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Pai faz texto emocionante sobre aprendizados após suicídio do filho

Em 2014, Pablo, filho caçula do consultor Andres Bruzzone, decidiu acabar com a própria vida. Na carta de despedida que deixou, pedia: “que a vida continue sem mim”. Em projeto sobre luto, Bruzzone conta que significado “seguir a vida” ganhou depois da morte do filho

atualizado

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A única dor maior do que a de perder um filho é a de perder um filho para o suicídio? O que significa “superar” o luto de um filho que escolhe acabar com a própria vida à beira de completar 24 anos? Em um texto emocionante, o consultor e doutorando em filosofia Andres Bruzzone faz uma reflexão sobre alguns dos seus aprendizados ao longo do pouco mais de um ano e meio desde o suicídio do seu caçula.

Pablo tinha 23 anos quando se enforcou no seu quarto com um cabo de veleiro, o qual costumava usar quando velejava com o pai. O quarto era o cenário onde ouviam música juntos. Deixou uma carta na qual dizia “que la vida siga sin mi” (que a vida siga sem mim, em português). “E a vida continua – só que não exatamente sem ele, porque ele ocupa um lugar enorme”, escreveu Bruzzone. “A vida continua, mas tudo mudou”, afirmou.

“Um tsunami arrasou com a minha vida e nada daquilo que havia foi poupado: olhando em volta, eu via detritos, alagamento, destruição e desolação. Mas também via vida: como depois de um tsunami, o céu continuava a brilhar, havia árvores de pé e, de algumas poucas casas restantes, saíam pessoas, atordoadas, porém vivas. E eu era uma dessas pessoas: certo de ter sido atingido por uma violência descomunal e devastadora, mas não menos certo da decisão de continuar vivo”.

No processo de luto, Bruzzone conta que, depois de ouvir várias vezes que “não se supera a morte de um filho”, descobriu outros significados para o verbo “superar”. Que embora não funcione no sentido de “uma doença, da qual se sara”, e que a perda de um filho seja uma condição permanente, como “viúvo” ou “órfão”, é possível superar a dor no sentido de deixar a fase mais dura do luto para trás.

Supera-se o abalo. Supera-se o desespero, o medo, a angústia, a queda da autoestima. Supera-se essa raiva que busca destinatário e os encontra no psiquiatra irresponsável, no amigo que não se aproxima, naquela pessoa que faz um comentário insensível ou torpe. Neste sentido, a superação ocorre quando essa presença da ausência não nos define, não é o eixo central do que somos e de nosso lugar no mundo.

Andres Bruzzone

O desabafo de Bruzzone foi publicado no site do projeto “Vamos falar sobre o luto?”, que busca quebrar o tabu sobre o luto e tornar a experiência um pouco menos solitária ao convidar as pessoas que passam ou passaram por isso a compartilhar seus aprendizados e sentimentos. A versão completa está disponível para leitura neste link.

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