Por George, Pedro e Miguel: 5 atitudes para criar crianças antirracistas
Ativista Deh Bastos explica a importância de derrubar o racismo desde a primeira infância
atualizado
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Não foi coincidência. As mortes recentes de George Floyd, João Pedro e Miguel Otávio carregam, em comum, o racismo estrutural que assola milhares de vidas todos os anos. Um levante histórico teve início, mas não deve se restringir a hashtags ou a postagens de imagens pretas no feed do Instagram. A mudança, desta vez, precisa ser efetiva e duradoura. Invadir a mesa do jantar, a conversa do WhatsApp, as salas de aula. Uma das mais coerentes formas de evitar tragédias como essas é educar crianças para serem antirracistas.
Em postagem no perfil Criando Crianças Pretas, a ativista Deh Bastos, de 36 anos, viralizou ao compartilhar um “passo a passo” com cinco atitudes que podem facilitar esse aprendizado, em repostagem da página Escurecendo os Fatos.
A UNICEF, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância e juventude, também publicou conteúdo semelhante:
Para a publicitária, o racismo é uma doença social e, como tal, é escancarado de diversas maneiras. E esse enfrentamento precisa ter início pelos pais. O primeiro passo é o incômodo. O segundo, entender que não se trata apenas de didática. Dificilmente, pais e mães farão os filhos compreenderem esse discurso igualitário se não viverem essa realidade.
“Se os pais não o consomem intelectualidade preta, se não lêem ou assistem filmes com personagens negros, nao há como as crianças entenderem isso, mesmo que você ofereça brinquedos interraciais, por exemplo. Nós, adultos, precisamos ter essa consciência. E ela é um caminho sem volta”, orienta. “Entender como essa estrutura social funciona é a forma de combatê-la”, argumenta.
Outro fator fundamental é a criação de referências. “A criança pequena precisa de referência. Ela está no momento de normatizar as coisas. Do mesmo jeito que vê que o sol é amarelo, pode começar a entender que as pessoas pretas só estão em posição de serviço, se o único contato que tem é com a empregada ou a babá. Essa criança dificilmente criará afinidade com gente preta. Conviva, para que as crianças normatizem a diversidade”, explica.
Faça-se, ainda, a seguinte pergunta: que mundo você está oferecendo de referência para o seu filho? Se a discussão não for feita cotidianamente entre adutos, dificilmente chegará aos pequenos.
O racismo é uma responsabilidade das pessoas brancas. Elas precisam mudar essa estrutura
Deh Bastos
A luta é de todos
Para Deh, o argumento de que “não é seu lugar de fala” é uma estratégia pouco interessante, e pode ser perigosamente usado para isenção de responsabilidade.
Desde que reconheça privilégios, pessoas brancas têm por dever incentivar, em todos os lugares possíveis, que mais indivíduos tenham noção do próprio racismo. “O que as pessoas descobriram na última semana é a vivência de uma vida inteira de muita dor de toda o povo preto. O mais importante, nesse momento, é não deixar esse movimento acabar”, emenda.
“Há quem ache que racismo é só chamar alguém por uma palavra ofensiva. Quando vemos uma mulher negra trabalhando como doméstica no período de isolamento social enquanto a patroa faz a unha e a manda levar o cachorro para passear, e ela precisa fazer isso, deixando o filho sozinho, entendemos como as pessoas não se importam com as vidas negras”, afirma a comunicadora.
Segundo ela, pessoas brancas, em geral, não são racializadas. “São só ‘pessoas’, e se colocam como o princípio de todas as coisas. Muitas não conseguem enxergar a cor dos outros, pois só a delas importa. Pergunte-se sempre: o que estou falando e enxergando? Inclusive na educação do seu filho”, pondera a mãe de José, de 2 anos.