“Novo normal”: por que mulheres estão retirando seus implantes de silicone?
Questões de saúde ou autoaceitação motivam movimento crescente de retirada dos implantes mamários
atualizado
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Duas décadas atrás, o ideal de beleza feminina era uníssono: loira de cabelos lisos, magra e “siliconada”. Um punhado de anos depois, o mundo abraça a diversidade, ainda que lentamente. Esses padrões já não são os mesmos. Pelo contrário. Um movimento recente comprova que diversas mulheres, insatisfeitas após a operação de implante de silicone, têm optado pela remoção das próteses.
Seja por conta de uma jornada de autoaceitação, seja por questões médicas, o caminho reverso é, para muitas delas, a melhor (e, em alguns casos, a única) saída.
Foi o que aconteceu com a atriz Ashley Tisdale. A decisão de aumentar o tamanho das mamas, no passado, representou uma mudança importante para a autoestima. Esta semana, em um relato emocionante no Instagram, a estrela de High School Musical confessou que nem tudo foram flores e relatou ter vivenciado problemas constantes desde que colocou a prótese. Até que, este mês, decidiu tirar o implante, assim como fizeram a modelo Chrissy Teigen, a designer Victoria Beckham e até a cantora Anitta.
“Pouco a pouco, comecei a lutar contra pequenos problemas de saúde que simplesmente não estavam combinando, como sensibilidades alimentares e também problemas intestinais que pensei que poderiam ser causados por meus implantes”, revelou.
Assim como ela, a influenciadora, biomédica e nômade digital Carolina Almeida decidiu tornar pública a sua decisão de retirar o silicone de maneira definitiva. Também no Instagram, ele afirmou que a medida foi tomada, quatro anos depois de colocá-lo, após passar pelo que acredita ser a doença do silicone.
A princípio, os 305ml proporcionaram um boost na autoestima. O pós-operatório foi tranquilo e tudo corria bem. Passados dois anos, no entanto, Carolina começou a sentir dores musculares e nas articulações, além de queimação e ardência em todo o corpo. Há um mês, entrou na sala de cirurgia novamente, mas para tirar o implante.
Também desenvolvi outros sintomas, como pele, boca e olhos secos; perda de cabelo e de memória; ansiedade; fadiga crônica; dor de cabeça; depressão; alterações de humor; e inflamação
Carolina Almeida
Veja o relato de Caroline Almeida ao Metrópoles:
Apoio virtual
Há pouco menos de um ano, ela se deparou com grupos de apoio no Facebook e no Instagram na qual a doença do silicone era discutida. Feito o explante, uma ressonância das mamas mostrou a presença de dobras e de líquido inflamatório em seu organismo. A biomédica se salvou de um processo inflamatório crônico e de quadro que poderia ser ainda mais grave. Agora, alerta outras mulheres sobre a condição que ainda não é uma unanimidade na medicina.
“Se informe muito bem em relação aos riscos do silicone. E eu não falo apenas dos riscos da cirurgia ou de uma futura ruptura ou contratura e, sim, da toxicidade das próteses, já comprovada cientificamente. Pense que você estará colocando um corpo estranho dentro de você e arriscando sua saúde”, pondera.
Doença do silicone
Como Carolina, existem milhares de pessoas que sentiram que os implantes mamários causaram algum mal, em maior ou menor dimensão.
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) sugeriu que os fabricantes incluíssem advertências nos implantes mamários de silicone para explicar aos pacientes sobre os riscos da cirurgia (que englobam os sintomas sentidos por Ashley Tisdale e, no Brasil, pela biomédica e influencer Carolina Almeida). Paralelamente, a doença do silicone ganha força em debates e grupos na internet.
Médicos especializados na área e o próprio FDA também pesquisam, há pelo menos uma década, se há relação entre câncer e implantes mamários. Em 2017, um relatório ligou implantes à base de solução salina e silicone a uma forma rara de linfoma não-Hodgkin.
Cirurgiões, por sua vez, garantem que o procedimento é seguro. “Atualmente, as empresas têm desenvolvido tecnologias que oferecem cada vez mais segurança na cirurgia do implante mamário. Apesar disso, existem relatos, como a patologia conhecida como doença do silicone que é, na verdade, a síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants ) ou Breast Implant Illness, síndrome autoimune inflamatória”, explica o cirurgião plástico Roger Nayef Fakhouri, que atua no Hospital Anchiete e é membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica.
Segundo o médico, tratam-se de condições enigmáticas, raras e ainda em estudo em locais como o Centro de Doenças Autoimunes de Tel-Hashomer, em Israel. “O importante é que, independentemente de ter ou não próteses mamárias, todas as mulheres devem realizar avaliações de rotina com ginecologista e também com mastologista. A substituição deve ser planejada quando houver alguma alteração nessas avaliações de rotina”, orienta.
Outros casos específicos também pedem o explante. “Algumas patologias indicam a remoção das próteses e da sua cápsula, como o ALCL (linfoma anaplásico de grandes células), ruptura de implantes, contratura capsular — que é o endurecimento da cápsula que se forma ao redor da prótese —, dentre outras”, elucida o cirurgião plástico João Darques, especialista em Cosmiatria e Contorno Corporal e fundador da clínica Darques Saúde e Beleza.
“Estima-se que 4% das próteses, durante um período de 10 anos, vão desenvolver algum grau de contratura. Vale ressaltar que a necessidade de substituição das próteses é apenas naquelas contraturas que atingirem graus mais avançados, como 3 ou 4, pois apresentarão deformidades visíveis ou outros sintomas”, comenta.
O “novo normal”
Embora relatos como de Ashley e Carolina sejam cada vez mais comuns, ter os seios maiores ainda é o sonho de muitas mulheres. Segundo dados recentes da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil lidera o ranking de países onde mais são realizadas cirurgias plásticas. O implante mamário de silicone aparece na liderança entre os procedimentos mais procurados. Porém, com novidades.
Roger Nayef Fakhouri explica que a escolha feminina tem sido por próteses menores e mais discretas, bem próximas ao natural. “Logicamente, isso passa por uma avaliação individualizada em que respeita-se a intenção e vontade de cada paciente”, comenta.
Nos consultórios, nota-se um aumento na busca de tamanhos mais harmônicos e naturais. “Assim, as pacientes encontram na mamoplastia um processo dedicado ao empoderamento e ao autorreconhecimento. E expressam o desejo por próteses de menor tamanho, com valorização da projeção e do colo, garantindo o conforto na sua autoimagem”, encerra João Darques.