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“Novo normal”: por que mulheres estão retirando seus implantes de silicone?

Questões de saúde ou autoaceitação motivam movimento crescente de retirada dos implantes mamários

atualizado

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silicone (1)
1 de 1 silicone (1) - Foto: IStock

Duas décadas atrás, o ideal de beleza feminina era uníssono: loira de cabelos lisos, magra e “siliconada”. Um punhado de anos depois, o mundo abraça a diversidade, ainda que lentamente. Esses padrões já não são os mesmos. Pelo contrário. Um movimento recente comprova que diversas mulheres, insatisfeitas após a operação de implante de silicone, têm optado pela remoção das próteses.

Seja por conta de uma jornada de autoaceitação, seja por questões médicas, o caminho reverso é, para muitas delas, a melhor (e, em alguns casos, a única) saída.

Foi o que aconteceu com a atriz Ashley Tisdale. A decisão de aumentar o tamanho das mamas, no passado, representou uma mudança importante para a autoestima. Esta semana, em um relato emocionante no Instagram, a estrela de High School Musical confessou que nem tudo foram flores e relatou ter vivenciado problemas constantes desde que colocou a prótese. Até que, este mês,  decidiu tirar o implante, assim como fizeram a modelo Chrissy Teigen, a designer Victoria Beckham e até a cantora Anitta.

“Pouco a pouco, comecei a lutar contra pequenos problemas de saúde que simplesmente não estavam combinando, como sensibilidades alimentares e também problemas intestinais que pensei que poderiam ser causados ​​por meus implantes”, revelou.

Assim como ela, a influenciadora, biomédica e nômade digital Carolina Almeida decidiu tornar pública a sua decisão de retirar o silicone de maneira definitiva. Também no Instagram, ele afirmou que a medida foi tomada, quatro anos depois de colocá-lo, após passar pelo que acredita ser a doença do silicone.

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Hoje faz 20 dias que eu decidi seguir minha intuição e tirar do meu corpo o que estava me matando pouco a pouco… ⠀ Infelizmente ainda não existe um consenso entre os médicos sobre a doença do silicone, mesmo com tantos artigos científicos e médicos que já estudam a doença há anos, ela ainda é desconhecida ou ignorada pela maioria deles. ⠀ Ao se depararem com as queixas de várias mulheres, tais como: Dor nas articulações, fadiga crônica, perda de memória, dor muscular, inflamação, falta de ar e mais uns 40 sintomas, a maioria recomenda um tratamento psicológico/psiquiátrico ou dá o diagnóstico de fibromialgia pra essas mulheres, muitas vezes sem investigar e descartar outras doenças. ⠀ No meu caso, eu que fui atrás de descobrir. Há 10 meses atrás, quando tudo piorou significativamente, a iniciativa de ir em todas as especialidades médicas e solicitar vários tipos diferentes de exames, foi minha. Sou formada em Biomedicina e de alguma coisa me serviu a graduação rs. Não aceito facilmente quando me dizem que eu tenho uma doença X mesmo sem apresentar os sintomas principais da mesma. ⠀ Enfim, decidi fazer o explante e a ressonância das mamas mostrou dobras e presença de líquido inflamatório (eu nunca tinha feito uma RM). A biópsia das cápsulas após o explante mostrou processo inflamatório crônico, inflamação essa que começou de forma local e com certeza se tornou uma inflamação sistêmica, atingindo todo o meu corpo e causando sintomas. ⠀ Sei que talvez eu esteja longe de desinflamar e desintoxicar meu corpo das partículas do silicone (foram 4 anos com as próteses), mas é uma sensação de alívio tão grande saber que tirei de dentro de mim o que estava me matando… agora a tendência é só melhorar, e eu finalmente tenho esperança na vida de novo! Siga sempre a sua intuição e não ligue pra opinião dos outros! Sua saúde vem em primeiro lugar, sempre! 🙌🏻

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A princípio, os 305ml proporcionaram um boost na autoestima. O pós-operatório foi tranquilo e tudo corria bem. Passados dois anos, no entanto, Carolina começou a sentir dores musculares e nas articulações, além de queimação e ardência em todo o corpo. Há um mês, entrou na sala de cirurgia novamente, mas para tirar o implante.

Também desenvolvi outros sintomas, como pele, boca e olhos secos; perda de cabelo e de memória; ansiedade; fadiga crônica; dor de cabeça; depressão; alterações de humor; e inflamação

Carolina Almeida

Veja o relato de Caroline Almeida ao Metrópoles:

Apoio virtual

Há pouco menos de um ano, ela se deparou com grupos de apoio no Facebook e no Instagram na qual a doença do silicone era discutida. Feito o explante, uma ressonância das mamas mostrou a presença de dobras e de líquido inflamatório em seu organismo. A biomédica se salvou de um processo inflamatório crônico e de quadro que poderia ser ainda mais grave. Agora, alerta outras mulheres sobre a condição que ainda não é uma unanimidade na medicina.

