Milagre: após infecção, mulher é amputada e luta por próteses
Helenice “Milagrinho” teve sepse após uma infecção urinária. Suas chances de sobreviver eram de 1%, mas ela e a família nunca perderam a fé
atualizado
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A manhã do dia 11 de julho de 2019 parecia como qualquer outra para a professora Helenice Nunes, exceto por um mal-estar que a acompanhava havia alguns dias e se agravou naquela fatídica quinta-feira. De atestado da escola onde atuava como coordenadora, ela chamou um carro e resolveu ir sozinha ao hospital. Foi a última vez que a mineira radicada em Brasília viu sua casa pelos dois meses seguintes.
Em seu prognóstico, as dores e indisposições que sentia não pareciam nada grave. Mas, ao passar por exames, a educadora descobriu que os sintomas indicavam o agravamento de uma infecção urinária. O quadro conhecido como sepse, infecção generalizada ou septicemia é potencialmente fatal e, no caso de Helenice, tinha comprometido praticamente todos os órgãos.
Ao interná-la na unidade de terapia intensiva (UTI), os médicos alertaram para a família que o caso era grave e que suas chances de sobreviver não passavam de 1%. Ainda assim, dependiam da amputação dos quatro membros. Um procedimento delicado e que mudaria a vida da moradora do DF de forma definitiva.
Em coma induzido, foi a família que teve de tomar rapidamente a decisão, visto que parte das mãos e dos pés de Helenice começaram a necrosar. “Um dia, um enfermeiro me disse para tomar cuidado ao passar pomada nas mãos dela. Disseram que podia cair nas minhas mãos. Fiquei apavorada”, conta a caçula Maria Luiza.
Apesar da gravidade e contrariando todas as previsões médicas, a cirurgia de remoção ocorreu bem. Mas, até que Helenice pudesse retornar à sua casa, a família viveu um verdadeiro drama que comoveu a todos, incluindo integrantes da equipe médica.
“Logo após a cirurgia, teve um dia em que ela estava com a febre muito alta. Os médicos haviam tentado de tudo. No desespero, comprei um saco de gelo e coloquei em cima dela. Todos já estavam tão sensibilizados com o caso que deixaram a gente fazer isso. Só queria abaixar a temperatura dela, mesmo com o risco de pneumonia. Logo depois, a febre diminuiu e o médico chorou com a gente, tamanha a alegria”, lembra Maria Luiza.
Milagrinho
Quando acordou, Helenice tinha um novo sobrenome: “Milagrinho”. Foi assim que ela ficou conhecida por médicos e enfermeiros no hospital. O apelido faz jus não só pela história comovente que protagonizou, mas pela força, resiliência e bom humor com que lida com a nova condição. E, claro, pela determinação para voltar a ter uma vida “normal”.
“Quando me dei conta, fiquei um dia inteiro pensativa, calada. Demorou para a ficha cair, até porque a sensação é de que as mãos e os pés ainda estão lá. Ninguém acreditava que eu ia acordar, os médicos disseram que se eu sobrevivesse, teria problemas cognitivos, ficaria ‘lesada’. Não tive nada disso. Sei que é um milagre e sou feliz de estar viva, em casa, com a minha família”, diz.
“Foram dois milagres. O primeiro da vida, e o segundo, o da aceitação, o jeito como ela lida com as coisas. Como ela mesma diz, aos risos, ‘vão se os dedos e ficam os anéis’”, acrescenta o marido, Islande Braga.
“Um dia, cansada daquele procedimento médico em que os enfermeiros vêm e fazem perguntas para testar se você está pensando bem, resolvi fazer uma brincadeira. Quando perguntaram quem era meu marido, disse que era o papa João Paulo II. Depois disse que tinha três filhos e eles perceberam que algo estava errado. Continuei: Maria Luiza, Maria Helena e o escambau”, brincou Maria.
“Todo mundo caiu na risada e ela pediu desculpa ao médico. Ele disse que não tinha problema. Durante todo esse tempo no hospital, tudo o que ele queria era poder ouvir a voz dela, fazendo piada, então… Aquilo era muito gratificante”, completa Maria Luiza.
Bom humor e exemplo de superação
Para além da história comovente, Helenice chama atenção nas redes pelo jeito despachado e bem humorado com que lida com a deficiência.
Aposentada definitivamente das atividades como professora, ela ocupa seus dias com sessões de fisioterapia, psicólogo e terapia ocupacional. Quando está em casa, passa parte do tempo pintando telas com ajuda de um suporte fixado aos braços, para treinar o sistema motor. A rotina tem sido compartilhada nas redes sociais para ajudar a família a vencer mais uma etapa.
Isso porque a missão, agora, é adquirir as quatro próteses para que Helenice possa fazer coisas simples do dia a dia, e ter uma vida mais independente. Contudo, o equipamento é caro e eles tentam arrecadar R$ 600 mil com ações divulgadas no Instagram.
“Temos muita esperança. O pior já passou. Com fé, vamos conseguir esse dinheiro também”, acredita a filha mais velha, Maria Helena.
Como ajudar
O exemplo de superação e a habilidade em sorrir, mesmo nas adversidades, chamou atenção de famosos como o jogador de futebol Reinier Jesus, ex-Flamengo e atual meio-campo do Real Madrid.
Ele também é de Brasília e soube da história por meio de amigos em comum. Para ajudá-la, a família do atleta entrou em contato e doou uma chuteira autografada, que está sendo rifada para ajudar na aquisição das próteses.
Além das chuteiras, a família também sorteia um iPhone e arrecada recursos no site Vakinha.com. Quem tiver interesse em contribuir pode obter informações no Instagram ou no próprio site de ajuda social.
Mensagens de apoio e compartilhamentos, que possam levar a ação ao conhecimento de mais pessoas, também são bem-vindas. “A história da minha mãe é de fé. É um milagre mesmo. Mas também serve de alerta para não negligenciarmos doenças comuns”, finaliza Maria Luiza.