Pioneiros já festejavam em Brasília antes mesmo da inauguração
O Plano Piloto mal tinha prédios e moradores, mas seus pioneiros sempre souberam como se divertir. Casas das “senhoras” e salões de festas dos hotéis e clubes eram os cenários das festas mais importantes do início da capital
atualizado
Compartilhar notícia
Se nem os cartões postais da cidade estavam erguidos nos anos 1960, imagina se balada era coisa que tinha em todas as esquinas, clubes, subsolos ou bares. Também não tinha salão de beleza estrelado nem loja de marca gringa em shopping chique. Aliás, não tinha shopping. Brasília era a Asa Sul — mais ou menos pronta —, a Esplanada — mais ou menos pronta —, e alguns poucos hotéis que hospedavam funcionários de altos cargos ainda sem morada por aqui. Mas nem por isso os pioneiros não se divertiam na capital recém-nascida.
No 56º aniversário da cidade, o Metrópoles fez um passeio pelos álbuns de pessoas da sociedade, clubes, hotéis e pelo Arquivo Público do DF para mostrar como os primeiros moradores de Brasília se divertiam quando a capital não era muito mais do que um horizonte infinito e chão de terra batida.
As festas de Moema Leão na Mansão Flamboyant
A Mansão Flamboyant, no Park Way, recebeu diversas festas memoráveis. Nos anos 1970 e 1980, quando a cidade ainda estava em formação e as festas não eram muito frequentes, a anfitriã Moema Leão era conhecida por oferecer noites animadas com personalidades sociais, celebridades e importantes figuras da política nacional. Pelos salões da casa passaram Pelé, o cantor Roberto Carlos, Cauby Peixoto, Fernando e Rosane Collor de Mello, Juscelino e Sarah Kubitschek e muitos outros.
Na época, a cidade tinha pouco mais de uma década e, mesmo assim, havia serviços como os de chefs de cozinha, decoradores, garçons e manobristas, grande novidade na capital. Entre os pratos servidos, carne de cordeiro, isca de fígado e tulipa de frango.
As famosas celebrações ganhavam temas como: black tie, bailes hollywoodianos, Dancin’ Days, preto & branco e noite do terror. Até as viradas de ano eram festejadas na famosa Mansão.
Hotel Nacional, Brasília Palace e Iate Clube: a sociedade passa por aqui
Betty Bettiol chegou a Brasília com o marido,o advogado Luiz Carlos Bettiol, em 1962, menos de dois anos depois da inauguração da capital. Conta que as opções eram poucas, mas que a sociedade dava, sim, seu jeito de se divertir. “Tinha uma boate no Brasília Palace e, para as festas, eles mandavam vir os famosos da época, como Caetano e Cauby Peixoto. Já pensou que privilégio?”.
Outro “point” de quem viveu a capital nos seus primeiros anos era a boate Pilango, na W3 Sul. A pizzaria Cazebre, também na Asa Sul, reunia os primeiros moradores da cidade religiosamente aos domingos, depois do cinema. O Hotel Nacional, inaugurado em 1961, foi palco de desfiles de moda importantes, bailes de carnaval com presença de gente de Hollywood, de mergulhos ousados de Leila Diniz na piscina, das festas animadas do Festival do Cinema Brasileiro.
Quando não pelos hotéis, clubes e boate, era dentro das casas das senhoras que a sociedade se reunia para descontrair. “Eram reuniões mais modestas, mas com muito charme. Na época, a ditadura era muito dura e a gente também não podia se divertir demais, mas eram reuniões bem próprias da época”, lembra Betty.
Pela cidade: Brasília pulsa
Betty lembra das poucas — duas ou três — butiques de roupas de festa, na galeria em frente ao Hotel Nacional, ao lado de joalherias e outras lojas requintadas. Era o que havia de chique. Hoje ali se distribuem alguns poucos estabelecimentos comerciais, quase todos agências de viagem. “A maioria das mulheres viajava para suas cidades para comprar roupas ou pedia que costureiros fizessem”, conta. Um dos preferidos da época era Guilherme Guimarães, o Guigui.
O pioneiro Roosevelt Beltrão, em Brasília desde 1958, se lembra bem do baile do
Verde e Branco, que acontecia todos os anos na capital, na Cidade Livre, hoje chamada de Núcleo Bandeirante. “Todos iam vestidos de verde e branco, mas muito bonitos, as mulheres muito bem arrumadas”, ele se recorda. O baile terminou nos anos 1970, mas em 1974 ganhou fôlego novo, em novos “reencontros” organizados todos os anos pelo Clube dos Pioneiros.