“Se informe muito bem em relação aos riscos do silicone. E eu não falo apenas dos riscos da cirurgia ou de uma futura ruptura ou contratura e, sim, da toxicidade das próteses, já comprovada cientificamente. Pense que você estará colocando um corpo estranho dentro de você e arriscando sua saúde”, pondera.

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A modelo Chrissy Teigen também optou pelo explante
Assim como a designer Victoria Beckham
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Atriz Ashley Tisdale retirou implante das mamas e relatou problemas de saúde por causa deles

@AshleyTisdale/ Reprodução/Instagram
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A modelo Chrissy Teigen também optou pelo explante

Divulgação
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Assim como a designer Victoria Beckham

Gareth Cattermole/BFC/Getty Images for BFC via Getty Images
Doença do silicone

Como Carolina, existem milhares de pessoas que sentiram que os implantes mamários causaram algum mal, em maior ou menor dimensão.

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) sugeriu que os fabricantes incluíssem advertências nos implantes mamários de silicone para explicar aos pacientes sobre os riscos da cirurgia (que englobam os sintomas sentidos por Ashley Tisdale e, no Brasil, pela biomédica e influencer Carolina Almeida). Paralelamente, a doença do silicone ganha força em debates e grupos na internet.

Doença do silicone
Grupos no Facebook e no Instagram compartilham informações sobre a “doença do silicone”

Médicos especializados na área e o próprio FDA também pesquisam, há pelo menos uma década, se há relação entre câncer e implantes mamários. Em 2017, um relatório ligou implantes à base de solução salina e silicone a uma forma rara de linfoma não-Hodgkin

Cirurgiões, por sua vez, garantem que o procedimento é seguro. “Atualmente, as empresas têm desenvolvido tecnologias que oferecem cada vez mais segurança na cirurgia do implante mamário. Apesar disso, existem relatos, como a patologia conhecida como doença do silicone que é, na verdade, a síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants ) ou Breast Implant Illness, síndrome autoimune inflamatória”, explica o cirurgião plástico Roger Nayef Fakhouri, que atua no Hospital Anchiete e é membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica.

Segundo o médico, tratam-se de condições enigmáticas, raras e ainda em estudo em locais como o Centro de Doenças Autoimunes de Tel-Hashomer, em Israel. “O importante é que, independentemente de ter ou não próteses mamárias, todas as mulheres devem realizar avaliações de rotina com ginecologista e também com mastologista. A substituição deve ser planejada quando houver alguma alteração nessas avaliações de rotina”, orienta.

Outros casos específicos também pedem o explante. “Algumas patologias indicam a remoção das próteses e da sua cápsula, como o ALCL (linfoma anaplásico de grandes células), ruptura de implantes, contratura capsular — que é o endurecimento da cápsula que se forma ao redor da prótese —, dentre outras”, elucida o cirurgião plástico João Darques, especialista em Cosmiatria e Contorno Corporal e fundador da clínica Darques Saúde e Beleza.

“Estima-se que 4% das próteses, durante um período de 10 anos, vão desenvolver algum grau de contratura. Vale ressaltar que a necessidade de substituição das próteses é apenas naquelas contraturas que atingirem graus mais avançados, como 3 ou 4, pois apresentarão deformidades visíveis ou outros sintomas”, comenta.

O “novo normal”

Embora relatos como de Ashley e Carolina sejam cada vez mais comuns, ter os seios maiores ainda é o sonho de muitas mulheres. Segundo dados recentes da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil lidera o ranking de países onde mais são realizadas cirurgias plásticas. O implante mamário de silicone aparece na liderança entre os procedimentos mais procurados. Porém, com novidades.

Roger Nayef Fakhouri explica que a escolha feminina tem sido por próteses menores e mais discretas, bem próximas ao natural. “Logicamente, isso passa por uma avaliação individualizada em que respeita-se a intenção e vontade de cada paciente”, comenta.

Nos consultórios, nota-se um aumento na busca de tamanhos mais harmônicos e naturais. “Assim, as pacientes encontram na mamoplastia um processo dedicado ao empoderamento e ao autorreconhecimento. E expressam o desejo por próteses de menor tamanho, com valorização da projeção e do colo, garantindo o conforto na sua autoimagem”, encerra João Darques.

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