Nua, na Rodoviária de Brasília, artista transexual convida à reflexão
Rosa Luz executou uma performance de nudez no terminal de ônibus e registrou a reação das pessoas, em vídeo
atualizado
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Rosa Luz conseguiu o improvável: “parou” a Rodoviária de Brasília em horário de pico. Muita gente desacelerou o passo para saber quem era aquela mulher que vestia apenas uma saia e sandálias, sem sutiã ou blusa, em plena escadaria central do terminal de ônibus.
Na terça-feira (12/4), a artista fez uma performance nesse local para registrar em vídeo a reação das pessoas com relação à nudez de uma mulher transexual, em um espaço público.“Achei que poderia acabar na delegacia. Se me prendessem, estariam me reconhecendo como mulher (homens podem ficar sem camisa publicamente sem problemas). Mas como você me reconhece como mulher, se o Estado não me reconhece dessa forma? É uma contradição”, diz Rosa, ao final do vídeo, que ganhou as redes sociais.
Um amigo filmou a reação das pessoas. Um homem tentou agarrá-la e tocou seus seios. Uma religiosa orou perto dela e a recriminou por achar que Rosa Luz estava ali para “fazer crianças virarem gays”. Outras mulheres a abraçaram para demonstrar apoio. “As pessoas que reagiram mal, com agressão, eram marginalizadas. A maioria não se colocou contra a Rosa”, relata Carlos, o amigo que fez a filmagem.
A performance, além de fazer parte de um documentário, é um convite a falar sobre homofobia e transfobia. “O Brasil tem várias caras… elas aparecem em determinados momentos, não são fixas. A Rosa acionou dispositivos na sociedade que, naquele momento, estavam adormecidos”, afirmou Carlos. O vídeo já tem mais de 15 mil visualizações no Facebook, onde foi publicado acompanhado do texto:
“BELA, RECATADA E DO LAR? pra algumas pessoas nem gente eu sou. Porque assédio, estupro, feminicídio, genocídio do povo negro e desumanização de mulheres como eu, de peito e pau, ainda são pautas constantes em pensamentos que pregam amor à deus, amor à família tradicional, mas só praticam o ódio e o desrespeito pautado em pensamentos normativos, condicionados e colonizados.
“Foi um momento de troca. Eu me senti ótima no final, fui abraçar minhas amigas e é tudo nosso. Se o nosso corpo é uma falha nesse sistema, vamos usar nosso corpo para apontar essas falhas”, finaliza Rosa Luz. A artista mantém um canal no Youtube, o Barraco da Rosa, onde divulga seus trabalhos e ideias.