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Influenciadores indígenas usam redes para mudar visões preconceituosas

Cada vez mais indígenas, em sua maioria jovens, ocupam espaço na web e na mídia para dar voz às suas identidade e dissipar preconceitos

atualizado

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Cristian Wariu, influenciador indígena
1 de 1 Cristian Wariu, influenciador indígena - Foto: Cortesia

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 300 etnias indígenas, que se expressam por meio de 274 línguas distintas. Toda essa diversidade sociocultural, no entanto, é desconhecida ou ignorada por parte significativa da população. Uma problemática que jovens indígenas têm tentado mudar nas redes sociais, dando visibilidade às suas pautas e desconstruindo preconceitos que perduram por 520 anos.

Com milhares de seguidores em redes como o Instagram, Twitter, Facebook, YouTube e TikTok esses novos influenciadores usam o engajamento conquistado organicamente para debater a situação de seus povos diante da pandemia de Covid-19, chamar atenção para a produção cultural das comunidades, debater questões de gênero e sexualidade ou derrubar estigmas de forma bem-humorada.

Arte e ativismo

Os perfis mantidos por Daiara Tukano, integrante do povo Tukano, têm se destacado nesse sentido. Mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB), feminista, artista plástica e correspondente da Rádio Yandê,  ela vê na comunicação via redes sociais, uma forma de dissipar ignorâncias acerca da contemporaneidade indígena e tornar esses espaços mais representativos.

“A ignorância sobre a nossa cultura ainda é sistêmia, estrutural e incentivada. A gente vive em um país extretamente racista e preconceituoso com os povos indígenas. Não existe representatividade de artistas, pensadores, personas públicas, a não ser quando você tem algum destaque político, como a Sônia Guajajara“, exemplifica.  “A nova geração tem usado muito as redes sociais pra abrir espaço pra isso”, emenda a influnciadora.

Hoje com quase 20 mil seguidores no Instagram, ela acredita que o maior desafio dos jovens que se dedicam a essa conscientização na web é mostrar que essas comunidades são bastante diferentes do imaginário brasileiro. O termo índio, aliás, é usado até hoje, mas tido como inadequado pelos próprios indígenas, por ser considerado genérico e uma herança da colonização.

“A gente ouve bastante discursos que insistem em colocar os  indígenas nesse lugar de ancestralidade, o que é um movimento perigoso e preconceituoso também”, ressalta Daiara. “Tem melhorado um pouco, mas é mais uma vez pelo nosso esforço de ocupar e utilizar essas ferramentas para dinamizar a comunicação. Até porque essa interação sempre intermediada por uma pessoa branca já não faz sentindo nenhum, está ultrapassada”, complementa.

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Daiara Tukano fez um quadro para a exposição
A influenciadora usa as redes sociais para projetar o próprio trabalho e de seus pares
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Daiara possui quase 20 mil seguidores nas redes sociais

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Daiara Tukano fez um quadro para a exposição

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A influenciadora usa as redes sociais para projetar o próprio trabalho e de seus pares

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Bom humor

O estudante de medicina da UnB, Elison Edilson Santos da Silva, da etnias Pipipã e Pankará, criou a página Indígena Memes para abordar, de forma bem-humorada, assuntos que vão da demarcação das terras indígenas a estereótipos primitivos, ainda associados às comunidades tradicionais. Entre eles, que todos os indígenas vivem em ocas e tribos, andam pelados ou não podem ter acesso à tecnologia.

“Sempre disseram que eu era bem-humorado e eu não via esse tipo de conteúdo voltado para os nossos povos, nossas questões. A página nasceu principalmente para fazer nossos parentes rirem”, destaca Elison.

Apesar do foco nos próprios pares, o perfil cresceu organicamente e conta, atualmente, com mais de 3 mil seguidores. Muitos sem ligação com nenhuma etnia indígena. “As pessoas têm muito pouco conhecimento sobre a nossa cultura e isso fica claro quando levanto discussões sobre o conceito de tribo e o termo índio, por exemplo. Por isso, acho que nossa presença tem um caráter educativo”, diz.

