Mulheres contraem coronavírus após furar isolamento para encontrar crush
Especialistas não recomendam encontros presenciais. Ainda assim, muita gente enfrentou na pele consequências por se expor ao vírus
atualizado
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O isolamento social tem obrigado muitas pessoas a experimentarem momentos a sós. Enquanto algumas lidam com a solidão de forma pacífica, outras começam a se desesperar diante da situação, ainda sem previsão de acabar. Não à toa, aplicativos de relacionamento, como Tinder e Happn, registraram aumento significativo nas interações entre os usuários durante os meses de quarentena, tanto no Brasil quanto no restante do mundo.
Um relatório divulgado pelo Match Group, proprietário do Tinder, mostra que depois de uma queda nas interações entre os usuários de seus apps em março, o número de novas inscrições e troca de mensagens voltou a crescer em abril.
Em outro estudo mais recente do Happn, realizado no início de maio, 62% dos brasileiros admitiram que o período de solidão os motivou a iniciarem uma busca por romance. Em um recorte com os usuários da plataforma, 56% disseram estar conversando por mais tempo e 63% acreditavam que a quarentena aumentaria o vínculo afetivo com as paqueras.
Dados do Happn, app de relacionamento
Especialistas, no entanto, recomendam que o flerte permaneça apenas nas redes sociais. Apesar de muitas medidas já terem sido flexibilizadas, médicos acreditam que o isolamento voluntário ainda é a melhor solução para evitar a disseminação do vírus. “Estamos em um momento delicado da curva”, explicou a infectologista Ana Helena Germoglio, em entrevista ao Metrópoles nesta semana.
O clínico geral e coordenador do Pronto-Socorro do Hospital Santa Lúcia, Luciano Lourenço, também é enfático ao dizer que, para a segurança de todos, não devem existir brechas no isolamento. “Quando uma pessoa sai de casa para encontrar o parceiro, ela se expõe. Pega no chaveiro do carro ou encosta na maçaneta do Uber, toca no botão do elevador ou esbarra com um vizinho na saída”, exemplifica.
De fato, muita gente que arriscou acabou se arrependendo ou enfrentando as consequências.
“Meu crush me escondeu que estava com sintomas”
Em relato enviado à Marie Claire, a barista Ana Flávia Gomes, de 20 anos, conta que conheceu Ricardo, 47, nas redes sociais. No primeiro encontro, durante a quarentena, ela não sabia que ele não só tinha sintomas do novo coronavírus como estava com o teste agendado para a manhã seguinte. Ele transmitiu o vírus para ela, que contaminou seu filho, sua mãe e uma colega de trabalho.
Ricardo é português, mas mora em Barcelona. Na ocasião, ele estava em Lisboa, onde Ana mora com a família. “Estavamos no início da quarentena, sem sair o que viria pela frente. Ele também não sabia quando retornaria à Portugal”, explicou Ana.
“Combinamos que ele me buscaria em casa e, de lá, iríamos para direto para a casa dele. Já no carro, notei que ele estava com uma coriza que, segundo ele, era alergia, nada importante. Já em sua casa, me disse sentir uma leve dor no corpo, mas, como já estava ali, decidi curtir o momento”, contou à Marie Claire. “Quando acordamos, ele disse que sua cabeça estava doendo e a coriza havia nitidamente aumentado. Tendo em vista que ele veio da Espanha que, naquela época, já contabilizava um enorme número de casos e mortes por Covid-19, fiquei bolada”, continuou.
“Ele falou então que tinha um exame de sangue para fazer à tarde e, depois do café da manhã, me deixaria em casa. Fiquei ainda mais ensimesmada. Será que Ricardo suspeitava estar contaminado e não havia me contado nada com medo de eu desmarcar o date? Não podia ser.”
Ana Flávia Gomes, barista, após pegar coronavírus do crush
“Fiquei péssima”
As desconfianças de Ana estavam certas e depois de alguns dias, ela também passou a apresentar os sintomas de coronavírus.
“Começou de fato a minha luta. Só tomava sopas, comia legumes e ingeria bastante água para me hidratar. Sentia cada vez mais dores, e só podia tomar paracetamol (…). Minha mãe me jogava na cara a minha irresponsabilidade, que sei que foi grande, o tempo todo”, relembra.
O rapaz seguiu ligando e mandando mensagens, mas segundo Ana “em momento algum pediu desculpas pela canalhice de não ter contado sobre a suspeira de Covid-19. “Um dia depois, meu filho apresentou os primeiros sintomas. Aí meu coração apertou de verdade. Achei que ia morrer de preocupação e culpa. No mesmo dia, minha mãe também começou a tossir. Em seguida, minha irmã e meu sobrinho. Depois fiquei sabendo que uma amiga do trabalho também estava com tosse. Por sorte, ninguém teve nada mais grave. Mas eu, que sabia ter infectado todo mundo, fiquei péssima”, desabafou a brasileira.
“Me apaixonei em plena pandemia”
Ana não foi a única a furar a quarentena por motivações afetivas. Também à Marie Claire, a jornalista carioca Camila de Paula, 38 anos, contou que começou a se comunicar com um seguidor do Instagram, resolveu encontrá-lo e também precisou enfrentar consequências pela imprudência.
“Eu estava lidando com um problema financeiro. Conta zerada, dívidas, uma empresa quebrada, despensa vazia. Medo, solidão, falta do meu filho. Esse era o cenário. Teve um dia que cheguei a ter uma espécie de pânico durante a noite: uma baita insônia, tremedeira e coração disparando. Dormi e acordei chorando muito. Foi nessa fase que o Daniel apareceu”, lembra.
“No dia 29 de março, nos vimos pela primeira vez. Eu tive toda a confiança em marcar na minha casa mesmo. Assim, ao menos fugíamos de aglomerações, furando o isolamento apenas um pelo outro. Ele veio no seu próprio carro, o protocolo ainda nem exigia máscara.”
Camila de Paula também pegou coronavírus ao se encontrar com crush
Dias depois, o avô de Daniel teve de ser internado e o rapaz teve vários momentos de exposição ao vírus. A jornalista acredita que ele possa ter contraído a doença aí. Como os dois passaram a se encontrar com frequência, ela também começou a apresentar sintomas de Covid.
“Por sorte, tive sintomas leves, mas o perigo foi grande. Ele teve um pouco mais intensos do que eu. Um dia ele ficou com muito medo da intensidade da falta de ar e correu até a minha casa. Medimos a sua oxigenação, estava baixa, e corremos para um hospital”, relatou.
“Enquanto o acompanhava, pensava no quanto já sentíamos no outro uma sensação de proteção e conforto, coisa de quem tem uma relação longa e não há menos de dois meses juntos. Fora a intimidade que se impôs, já que a Covid-19 trouxe desânimo, febre, diarreia, coisas que não são nada sedutoras ou confortáveis’, concluiu Ana.