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Mãe não é tudo igual. A experiência da maternidade é diversa e única

Ser mãe é algo transformador para mulheres dos mais variados perfis. Uma coisa todas elas têm em comum: o amor

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Brasília (DF), 10/05/2017 Dia das mães – Jéssica AmorimLocal: Av. Aracárias, Quadra 205, lote 1735. Condomínio Residencial Arquipélago de Abrolhos Foto: Felipe Menezes/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 10/05/2017 Dia das mães – Jéssica AmorimLocal: Av. Aracárias, Quadra 205, lote 1735. Condomínio Residencial Arquipélago de Abrolhos Foto: Felipe Menezes/Metrópoles - Foto: Felipe Menezes/ Metrópoles

Esqueça aquele papo de que mães são todas iguais. O clichê não leva em consideração a riqueza e a individualidade dessa experiência. Neste Dia das Mães, procuramos mulheres de diferentes perfis para falar sobre suas vivências.

Descobrimos que o amor construído a partir do momento em que uma mulher se torna mãe é incomparável. Não é fácil, nem simples. Mas quando o filho pega na sua mão orgulhoso e a apresenta como a mãe dele ou no momento em que contam sobre como ele é quando está longe da família, o peito aperta e o olho enche de água. O esforço vale a pena.

Em homenagem a todas as pessoas que aceitaram o desafio de ser mãe, contamos hoje a história de quatro supermulheres. E perguntamos a elas: o que você gostaria de ganhar de presente neste domingo?

Mãe em tempos de internet

A maternidade pode não ser o mar de rosas que muita gente pinta. Janice Vilela, 31 anos, sempre teve vontade de ser mãe. Achava que amaria o filho automaticamente, a partir do momento em que ele crescesse dentro da sua barriga.

Quando descobriu que estava grávida, Janice passou a se preparar para a maternidade. Leu muito, idealizou o parto, o começo da gravidez. Foi criando vínculo com o bebê assim que ele apareceu no primeiro ultrassom e, com ajuda da internet, planejou tudo. Mas tudo o que a dona de casa esperava veio abaixo já na hora do parto.

“Eu romantizei muito meu parto, mas ele não foi nada romântico. Tive dois dias de contração sem dilatação e tive que fazer uma cesariana. Sonhava em pegá-lo nos meus braços na hora que nascesse, mas ele estava em uma posição diferente, foi direto para uma área de cuidados. Só fui vê-lo uma hora depois”, lembra.

Janice teve problemas para amamentar por conta de fissura no mamilo. O bebê precisou de fórmula, o que ela achava o fim do mundo. “Tudo eu chorava, nunca chegava a parte boa da maternidade.”

Nessa época, uma amiga a adicionou em um grupo de mães na internet, as Anjas do Quadradinho. Lá Janice achou o apoio que procurava. Ouviu de quem passava e passou pelo que ela sentia que a dor não era para sempre, que a parte boa ia chegar. Recebeu abraço, dicas, respostas. “Eu criei uma empatia muito interessante. Eu sinto a dor de todas as mães, parece que todos os filhos são meus também”, explica.

E agora, um ano e três meses depois de trazer Luis Felipe ao mundo, finalmente a maternidade tornou-se boa. Janice já aceitou que é preciso ser flexível e que a vida é cheia de altos e baixos. E que nem tudo são flores, mas tudo bem. “Eu, feminista, criando um menino em um mundo tão machista é uma grande responsabilidade. Dá medo. Mas espero conseguir ensinar para ele os valores que eu acho importantes. De empatia, de consideração com as outras pessoas.”

O que você gostaria de ganhar de presente? Uma noite de sono, 12 horas sem acordar. Não sei se é possível, porque até quando ele dorme, eu acordo.

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Mãe de coração

Quem conhece Vicky Tavares, 68 anos, sabe bem que o coração dela é maior que ela mesma. A jornalista e empresária fundou, em 2006, a ONG Vida Positiva, por conta da morte de um amigo com AIDS.

