metropoles.com

Professor com doença rara busca apoio para pedalar até Belém

Sandro Rodrigues de Oliveira vai pedalar 2.236 quilômetros e passará por 21 cidades para chegar ao destino final. A viagem começa neste sábado (2/7) e ele procura pessoas que possam ajudá-lo durante o percurso com estadia, alimentação ou dinheiro

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução/ Facebook
12717683_10205621430991539_408191120147224295_n
1 de 1 12717683_10205621430991539_408191120147224295_n - Foto: Reprodução/ Facebook

“A vida é do jeito que você quiser que seja. É possível alcançar tudo que se almeja, porque é você que direciona para onde o leme da vida vai te levar. Quem está no comando do meu leme sou eu.”

A frase sai da boca de um homem de 45 anos, aparentemente saudável e apaixonado pela vida. Depois de descobrir que tem uma doença rara, Sandro Rodrigues de Oliveira mudou radicalmente sua rotina e encontrou no ciclismo uma forma de sentir-se mais saudável e feliz.

Passou a enxergar nos desafios oportunidades de se superar. A partir deste sábado (2/7) ele partirá rumo à sua maior conquista. Vai pedalar 2.236 quilômetros e passará por 21 cidades, de Goiânia a Belém. Ele procura pessoas que possam ajudá-lo durante o percurso com hospedagem, alimentação ou dinheiro.

Essa história, porém, começou muito antes do dia previsto para a viagem, em 2005, quando Sandro era executivo da multinacional Mapfre Seguros e trabalhava como professor universitário do curso de administração, em Goiânia. A rotina era puxada, mas ainda encontrava tempo para jogar futebol e dar aulas na igreja que frequenta.

O único fator capaz de frear tanta proatividade era sua saúde. “Eu ficava muito doente, gripado, não sabia o que era ser saudável. Se de manhã eu acordava resfriado, à noite já era uma pneumonia. Estava quase morrendo, quando os diretores da empresa em que eu trabalhava fretaram um avião e me levaram para São Paulo, onde me consultei com o maior imunologista da América Latina, Dr. Dewton de Moraes Vasconcelos”, relembra.

O diagnóstico foi certeiro e o pegou desprevenido ao ouvir um termo até então desconhecido: Imunodeficiência Comum Variável – uma doença rara que afeta igualmente homens e mulheres de qualquer idade, mas que geralmente se manifesta até os 30 anos. É tão incomum que em todo o estado de Goiás só existem oito pessoas diagnosticadas.

A síndrome faz com que o organismo produza concentrações muito baixas de anticorpos, deixando o doente desprotegido. Existem poucos profissionais capacitados para lidar com a doença no Brasil. O equipamento que faz o diagnóstico está disponível apenas em duas capitais do país, Belo Horizonte e São Paulo.

Não sabem a causa da minha doença ainda. Na minha família ninguém tem. Com a falta do diagnóstico, muitas pessoas morrem sem saber que tiveram a síndrome. Eu estava sempre tomando antibiótico e, quando fizeram a análise, viram que eu já havia contraído mais de 50 pneumonias. 

Sandro Rodrigues de Oliveira

Os problemas não acabaram com a descoberta da doença, muito pelo contrário, estavam apenas começando. O tratamento indicado é chamado de “terapia de imunoglobulina” e consiste em “substituir” esses anticorpos no corpo do paciente. Infelizmente não é uma cura, mas é preciso fazê-lo regularmente, pelo resto da vida, para fortalecer o sistema imunológico.

“Todos os meses, preciso tomar imunoglobulina humana. Hoje em dia, esse medicamento custa R$ 20 mil a dose única de 700 ml. No começo, precisava ir para São Paulo receber o tratamento e a Mapfre arcava com os custos. Precisei entrar com uma ação no Ministério Público para o governo pagar pelo tratamento. As pessoas precisam correr atrás dos seus direitos”, conta Sandro.

Reprodução/ Facebook
Sandro com a esposa Marluz e as filhas Júlia e Cecília

Até a questão política mundial já interferiu na disponibilidade da imunoglobulina. O medicamento era fornecido apenas pela Áustria e a Suécia. Quando os Estados Unidos entraram em guerra com o Iraque, o presidente americano à época, George Bush, autorizou a compra de todo o estoque disponível no Brasil para aplicar nos soldados americanos (tentando aumentar a imunidade dos alistados, evitando que ficassem doentes).

