Psicólogo: como se livrar de furadas ao escolher o seu
Em tempos difíceis, cuidar da saúde mental é essencial. No entanto, a escolha do psicólogo e da abordagem terapêutica exige reflexões
atualizado
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Padrões de beleza inalcançáveis no Instagram, tragédias a todo momento e relações cada vez mais líquidas. Manter-se firme, forte e com saúde mental não é uma tarefa fácil, mas é possível. Sobretudo com uma rede de apoio e com o suporte de um terapeuta.
Eles ajudam a compreender as ações que nos levam a algum sofrimento e a encontrar caminhos para evitar a repetição de padrões. Mas, uma vez convencida a encarar o divã, há quem se pergunte: “afinal, como escolher o melhor psicólogo – pelo menos, o melhor para mim?”
De fato, a pergunta merece reflexão. O êxito do tratamento depende do grau de confiança e da empatia pelo profissional. Com ele, o paciente deve sentir segurança para ser transparente e dividir momentos de intimidade.
“A busca por um profissional vem como um pedido de ajuda para compreender o que está vivendo e encontrar novas formas de sair do sofrimento. A busca deve ser criteriosa e, de preferência, a partir de uma indicação por uma pessoa de confiança”, explica a conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Rosane Granzotto.
“Ela dividia informações com meu pai”
Aos 13 anos, a estudante Rebeca Rodrigues, hoje com 23 anos, teve um baque ao descobrir que a psicóloga com quem se consultava semanalmente dividia informações trocadas durante a sessão com seu pai. “Em um mês de terapia, percebi que ele tinha conhecimento de muitos assuntos pessoais, coisas que não dividia com ninguém além da terapeuta, como o fato de eu me considerar bissexual”, lembra.
Além de minar ainda mais a relação com sua família, a atitude da profissional afastou Rebeca da terapia por nove anos.
“Senti ansiedade em relação a esse assunto durante muito tempo, embora quisesse voltar a fazer de terapia. Mas, aos 21 anos, a avó de uma amiga, que é da área, fez uma lista de profissionais que ela recomendava. Voltei e foi muito importante pra mim. Consegui, enfim, solucionar os problemas que tinha com meu pai.”
Essa, no entanto, não foi a única experiência negativa que Rebeca viveu na sala de um analista: “Já aconteceu de chegar em uma consulta, olhar pro terapeuta e notar que, apesar do esforço dele, eu não estava me sentindo à vontade. Não voltei mais.”
Confiança é fundamental
A atitude da psicóloga que dividiu as experiências de Rebeca com seus pais não está de acordo com o código de ética da profissão. Ele é claro sobre questões de confiabilidade. O sigilo é essencial, justamente por possibilitar que o paciente converse sobre sua intimidade na certeza de ser respeitado e protegido.
No caso das terapias infantis, é comum que pais e o psicólogo conversem, no início do acompanhamento, sobre regras básicas de privacidade. Assim, a família saberá quais informações o psicólogo pode ou não compartilhar. “O ideal é que esse acordo abarque apenas casos em que a criança estiver envolvida em atividades de risco”, pontua a psicóloga Maíra Cavalcante.
“Pscicoterapia não é aconselhamento”
Outra atitude que pode servir de alerta em relação ao comportamento desse profissional diz respeito à forma como ele influencia a tomada de decisões do paciente. O profissional não pode, de forma alguma, sugerir, por exemplo, que o consulente termine um namoro ou mude de emprego.
“Psicoterapia não é aconselhamento. Os significados sobre suas experiências e as decisões para sua vida são exclusivamente realizadas por você. O terapeuta é apenas um corpo de ressonância que, com suas intervenções, torna alguns aspectos do seu comportamentos mais visíveis e te provoca a criar novas respostas para suas questões”, afirma Granzotto, do CFP.
Segundo o psicólogo e professor universitário Vitor Barros, há casos, no entanto, que admitem exceções. “Se a pessoa está dentro de um relacionamento abusivo, em que o psicólogo sabe que aquilo pode culminar em agressões físicas ou até mesmo na morte de uma das pessoas, ele deve pensar em estratégias que levem o paciente a se afastar da situação”, elucida.
O código de ética também condena a associação de técnicas estranhas à psicologia no atendimento clínico. Assim, desconfie se o profissional que te atende oferecer serviços como coaching, reike, florais, e outros conhecimentos – por vezes milenares – que merecem respeito, mas não são práticas psicológicas.
Abordagens
Além do profissional, outro aspecto que precisa ser considerado pelo paciente está relacionado a abordagem que ele utiliza no processo terapêutico. “Não existe terapia mais indicada para um caso ou outro. Todas as abordagens apresentam uma leitura teórica do sujeito e do sofrimento psíquico, e uma metodologia de intervenção coerente com seu corpo conceitual. A princípio, todas podem responder aos fenômenos humanos”, explica a conselheira do CFC.
E se o apertar o orçamento?
Uma pesquisa do instituto Market Analysis de 2016 revelou que apenas 2% dos adultos dos principais centros urbanos do Brasil fazem psicoterapia, embora 30% demonstre desejo se consultar.
O dado pode estar relacionado ao custo das idas semanais à terapia, que, segundo a tabela de referência do conselho, varia de R$ 151 a R$ 259 reais. No entanto, o Código de Ética orienta os profissionais a considerar a justa contribuição dos serviços prestados e as condições do usuário, garantindo a mesma qualidade independente do valor acordado.
Além disso, na capital federal, é possível receber atendimento gratuito de profissionais em informação. Entre elas, estão a Universidade de Brasília, a Universidade Católica, o UniCeub, o Iesb e a UNIP.