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Projeto A.M.E leva mensagens de apoio a detentas durante isolamento social

Recados de voz da iniciativa têm sido transmitidos em quatro presídios próximos ao DF. Presas escutam aos áudios no pátio, durante recreação

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Mensagens de voz afetivas, permeadas por palavras de aconchego, têm quebrado a solidão dentro de presídios femininos do Entorno do Distrito Federal nos últimos meses. Os recados, embalados pelo timbre suave da filantropa Shaila Manzoni, buscam apaziguar o sentimento de solidão de detentas durante a pandemia de coronavírus, período em que as visitas de familiares e amigos estão suspensas para evitar a propagação da doença.

Idealizadora do projeto A.M.E (sigla para Ame as Mulheres Esquecidas), Shaila dedica esforços para garantir a saúde e bem-estar de mulheres encarceradas desde o início deste ano e, devido à Covid-19, precisou se reinventar para dar sequência à inciativa altruísta. Encontrou nas mensagens de voz uma forma viável de fazer isso.

“Doamos amplificadores de som para os presídios, e os áudios afetuosos, reciclados mensalmente, são transmitidos às detentas no pátio, durante recreação”, conta Shaila, que também é pastora. “Até o momento, temos liberação para rodá-los nas unidades prisionais de Barro Alto, Padre Bernardo, Alexânia e Luziânia (GO)”, revela. A expectativa é de que, em breve, as cadeias de Jaraguá e Anápolis também sejam contempladas.

Sem visitas ou acesso direto a informações sobre os avanços da Covid-19, a população carcerária atravessa momentos de angústia e ansiedade em meio à pandemia. “Com a impossibilidade de dar apoio às detentas pessoalmente, surgiu a ideia de gravar os áudios. O intuito das mensagem é fazê-las se sentirem amadas e acolhidas, ou seja, zelar pela saúde mental durante esse período tão difícil para todos nós”, frisa a filantropa.

A julgar pelos feedbacks, a missão tem sido cumprida. “Recentemente, recebemos uma mensagem da diretora de uma das unidades prisionais relatando como os recados estão ajudando as internas. Isso nos motiva a continuar”, relata Shaila. Procurada pelo Metrópoles, a diretora preferiu não se pronunciar publicamente.

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"A carência desses itens básicos, infelizmente, é grande. Sabemos pouco sobre a realidade dentro dos presídios. A pena pelo crime é a privação da liberdade, não deveria ser a privação de saúde, higiene e dignidade", declara Shaila Manzoni, idealizadora do projeto
Além de filantropa e pastora, ela é produtora de moda. Shaila nasceu no Rio de Janeiro, tem 32 anos e mora na capital federal desde os 6
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O A.M.E tem por objetivo assegurar a qualidade de vida das detentas. Entre outras iniciativas, o projeto angaria materiais de higiene pessoal para mulheres encarceradas

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"A carência desses itens básicos, infelizmente, é grande. Sabemos pouco sobre a realidade dentro dos presídios. A pena pelo crime é a privação da liberdade, não deveria ser a privação de saúde, higiene e dignidade", declara Shaila Manzoni, idealizadora do projeto

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Além de filantropa e pastora, ela é produtora de moda. Shaila nasceu no Rio de Janeiro, tem 32 anos e mora na capital federal desde os 6

@shailamanzoni/Instagram
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Bill Oxford/Getty Images

Shaila cedeu ao portal uma das mensagens enviadas aos presídios no mês passado. Ela diz que, apesar de terem cunho religioso, os recados buscam abraçar detentas, independentemente de credo ou religião.

Ouça:

Opinião do especialista

Segundo o psicanalista e professor titular da Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, iniciativas como essa são bem-vindas e podem, de fato, aliviar a angústia em meio à solidão da pandemia. “A saúde mental nos presídios brasileiros tem sido severamente desprezada, o que é grave para um país que tem a terceira maior população carcerária do mundo”, avalia o especialista.

“A ideia de uma iniciativa que acalente o coração das detentas e que envolva mensagens afetivas, ainda que com narrativa espiritual, é bem-vinda”, conclui.

Shaila finaliza ao dizer que, neste momento de crise, tem percebido as pessoas mais dispostas a ajudar projetos solidários, inclusive o comandado por ela.

“Quando comecei, muitas pessoas questionaram o foco do A.M.E. Indagaram ‘mas por que ajudar mulheres presas? Elas cometeram crimes. Ajude velhinhos ou crianças’. Agora, porém, sinto uma sensibilização maior. Espero que essa corrente do bem perpetue para além da pandemia”, emana.

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