Isso fez com que a medicação ficasse em falta por seis meses no país, o que quase custou a vida do executivo. A situação foi resolvida quando o então ministro da Saúde, José Serra, quebrou a patente austríaca e começou a fabricar o tratamento em pequena escala no Brasil. Atualmente, outros países também produzem imunoglobulina.

Dando a volta por cima
Todos os meses, quando precisa tomar a medicação, Sandro fica internado de seis a oito horas no hospital, acompanhado por uma enfermeira, para monitorar os batimentos cardíacos. Como o remédio é muito forte, ele já teve três inícios de infarto.

Reprodução/ Facebook O professor conhece quase todas as pessoas de Goiás que têm a mesma doença, mas elas levam uma vida sedentária. “O médico diz para a gente viver o mais quieto possível, o único que é ativo sou eu. Não escutei a orientação médica. Superei todas as expectativas e acredito muito que isso aconteceu graças à minha capacidade mental de eliminar os problemas. Os doutores dizem que é Deus mesmo”, conta.

Os médicos chegaram a estimar que ele viveria até, no máximo, 2015, mas antes disso estaria impedido de levar uma vida saudável e praticar esportes. Depois do diagnóstico, resolveu que aproveitaria a vida. Mudou a alimentação, a forma de pensar e pediu demissão da multinacional para se dedicar à carreira de professor. Está fazendo mestrado em administração internacional e aos finais de semana dá aula de escola bíblica na Igreja Batista Papillon.

Começou a praticar rafting e trekking. Um dia fazendo trekking, caiu do bote, arrebentou o joelho e precisou fazer cirurgia. Preocupado com o tempo que levaria para voltar aos esportes, perguntou para o médico o que deveria fazer para acelerar a recuperação e ouviu que a melhor fisioterapia era o ciclismo.

“Peguei tanto gosto pelo ciclismo! Pedalar virou uma paixão e ganhou destaque entre os esportes que eu praticava. E desde 2010 estou planejando viajar de Goiânia a Belém de bicicleta”, diz.

A primeira etapa do “Projeto de Norte a Sul com o professor Sandro Rodrigues” começa no sábado (2/7) e, quando concluído, terá rodado todo o Brasil. O professor não tem nada fechado, não sabe onde vai dormir nem o que comerá. Ele já tem o roteiro das cidades (confira na galeria abaixo) pelas quais passará, mas não tem os dias exatos, pois pode ficar cansado ou um pneu furar e atrasar os planos.

Arquivo Pessoal Levará um alforje (bolsinha de bike) com barraca, suplementação, três mudas de roupas, ferramentas para a bicicleta, máquina fotográfica, celular e colchão EVA. O plano é concluir o trajeto em 25 dias.

Sem a verba necessária para fechar hotéis, ele conta com o apoio de desconhecidos. Já conseguiu com um apoiador a passagem de avião para voltar.

“Alguns amigos do meu grupo de pedal, Seriema Pedal, também queriam ir. Mas tempo, dinheiro, são sempre empecilhos e são pra mim, também. Aproveitei que a faculdade em que leciono está de férias para poder realizar esse sonho e enfrentar essa”, diz.

Casado há 17 anos e pai de duas filhas, Júlia, 13 anos, e Cecília, 8, Sandro tem todo o apoio da família para prosseguir com o projeto. A mulher, Marluz, é uma das suas maiores incentivadoras. Eles se conhecem desde os oito anos, começaram a namorar com 14 e, entre idas e vindas, ficaram juntos para valer com 22. Ela sabe que o esporte faz bem para a saúde do marido.

“O amor pelo esporte funciona como endorfina. Sou motivado a desafios, quanto mais difícil, melhor pra mim.  Li uma vez a frase do atleta Lance Armstrong, que diz: ‘O sofrimento é passageiro, mas a desistência é para sempre’. Então, eu não desisto nunca.”

A viagem pode ser acompanhada pelo Facebook do Sandro e os interessados em ajudar de qualquer forma podem entrar em contato com ele pelo telefone (62) 98115-5142.

8 imagens
1 de 8

Rota das principais cidades por onde Sandro vai passar

2 de 8

Reprodução/ Facebook
3 de 8

Reprodução/ Facebook
4 de 8

Reprodução/ Facebook
5 de 8

Reprodução/ Facebook
6 de 8

Reprodução/ Facebook
7 de 8

Reprodução/ Facebook
8 de 8

Reprodução/ Facebook

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comVida & Estilo

Você quer ficar por dentro das notícias de vida & estilo e receber notificações em tempo real?