Médico Gilvan Alves revela detalhes que nunca contou para ninguém

Conhecido como um dos dermatologistas mais renomados da sociedade brasiliense, Gilvan Ferreira Alves tem uma história recheada de reviravoltas que poderiam deixar qualquer um atordoado, mas não é o seu caso. Filho de pais humildes, o menino nascido no interior do Espírito Santo se habituou tranquilamente às metamorfoses da vida.

Hoje, aos 51 anos, ele fala abertamente sobre sua personalidade pragmática e acredita ser essa a característica que o ajudou a lidar com sua vida profissional, o abandono da fé católica e especialmente com sua sexualidade.

A maioria dos pacientes que fazem consulta na clínica do médico Gilvan Alves na Asa Sul notam as paredes decoradas com vários diplomas, mas desconhecem que eles não estariam ali se não fosse por causa do incentivo da mãe.

Filho mais novo de uma família de oito irmãos, Gilvan desde cedo aprendeu o valor do trabalho enquanto via os pais trabalharem em um pequeno sítio localizado no município de Pinheiros, Espírito Santo.

A incessante curiosidade foi o estímulo que ele precisava partir da pequena cidade de interior. Morou em Pedro Canário (ES), Ipatinga (MG) e por fim Belo Horizonte (MG), onde em 1990 conquistou o diploma de medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Chegou a Brasília para fazer residência em clínica médica no HRAN. Depois disso fez dermatologia no Hospital Universitário de Brasília, no entanto, devido a uma greve no HUB, ele decidiu continuar a formação em Londres, na Inglaterra, e de lá emendou um mestrado.

As especializações valeram a pena. Atualmente, ele atende pacientes que apresentem algum problema de pele. Desde que, naturalmente, consigam pagar o preço de R$ 600 na consulta. Em seu consultório ele revela que já recebeu políticos, celebridades e mulheres da alta sociedade, mas tem um olhar clínico sobre os pacientes.

“Quando vejo que as pessoas passam do limite, eu me recuso. Em alguns casos há muito exagero. Não crítico, mas também não coloco minha autoria em algo que não acredito”, explicou o dermatologista que logo brinca: “Para depois a pessoa chegar para os outros e dizer que fui eu que fiz aquele trabalho? Jamais”.

O entusiasmo por dermatologia, como ele próprio afirma, é resultado da forma objetiva que ele enxerga a vida. “Gosto de ver a coisa acontecer na minha frente. Quando você trata um pulmão você não vê aquele pulmão ficar bonito, mas quando falamos de pele é perceptível como ela vai ficando bonita com os tratamentos e isso reflete no rosto do paciente. Pele é algo palpável”, explicou o profissional.

Essa personalidade incrédula diante de tudo aquilo que é imperceptível aos olhos se estende quando o assunto é espiritualidade. Ateu convicto, Gilvan é descrente de qualquer testemunho religioso, apenas acredita que a verdadeira força vem da consequência de fazer o bem e, se possível, ter sorte na vida.

Em contrapartida, o ceticismo não é o mesmo quando ele fala dos sentimentos de cumplicidade que partilhou, até o último momento, com sua ex-esposa, Nicole Tassis, pessoa que ele atribui o título de “anjo da minha vida”.

Os dois se conheceram numa festa, e logo viriam a se casar em 1996. A sintonia entre o casal transcendia um simples relacionamento e eles compartilhavam uma amizade onde cada um apoiava as decisões do outro. Isso viria a ser fator determinante na época em que decidiram seguir caminhos opostos em 2010, quando Gilvan se apaixonou por outro homem.

Acredito que você é gay desde que você nasce. Posso dizer que estava ótima a minha vida com a Nicole, mas chegou um ponto que me despertou um sentimento por outra pessoa e eu fui verdadeiro com ela exatamente porque a admirava. Nunca houve traição. Até porque nós queríamos a felicidade um do outro

Gilvan Alves

Um ano após a separação, Nicole foi diagnosticada com carcinoma inflamatório, a variante mais agressiva e um tipo raro de câncer de mama. Gilvan decidiu morar com ela para ajudar no tratamento, mas ela viria a falecer em 2013.

A memória da ex-esposa está mantida na residência do médico na Asa Norte através dos quadros e esculturas (que ela escolhia a dedo em antiquários) e outros itens pessoais guardados postumamente como a lembrança de uma grande amiga.

O namoro pós-casamento durou pouco, mas Gilvan aceitou a homossexualidade com naturalidade e concentrou suas atenções no trabalho. “Eu não me preocupo com a sociedade. Gosto de uma frase que uma tia minha falava que é clássica “Alguém está pagando suas contas? ” No meu caso, quem paga as minhas contas sou eu então eu não me importo com o que pensam ou falem de mim”.

 

Atualmente ele divide sua agenda entre o namorado, que reside em Nova York, e a clínica homônima que conta com mais de 25 profissionais e as mais variadas tecnologias de estética. Sempre antenado nas novidades, o dermatologista se prepara para lançar um novo endereço, acredita que não irá se aposentar tão cedo e constantemente é presença garantida em congressos de dermatologia ao redor do mundo.

“Quando tinha oito anos de idade eu escrevia todas as minhas tarefas do dia em um caderno. Isso já demonstrava um pouco da disciplina. Nas brincadeiras que fazia de circo eu era sempre o proprietário. O que mostrava um espírito de liderança. Sempre quis me destacar e acho que isso reflete o que vivo hoje. Quer as pessoas gostem ou não”.