países tivessem acesso à informação sobre os médicos e a estrutura hospitalar [em Miami], decidi lançar o site”, afirma Wladimir Lorentz, pediatra brasileiro radicado em Miami, criador da agência.
No portal do Ser Mamãe em Miami, existem as informações dos “pacotes” oferecidos, que variam entre U$ 11 mil e U$ 18 mil – cerca de R$ 38 mil e R$ 63 mil –, dependendo do tipo e das circunstâncias do parto.
Na percepção do pediatra, o sistema americano de saúde e o baixo índice de cesáreas são grandes atrativos para as brasileiras. A gerente comercial Andrea Ravazzano, de 34 anos, explica que sua motivação foi outra. “Por muitos anos, tive agência de intercâmbio e via diferença de oportunidades para quem viajava com o passaporte brasileiro e para quem usava documentos de outros países”, conta.
Andrea descobriu a agência pelas redes sociais quando estava com 31 semanas de gestação. “Fiz as contas e vi que era possível. Não aguentei esperar, meu marido estava no estádio, vendo o jogo do time dele, e passamos a partida toda trocando mensagens, enquanto eu pesquisava mais detalhes. Quando ele chegou em casa, já estávamos decididos a embarcar nessa jornada”.
Um mês antes do parto, a gerente comercial partiu para os Estados Unidos acompanhada da cunhada e do marido. “A tensão maior era a tão temida imigração. Não estava fazendo nada de errado, mas nós, brasileiros, temos a ‘síndrome do patinho feio’ quando se trata disso”. Apesar do medo, não teve problemas para entrar no país e foi direto conhecer os médicos da agência. Deixou o procedimento agendado e optou pelo parto normal induzido, técnica que usa anestesia e provoca contrações e dilatação.
O pós-parto de Andrea foi complicado, mas ela afirma não ter voltado ao Brasil antes do previsto. “Estava programada para retornar quando Luca completasse 2 meses, mas muito ansiosa para que nossa família o conhecesse, porque ele é o primeiro neto dos meus pais”. A brasileira também viu benefícios em realizar o procedimento nos Estados Unidos por causa da equipe médica.
em seu Instagram. “Por Miami ser uma cidade muito latina, de certa forma, o calor humano é preservado. A grande diferença é a praticidade dos profissionais”, diz. Andrea passou a compartilhar sua experiência de parto no exterior
A jornalista e apresentadora Estefânia Farias, 37 anos, já tinha feito pesquisa para saber como realizar o parto em solo norte-americano. “Nosso intuito foi oferecer um futuro de mais possibilidades e oportunidades para nossa filha”, afirma. Orientados por um advogado de imigração e em contato com a agência Ser Mamãe em Miami, Estefânia e o companheiro embarcaram para os Estados Unidos quando ela estava grávida de 26 semanas.
“Na chegada ao aeroporto em Miami, eu e meu marido estávamos preparados com documentos para dizer que teríamos a bebê nos Estados Unidos com recursos próprios, mas ninguém questionou”, conta. O parto de Anne, primeira filha do casal, ocorreu em julho, e eles decidiram ficar no país por mais tempo, orientados por um profissional para residirem lá de forma legal. Estefânia, conhecida por apresentar o programa Vrum, do SBT, decidiu focar seu canal do YouTube.
“Se a gravidez está correndo bem e você pode arcar com os custos, é um maravilhoso projeto de vida”, recomenda. Estefânia e Andrea se encaixam no perfil das brasileiras que procuram a agência, de acordo com o médico Wladimir. “Possuem uma situação financeira confortável. São empresárias ou profissionais liberais com vidas estabelecidas na região de origem”.