Nostalgia: porque jogos de tabuleiro antigos voltaram à tona na quarentena
A busca por esse tipo de jogo aumentou repentinamente nos últimos 12 meses, com picos no período em que teve início o isolamento social
atualizado
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O sentimento de nostalgia se tornou muito comum durante a quarentena causada pelo novo coronavírus. Filmes e desenhos animados de outras décadas voltaram à tona. E não só eles. Outros entretenimentos com perfume vintage estão de volta. Segundo o Google Trends, a procura por jogos de tabuleiro antigos aumentou em 150% nos últimos 12 meses, com picos expressivos no período em que teve início o isolamento social.
A busca pelo termo “jogos on-line para brincar com os amigos” também cresceu, com aumento repentino no início de maio, quando a quarentena estava completando dois meses no Brasil. War, Jenga, Perfil e Imagem em Ação são alguns exemplos que passaram a aparecer no lar dos brasileiros com mais frequência que o usual atualmente.
O autônomo Thiago Chaves, de 43 anos, é um dos brasilienses viciados nessa forma de diversão. Ele acredita que criações de outras épocas são melhores em qualidade do que os atuais, principalmente se tratando da história dos personagens. A paixão de Thiago pelo mundo dos jogos começou há mais de 15 anos e, até hoje, continua ocupando muito tempo da rotina.
“Na quarentena, jogo muito mais do que o normal. Também apresentei os jogos antigos para minhas filhas, gêmeas de 10 anos. Agora, elas já estão mais acostumadas com os da minha época do que os lançados recentemente”, conta.
A estudante de ciências sociais Rebeca Figueiredo, de 22 anos, não pode mais se reunir com amigos semanalmente para jogar, como fazia antes da pandemia. Porém, isso não é um obstáculo para dar uma pausa na tradição. “Trocamos por jogos on-line, como o Gartic e o Ludo. Assim, a gente continua colocando o papo em dia e se divertindo, mesmo separados”, afirmou.
Entenda o fenômeno
De acordo com psicóloga clínica Juliana Campos, nostalgia, ansiedade, angústia e tristeza são sentimentos naturais em situações de mudança disruptiva na rotina. No entanto, a especialista afirma que é importante refletir sobre a razão para a volta de hábitos do passado, sobretudo para evitar costumes prejudiciais, como vícios ou ações compulsivas.
“O ser humano precisa minimamente de uma sensação de controle da vida e da rotina. Logo, é natural como mecanismo de defesa que ele se prenda ao passado, época em que tinha conforto e segurança”, avalia Juliana.
Para a psicóloga Raquel Manzini, do consultório Ipê Psicologia, voltar a escrever, ler, estudar, jogar, entre outras ações, podem trazer reencontros agradáveis e produtivos com o passado, conectando com o presente e o agora. A regra, então, é se divertir. Nada de competitividade.
“Para se distrair do novo coronavírus, comportamentos diversos podem acontecer, muito deles motivados pela nostalgia. Porém, a pessoa sempre deve se perguntar se o que ela está fazendo é motivo para se sentir bem de verdade ou apenas mais ansiosa e preocupada.”
Comportamento recente
Antes do isolamento social ser implantado e acabar com reuniões presenciais, era comum amigos se encontrarem para noites de jogos de tabuleiro. Dados da Pesquisa Game Brasil 2019 mostram que 28% da população do país se diverte com tabuleiros. O segmento representou 9,7% das vendas do setor de brinquedos em 2018.