Ela abriu as portas para receber crianças e adolescentes com HIV positivo e é tratada carinhosamente como vovó Vicky. Mãe de três homens já adultos, avó e agora bisavó, Vicky tem bastante conhecimento de causa quando fala de maternidade. Conta que quando os netos nasceram, sentiu como se tivesse ela mesmo parido.

Ainda assim, há oito anos, resolveu se aventurar em mais uma experiência maternal. Adotou duas meninas, Maria, 13, e Sandra, 11, que chegaram ainda pequenas à ONG. “Eu as criei, praticamente. Quando a mais velha tinha 5 anos, me candidatei para ser mãe adotiva dela. As duas são irmãs. Foi difícil, mas o amor vence tudo. O que faz o amor não é gerar uma criança dentro do seu ventre, é a convivência, o dia a dia”, explica.

Vicky é, acima de tudo, uma mãe amorosa. Nunca foi muito boa com a parte de educação severa. Ela prepara as filhas, que são negras e têm HIV positivo, para tratarem as pessoas ao redor com amor, sentimento que nessa família é prioridade absoluta.

“Esses dias a professora me contou que são elas que cuidam dos alunos com necessidades especiais na escola, fazem questão de ajudar. Aquilo valeu mais para mim do que se elas tivessem tirado 10 em todas as matérias. Consegui passar para elas o que é mais importante para mim: o amor ao próximo”, conta, emocionada.

O que você gostaria de ganhar de presente? Tê-las para sempre ao meu lado.

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Mãe jovem e solo

A maternidade é um desafio em qualquer etapa da vida. Mas não há como negar: viver essa experiência ainda adolescente é ainda mais difícil. Aos 19 anos, a estudante Jéssica Amorim descobriu que estava grávida.

Aos sete meses de gestação saiu da casa dos pais e foi morar com o pai do bebê que estava esperando. “É duro ver seu corpo se transformando. As minhas amigas todas lindas, com o corpão, e eu com uma barriga gigante, com peitão. As pessoas fazem um monstro, dizem que a sua vida vai acabar. Eu fiquei muito assustada na época. Mas cinco anos se passaram e foi tudo muito tranquilo, no fim das contas”, explica, hoje aos 26 anos.

Três anos depois do nascimento de Eduardo, Jéssica se separou e voltou para a casa da mãe. Apesar de todo apoio, era a casa da mãe. As regras também eram as dela.

Precisando de mais liberdade e espaço, a estudante se mudou com o filho para um apartamento só dos dois. “Eu não entendia o que era ser mãe quando engravidei, e sinto que ainda estou descobrindo. Todos os dias eu descubro uma coisa nova, aprendo alguma coisa. Aprendi a nunca dizer que eu nunca vou fazer alguma coisa.”

A rotina de Jéssica e Eduardo agora já está muito bem organizada. A guarda do menino é compartilhada e a família ajuda muito. Quando descobriu a gravidez, Jéssica escolheu trancar a faculdade e hoje avalia que foi a melhor decisão.

Eduardo veio para dar uma pausa na vida, para obrigá-la a parar e pensar no que queria. Nesse tempo, descobriu uma nova paixão, começou outra faculdade, dessa vez de design de moda, e evoluiu bastante. Hoje, considera que aprendeu a expandir o olhar, que vê a vida de outra forma.

“Minha frase era ‘eu tinha tantos sonhos, e agora?’. Mas descobri que não é que não vou conseguir realizar os sonhos que tinha antes. Eu só passei a ter sonhos diferentes, acrescentei outros à minha lista. Eu posso viajar, por exemplo, mas outros projetos são prioridade agora”, conta.

Por enquanto, a prioridade é terminar os estudos e educar Eduardo da melhor forma possível. Jéssica conta que tenta desconstruir o machismo com o filho todos os dias para criar um homem que se destaque como pessoa e como cidadão. “Não quero que ele seja mais um.”

