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Sabe o que é queerbaiting? Entenda a estratégia polêmica de Hollywood

O artifício tem sido usado em produções que prometem uma representatividade LGBT, mas não oferecem tramas reais

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queerbaiting
1 de 1 queerbaiting - Foto: Gui Prímola / Metrópoles

Fãs de Star Wars ficaram eufóricos quando descobriram que um dos personagens mais queridos da trama ia aparecer no spin-off de Han Solo. Lando Calrissian já havia participado brevemente nos filmes O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi e agora ganhou um destaque um pouco maior no novo longa da franquia – especula-se, inclusive, uma produção inteira dedicada ele.

Durante uma entrevista para promover Solo, um repórter perguntou se Donald Glover, intérprete de Lando, sabia que seu personagem era pansexual – expressão usada para quem sente atração e interesse romântico em pessoas de forma geral, independente de gênero. Alden Ehrenreich e Emilia Clarke, outras estrelas do filme, reagiram com surpresa, pois não sabiam dessa informação.

A resposta afirmativa de Glover e a confirmação de um dos diretores a respeito da pansexualidade do personagem criaram polêmica sobre queerbaiting (isca gay, em tradução livre). Afinal, a orientação de Lando ficou restrita apenas aos bastidores e nunca chegou às telas. A expressão em inglês reúne as palavras “queer”, termo usado como guarda-chuva para identidades de gênero e orientações sexuais diferentes da normatividade, e “bait”, que significa isca. A estratégia visa atrair o público LGBTQ enquanto mantém uma audiência conservadora.

“Um exemplo simples é imaginar alguma série ou filme em que há uma tensão sexual ou romântica entre personagens do mesmo gênero de forma bem sutil. Assim, o público LGBTI+ percebe a possibilidade de haver representatividade ali, mas nada de fato acontece. Ilude um movimento carente de se ver nas telonas, sem ter um compromisso real com ela”, explica Larissa Andriolli, mestre em literatura, cultura e contemporaneidade e escritora na revista Hekate.

Tradução: “A menção de Lando em Solo ser pansexual pela Lucasfilm não significa absolutamente nada se eles não incluem a pansexualidade na tela. É queerbaiting barato para vender ingressos e usar diversidade como token”.

Star Wars está longe de ser a única franquia a recorrer a queerbaiting em uma tentativa de se mostrar moderna e a favor de causas sociais. Fãs de Harry Potter ficaram decepcionados com a autora J. K. Rowling quando ela revelou, após o lançamento de todos os livros da saga, que sempre pensou no personagem Dumbledore como gay. Apesar disso, não existe nenhuma confirmação na história sobre a sexualidade do personagem.

Com os filmes de Animais Fantásticos começando a dar mais foco para a juventude de Dumbledore e de Grindelwald, com quem o bruxo tinha uma relação complicada e nutria paixão, a audiência de Rowling passou a especular se finalmente haveria confirmação da sexualidade do diretor de Hogwarts. A escritora, também roteirista dos novos longas, decepcionou o público LGBTQ ao dizer que o próximo filme não vai tratar da sexualidade do bruxo.

Em 2017, durante a promoção do lançamento de Thor: Ragnarok muito foi falado sobre como Valquíria, interpretada por Tessa Thompson, seria a primeira personagem LGBTQ no universo da Marvel. Em uma entrevista, a atriz falou que a entendia como bissexual, mas as cenas para confirmar essa característica nunca chegaram às telonas.

“A técnica necessariamente coloca as relações e afetos de volta para o armário quando deixa tudo subentendido ou não dá um desenvolvimento para aquele relacionamento”, diz a mestra em educação e militante da liga brasileira de lésbicas Mariana Rodrigues. “Isso é bem perverso, principalmente quando pensamos nas personagens femininas, pois fetichiza as experiências lésbicas e marginaliza pessoas trans, que geralmente são retratadas como prostitutas”.

Larissa acredita que, por ter tantas nuances, o queerbaiting é mais perceptível para quem se identifica como LGBTQ. “Por isso, é importante buscar vozes LGBTI+ para falarem do assunto, fazerem crítica de cinema, televisão e cultura em geral. É preciso se informar e apurar o olhar para esse tipo de situação”, afirma.

E as novelas?
A mestre em literatura, cultura e contemporaneidade Larissa e a militante Mariana apontam que as tradicionais novelas brasileiras não estão livres de queerbaiting ou preconceito contra a comunidade LGBTQ. “O queerbaiting é uma linha mais discreta da representação, uma insinuação, e o estereótipo usado nos folhetins é a explicitação de um preconceito, mas uma coisa não exclui a outra”, defende Mariana.

“É muito comum na televisão o uso do estereótipo do gay afeminado. Em geral, ele é cabeleireiro e gosta de fofoca”, comenta Larissa. Mariana percebe a falta de diversidade na representação das lésbicas, já que nas novelas elas sempre são femininas e chiques.

“A comunidade LGBTI+ é muitíssimo diversa e é nisso que as novelas brasileiras falham muito. De certa forma, acabam garantindo uma certa audiência, principalmente de jovens gays em processo de se descobrirem. Eles acabam vendo uma representação, ainda que muito falha”, afirma Larissa. Para a escritora, a solução é buscar consultoria para tratar dessas temas. “Não só quando se trata de identidade de gênero e sexualidade, mas com relação a diversos grupos oprimidos e à margem da sociedade”, sugere.

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