Perfil compartilha histórias de mulheres aventureiras da “vida real”
Norte-americana Jenny Bruso criou um perfil no Instagram para contar histórias de aventureiras “normais” que se encontraram na natureza
atualizado
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Blogs e perfis de mulheres fortes que abraçam a realidade e amam seus corpos, ainda que sem tanquinhos, têm sido um respiro de alívio entre dietas e radicalismos divulgados pelas redes sociais. Mas o Unlikely Hikers, da norte-americana Jenny Bruso, é mais do que isso.
As fotos contam histórias de cadeirantes, gente que superou uma depressão ao explorar montanhas e florestas e casais fora de qualquer padrão tradicional.No perfil, cuja tradução significa “aventureiros improváveis”, Bruso se define como uma “fêmea, gay, escritora, gorda e ex-criança de interior” transformada em uma apaixonada por trilhas “por acidente”, como ela mesma diz.
Foto a foto, ela compartilha histórias de vida e de outras aventureiras que nem de longe se parecem com as imagens de mulheres magras, musculosas, brancas, loiras e felizes em topos de montanhas, como se vê em revistas de viagem.
Em entrevista ao Portland Monthly, a blogueira disse que a sua única inspiração por trás do perfil é discutir o que, de verdade, significa ser uma “aventureira improvável”.
“Meu primeiro encontro com minha parceira, Brie, foi na Trilha Maple, no Forest Park. Eu fingi que gostava dessas coisas porque gostava dela. Aquilo mudou a minha vida imediatamente”, contou.
Com a nova paixão estabelecida, no entanto, Jenny não encontrou nenhuma referência on-line de mulheres que compartilhassem o mesmo hobby com as quais se identificasse. “Quantas vezes você vê fotos de mulheres impecáveis, magras, brancas no topo de uma montanha posando como se tivessem chegado até lá levitando? Eu te digo: não é assim que eu pareço quando estou no topo de uma montanha”, argumentou Bruso.
O perfil tem quase 7 mil seguidores. Além das fotos no Instagram, ela mantém um blog onde compartilha as mesmas histórias para mulheres “improváveis”, como ela. Confira algumas delas:
“Estar ao ar livre é poderoso. Eu me reconecto com a Terra ao meu redor e com meus ancestrais. Comecei a fazer trilhas quando estava passando por um momento difícil e isso ajudou imensamente na minha cura. Como uma mulher Paiute, estou trabalhando para diversificar o esporte ao ar livre na minha área porque não vejo muitos negros nas trilhas. Eu e outras mulheres indígenas estamos nos reconectando com a terra e faremos os caminhos e as rotas de nossos ancestrais, conhecidos como a John Muir Trail. Estamos empolgadas para começar essa jornada de corpo de mente. Sou muito grata de chamar esse lugar de lar”.
“Comecei a fazer trilhas aos 45 anos, em 2015. Completei uma verdadeira caminhada pela Pacific Crest Trail! Foi divertido, embora tenha feito muitas coisas que nunca achei que faria. Também completei 1.930 km pela Appalachian Trail em 2016 (ainda voltarei para terminá-la!). Atualmente, estou fazendo a Continental Divide Trail. Se algo me interessa, eu faço. Pedalar, escalar, pescar, andar de barco, esquiar, acampar ou até caçar. Amo testar coisas novas. Todas as coisas arriscadas, esquisitas, diferentes. Acredito que devo isso a mim mesma, pelo menos tentar. Nunca é tarde para se começar num novo caminho”.
“Minha primeira trilha foi quando eu tinha 29 anos. Nunca tinha sonhado em fazer a Pacific Crest Trail. Me apaixonei pela natureza porque depois de suar enquanto caminho, sinto uma sensação de conquista e de significado. Caminhei sozinha 700 milhas no deserto de High Sienna. Vou até o Canadá. Eu me sinto mais forte, mais confiante e livre. Como sou devagar, tomo decisões sozinha todos os dias, grandes ou pequenas. É difícil poder fazer isso na vida real. A trilha me ensinou paciência, otimismo e me mostrou belezas que só os meus olhos podem capturar”.
“Me mudei para Colorado em 2013 para priorizar minha felicidade em vez de um trabalho que eu odiava em Boston. Aquele primeiro verão, um amigo me apresentou para a escalada de montanhas e trilhas de mochila, mas tudo tomou forma em agosto, quando minha tia morreu e meu namorado terminou comigo. Naquele mês, encontrei vulnerabilidade e força escalando picos de 14 mil pés e assistindo ao sol nascer em silêncio sobre as árvores do meu acampamento. Desde então soube que sempre procuraria momentos singulares de felicidade na natureza, momentos em que me sinto ao mesmo tempo calma e forte”.
“Sempre gostei da natureza. Quando era criança e tinha problemas em casa, eu andava pelas árvores do outro lado da fazenda da minha família ou andava de bicicleta por rodovias sujas, explorando novos lugares. Adulta, tem sido difícil voltar a esse estado natural para mim. No entanto, minha vida foi completamente sacudida quando decidi que precisava voltar à natureza para me curar. Em agosto, entrei no meu apartamento e fui atacada e esfaqueada diversas vezes, incluindo minha cabeça e olho direito. Meu mundo se despedaçou. Agora estou o reconstruindo enquanto caminho pela Appalachian Trail. Espero que isso possa servir de exemplo para outras vítimas de violência, para saberem que nossas vidas não acabaram e que podemos nos encontrar novamente nas trilhas”.