O que você gostaria de ganhar de presente? Eles crescem tão rápido. Eu gostaria de ganhar um mundo melhor para ele. Hoje a gente tem medo das pessoas, da violência, de tudo. Queria de presente que as pessoas se amassem mais, que ele vivesse em um lugar com mais compaixão, amor, educação, carinho.

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Mãe em dose dupla

Afinal, existe hora certa para ser mãe?. “A gente brinca que nunca é a hora perfeita. Sempre queremos ter uma casa maior, um emprego mais seguro. Eventualmente decidimos que era a hora não certa de não ter. Foi vontade de ser mãe mesmo. Fizemos uma tentativa de inseminação artificial e funcionou de primeira”, conta a atriz Juliana Offenbecker, 36 anos.

Em 2011, os bebês chegaram logo em dose dupla: a esposa de Juliana, Priscila Harder, 36, ficou grávida das gêmeas Luna e Maya. E vieram logo desafiando as mães de primeira viagem. Nasceram prematuras e passaram 20 dias na UTI neonatal.

Juliana e Priscila se dispuseram a um desafio ainda maior, o de registrar as filhas com dupla maternidade. Foram a um cartório tentar um registro simples, e descobriram que não seria possível. As meninas foram registradas só em nome de Priscila, mas com o sobrenome das duas — só porque conseguiram convencer que um deles era parte de um nome composto.

O próximo passo foi procurar uma advogada que pudesse orientá-las sobre o caminho a seguir. “Ela descredibilizou a nossa busca, disse que ia ser caro e difícil. Como as meninas eram muito pequenas e demandavam muito trabalho, deixamos de lado por um tempo”, lembra Juliana.

Dois anos depois, em uma festa de aniversário da filha de uma amiga, o casal foi indagado sobre o andamento do processo e receberam a indicação de uma advogada que as ajudaria. Renata Feldman abraçou a causa, comprou a briga como se fosse dela e partiu para o ataque. Quando conseguiram ser atendidas por um juiz, foram recebidas com hostilidade. Com homofobia, grosseria.

Seguiram então para o fórum da cidade de São Paulo, onde encontraram o mesmo tratamento, dessa vez de uma juíza. “Ela foi autoritária, gritava, falava de uma maneira muito agressiva e tentou descredibilizar a nossa advogada. Marcamos outra audiência e levamos as nossas testemunhas. Uma senhora de 85 anos, uma amiga que conhecemos e que trabalha no banco e o meu pai. Foram ouvidas duas e a juíza deu o caso a nosso favor. Não tinha como não dar”, conta Juliana.

E assim, no dia 12 de junho de 2013, Luna e Maya se tornaram as primeiras crianças do Brasil a terem as duas mães registradas na certidão de nascimento. Outra opção que poderia ser explorada pelas mães, e a mais comum, é a adoção unilateral. Mas não significava a verdade de Juliana e Priscila.

Elas foram geradas em conjunto, pelo caminho que qualquer casal segue se não consegue engravidar de formas naturais. “Outro motivo foi político. Nós abrimos jurisprudência. Se eu tiver outro filho, posso só ir lá e registrar, não precisamos passar por todo esse processo novamente. E outros casais não vão precisar passar pelo que nós passamos, sabemos de outras amigas e conhecidas que conseguiram registrar usando o nosso caso”, explica Juliana.

Enquanto isso, a maternidade vai indo de vento em popa. “A gente tem uma ilusão sobre a maternidade, mas a realidade tem que ser vivida. Cada filho vai te colocar em desafios diferentes, e você tem que viver dentro do que é proposto por ele. Ser mãe é uma experiência de se rever. Eu aprendo mais do que ensino e tenho a possibilidade de ver o novo pelo olhar da criança. Me sinto muito abençoada de ser mãe das duas”, conta a atriz.

O que você gostaria de ganhar de presente? Me sinto tão completa já, não preciso ganhar nada. Tenho tudo. Tenho amor, tenho momentos pra viver com elas. Vivo plenamente a nossa relação e é o melhor presente que eu quero continuar tendo.

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