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Muito além da questão estética, cabelos crespos e cacheados são símbolo de resistência contra o racismo

Histórias como a da publicitária Raísa Azeredo, que começou a alisar os cabelos ainda criança e hoje ama suas raízes, mostram a importância do empoderamento da mulher negra

atualizado

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Bruno Pimentel/Metrópoles
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Usar os cabelos naturais é um ato de resistência contra a ditadura da chapinha. O preconceito embutido em termos como “cabelo ruim” e “cabelo bom” demonstra que ainda há muito para conquistar diante do racismo, que mora nos detalhes.

– Por que você fez isso com seu cabelo?

– O seu cabelo já nasce assim?

Meninas e mulheres com cabelos crespos encontram-se diante de perguntas como essas, com frequência. Nos últimos anos, entretanto, elas têm usado o cabelo ao natural como importante parte da luta contra a discriminação.

Ondulados, cacheados, crespos, volumosos, “black power”, dreads, rastafari… Há inúmeras formas de usar os fios. O primeiro passo é romper com procedimentos químicos prejudiciais aos fios e iniciar a chamada transição capilar. A história de vida da publicitária Raísa Azeredo se parece com a de muitas mulheres que têm os fios crespos.

Ela foi ensinada ainda criança a alisá-los. Chegou a passar mal por conta do cheiro do formol, em uma das sessões de escova progressiva. “Era muita química, em um ambiente fechado, não deu outra: passei mal. Mas, na época, não desisti e queria esticá-lo de qualquer forma”, lembra. A mãe de Raísa queria protegê-la do preconceito, por isso permitia que ela alisasse os cabelos. “A sociedade imprime que fios crespos são ruins”, comenta a publicitária.

"Quando me aceitei o mundo passou a me aceitar"
“Quando me aceitei o mundo passou a me aceitar”

No fim do terceiro ano do ensino médio, Raísa decidiu: não alisaria mais o cabelo.

No dia da formatura, decidi não mais enfrentar aquela situação. Passei máquina dois. Chorei demais para a minha mãe e coloquei algumas tranças de aplique. A partir daí, nunca mais voltei atrás

Raísa Azeredo

Em seguida, começou um processo de tratamento específico para seus fios. Conheceu formas de hidratar, nutrir e reconstruir para ficarem bem ao natural. O processo de transformação optado por ela é chamado “Big Chop”, quando você tira o alisamento e deixa o cabelo 100% como é.

Tem muita mulher negra que não conhece seu cabelo. Eu não conhecia, não sabia como ia ser ele todo crespo. Meu tipo de fio demora a crescer, mas percebi um leque de diferentes possibilidades de penteados. Posso fazer tranças, posso fazer dreads, é muita coisa

Raísa Azeredo

Raísa já ouviu todo tipo de ofensa: “vai pentear seu cabelo” e “cabelo de macaco” tornaram-se frases comuns. “Não é vitimismo, a gente realmente ouve esse tipo de comentário.”

“Quando me aceitei, o mundo me aceitou. Essa sou eu, essa é minha personalidade. Eu sou negra e meus fios são crespos, ponto!”

Raísa

Foi preciso conquistar respeito em vários espaços. Ela cursou publicidade em uma faculdade particular, com maioria de alunos brancos. “Eu lembro de me perguntarem coisas como: por que você se veste assim? Ou então, ‘por que você não penteia o cabelo?’”, conta.

Com 15 anos e cabelos alisados, Raísa Azeredo - à direita
Com 15 anos e cabelos alisados, Raísa Azeredo – à direita

 

Preconceito sem fronteiras
Raísa passou um período viajando pela Europa, após ter graduado-se em publicidade e propaganda. Chegou a uma conclusão: o preconceito é sem fronteiras. “Uma vez, saí de casa de turbante. Cheguei à porta de uma festa e o segurança me mandou tirar aquilo, pois não entraria na casa de festas com ‘aquela coisa na cabeça’. Não acontece só no Brasil, o preconceito está no mundo”, ela comenta.

Bruno Pimentel/Metrópoles

 

Maior aceitação social – e o longo caminho pela frente
A força das ideias defendidas pelos movimentos sociais e o surgimento de grupos virtuais ajudam a divulgar a diversidade. Nesses espaços, percebe-se a união e a força das mulheres que se juntam em busca de informação para abandonar os padrões impostos. Para ajudá-las nesse processo, o leque de produtos específicos para cada tipo de cabelo só aumenta.

Em se tratando de fios cacheados ou crespos, os cuidados são diferentes dos lisos. No caso de Raísa, ela lava os fios três vezes por semana e faz massagem semanal. O seu creme leave-in favorito é o Nutri Hair, para definição do cabelo. Para a massagem, ela usa o NOVEX Óleo de Argan. “É sempre uma descoberta, tento usar novos produtos para experimentar e ver o que acontece”, aconselha.

Produtos eleitos por Raísa
Produtos eleitos por Raísa

 

O blog Transitei possui vários artigos de cuidados dos cachos. Baseando-se na opinião de leitores, a criadora Adriana Adéa montou uma seleção de cremes baratos que contribuem para a formação e cuidado dos cachos e crespos.

Lista de 19 itens apurados pelo blog Transitando. A indicação são cabelos cacheados e crespos
Lista de 17 itens apurados pelo blog Transitando. A indicação são cabelos cacheados e crespos

 

Cuidados diretos no salão
Salões especializados em rasta, crespo e cachos em Brasília:

Salão Cachos Brasil
SDS Bloco “G”, Loja 17 – Conic
QSB 6, lote 28 loja 1 – Taguatinga Sul
Ceilândia Centro
Telefone: 3275-1011

Cabelo com C
203 Norte, Bloco D – Asa Norte
Telefone: 3034-7787

Afro Itinerante de Brasília
Serviço domiciliar feito por Layla Moreno
Telefone: 92289669

Salão Afro & Cia Ponto Chic
Conjunto 1B, Lote 23, Loja 1 – Quadra Qs 12 – Riacho Fundo
Telefone: 3399-8784

Salão Afro Rainha de Sabá
Conic, Edifício Miguel Badia, Bloco L, Loja 43
Telefone: 3322-9902

Salão Beleza Afro
Conic, Edifício Acropol, Bloco N, nº 31
Telefone: 3321-4120

Na tela do cinema
A valorização do cabelo crespo e da identidade afro está retratada no documentário “Das Raízes às Pontas”, dirigido por Flora Egécia e lançado na última terça-feira (17/11), no Cine Brasília. O longa aborda as experiências de diferentes pessoas com relação à vivência com seus fios naturais e convida ao debate sobre as imposições estéticas dos padrões de beleza atuais.

(Com reportagem por Clarissa Jurumenha)

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