Mais da metade das crianças são estressadas e os pais não sabem
Estudo mostra que 72% dos pequenos demonstram sinais de agitação emocional. No futuro, essas crianças podem se tornar adolescentes viciados
atualizado
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Aos 13 anos de idade, Clara Mendes faz tratamento preventivo contra estresse. Acompanhada da mãe, Eugênia Maria, 49, a adolescente frequenta um spa no Sudoeste, onde moram, a fim de esquecer a rotina escolar e social por alguns momentos e focar em si mesma. Mesmo tão jovem, os sintomas emocionais são um problema e podem afetar negativamente o cotidiano de Clara.
De acordo com Eugênia, a puberdade, junto com as horas a fio pelas redes sociais, deixam a menina agitada, apresentando um comportamento até mesmo agressivo. Após observar algumas situações, a servidora pública do Distrito Federal decidiu tentar melhorar os ânimos da adolescente, que faz o 7º ano no colégio Sigma.
Além de adotar um animal de estimação, Clara ouve música suave e relaxa no spa, cujo lema é “tranquilidade total por algumas horas”. Além dos tratamentos profissionais, Eugênia assegura tirar alguns momentos de lazer em família.
Passear com o cãozinho, almoçar no shopping e reunir marido e filha é, para a profissional, uma válvula de escape a fim de deixá-la menos inquieta e, consequentemente, a filha. Com tanta dedicação à escola, Clara é uma das várias crianças com índices de estresse que, em muitos casos, não são identificados nem tratados pelos pais.
Dados mostram que pais não estão atentos
O caso de percepção de Eugênia em relação à filha, que não apresentava — e demonstra poucos — sinais de distúrbio emocional, é incomum. Em contrapartida, a maioria dos pais não tem conhecimento desses incidentes e, portanto, não oferecem ajuda aos filhos, como aponta uma pesquisa realizada pelo portal médico WebMD, nos Estados Unidos.
Divulgada pela revista Crescer, o estudo sugeriu que um em cada cinco adultos avaliou seu nível de estresse com um 10, em uma escala de 1 a 10. Quando a pergunta era sobre o filho do entrevistado, 60% dos ouvidos atribuíram notas abaixo de 4.
Porém, a pesquisa mostra que 72% das crianças avaliadas demonstravam sinais relacionados ao estresse, como dor de barriga, dor de cabeça, choros e reclamações. Diante disso, os pais ligaram o problema dos filhos à escola e aos amigos, sem analisar a situação doméstica a qual as crianças são submetidas.
A pesquisa avaliou que 27% dos pais tiveram problemas financeiros nos últimos tempos; 19% enfrentaram doenças graves de um membro da família ou de um amigo próximo. 21% lidaram com o luto recentemente; 9% estiveram em processo de divórcio e 31% passaram por algum tipo de episódio emocional complicado. Esses acontecimentos afetaram significativamente o estado emotivo das crianças.
Como identificar os sintomas
Os dados colhidos do estudo estão de acordo com o que diz Ilê Lopes, diretora do Blanc Spa e fisioterapeuta dermatofuncional. Segundo ela, o estresse em crianças é causado por agitações no convívio familiar ou dificuldades no meio escolar. O caso pode até ir além, quando o menino ou menina sofre bullying.
Para saber se seu filho passa por momentos de impaciência, Ilê aponta sinais comuns, como mudança repentina de comportamento, agressividade (como o caso de Clara), queda de cabelos e até alergias. A criança também pode passar a se alimentar mais vorazmente diante do quadro.
Mas como os pais podem lidar com a situação? Ilê aconselha a procura de ajuda profissional, mas não somente em relação ao filho. “Não adianta os pais ajudarem a criança se eles são os causadores de perturbações”, argumenta ela, que é professora de ensino especial. Portanto, terapia é bem-vinda para a casa toda, tais como programas de relaxamento.
Medicamentos
Antes de recorrer a medicamentos receitados por profissionais da saúde, Ilê sugere que a criança tenha uma rotina “mais leve”. Um passeio no parque, brincadeiras lúdicas e menos pressão dos pais em relação à escola podem proporcionar mais conforto.
Se o episódio for mais que um simples distúrbio emocional, como nuances de depressão, a assistência médica não pode ser descartada. Assim, remédios, juntamente com atividades rotineiras, poderão ser administrados.
Crianças estressadas podem se tornar adolescentes viciados
A pressão psicológica é capaz de transformar o perfil de uma criança, como explica Ilê Lopes. “A criança, quando está em ambiente saudável, já tem o compromisso de ser responsável. Contudo, exigir mais que isso pode despertar [nela] um desvio de comportamento”, revela a especialista.
Somando-se ao fator alérgico, que surge com o aumento de tensão, outras questões poderão dar as caras e afetar a personalidade dos pequeninos. “Crianças com estresse e problemas pessoais podem se tornar adolescentes viciados. Isso faz com que eles obtenham satisfação, mesmo que momentânea”, argumenta Ilê.
A fim de excluir os pensamentos negativos e opressivos, o adolescente aceitará o uso de substâncias e drogas. Se o caso for ainda mais extremo e não houver tratamento preventivo, o suicídio se torna um caminho para a pessoa acabar com suas aflições.
Portanto, Ilê sugere que, mesmo não havendo sinais de estresse nos pequenos, o certo é existir um acompanhamento de prevenção. “Por ignorância, os pais muitas vezes nem sabem que isso [o estado emocional] existe, ainda mais com os filhos, mas é importante ficar atento e dar à criança atendimento que ela vá tirar proveito”, conclui a professora.