 

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Deu para entender ou quer que desenhe?!

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Debates sobre sexualidade e gênero

O preconceito e a violência contra LGBTQs também costumam ser questões pouco exploradas no contexto indígena. Para preencher essa lacuna por representantividade — que atinge tanto quem está nas aldeias e não tem modelos nos quais se espelhar, como os que vivem nas cidades, pressionados por estereótipos em que não se encaixam — nasceu o coletivo Tibira, responsável pelo perfil Indígenas LGBTQs.

A ideia, segundo Tanaíra Silva Sobrinho, uma das idealizadoras,  é explorar temáticas que envolvem afeto, desejo e performance de gênero, na realidade indígena.

 

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No dia mundial do Orgulho LGBTQ+ lembramos da existência e resistência de indígenas LGBTQ+. Sempre existimos, antes mesmo do período colonial… Atualmente, contribuímos com nossas narrativas Pelo direito de amar Pelo direito de ser quem nós somos Por respeito e dignidade para viver nossas particularidades Lembrando: não existe uma única forma de ser LGBTQ+ e sim, múltiplos contextos e pessoas, para além do que é vivenciado nos grandes centros urbanos, padrões estéticos e/ou normatividades. Devemos pensar num orgulho LGBTQ+ que inclua e não segregue. Se idealizamos a transformação do mundo, que seja para todes e não apenas para um grupo e$pecífico. Reforçamos: não basta lutar somente pelas pautas de gênero e sexualidade e não incluir os recortes de raça/etnia e/ou classe social e vice e versa. Dia do orgulho LGBTQ+ é dia de celebrar as mais diversas formas de ser e amar. #indigenaslgbtq🏳️‍🌈 #narrativasindígenas #orgulhoindigena #orgulholgbtq

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“Sou do povo Terena, lésbica e pesquisadora de sexualidade. Sempre observei essa falta de material que dialoga com a temática, porque a construção do povo indígena ainda é ancorado numa perspectiva colonial. Aquele indígena de 1500, guerreiro, selvagem. Ou então sob aquele olhar literário de José de Alencar, com Iracema. Mas a verdade é que existem varios povos, pontos de vista e modos diferentes de viver a sexualidade nas comunidades”, explica Tanaíra.

Apesar de ser um coletivo novo, o objetivo tem sido atingido com êxito. Em pouco mais de um ano de existência, o grupo já conseguiu chamar atenção da grande mídia e ver alguns de seus representantes estampar revistas como a Vogue e a Quem.

“A gente vê essa presença nas redes e na mídia de forma muito positiva. É um sinal de que estamos conseguindo alcançar outros espaços, outras pessoas, contar nossa narrativa, historicamente apagada, por meio da nossa própria voz.  Dando visibilidade às questão de gênero e sexualidade, principalmente agora, nessa conjuntura política em que os indígenas têm sido tão atacados”, defende Tanaíra. 

Indígenas LGBTQ na Vogue
Capa da Vogue Setembro com a drag queen Uyra Sodoma
Para dar follow

Além de Daiara, Elison e o coletivo Tibira, a qual Tanaíra representa, há muitos outros perfis para seguir e conhecer mais sobre a cultura índígena. O Metrópoles selecionou a cinco deles para dar follow já. Contudo, não se limite. Há muito mais para descobrir sobre a diversidade do país nas redes. Confira:

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<b>@KaruMirim </b>: Mulher, mãe, bissexual, ativista, moradora da periferia de São Paulo, indígena urbana (por ser nascida e criada na cidade) e rapper, Katu Mirim também têm usado as redes sociais para promover o trabalho artístico dos povos indígenas e falar sobre resistência e existência dessas comunidades
A líder indígena Sônia Guajajara
 <b>@uyrasodoma </b>: Emerson é descendente de indígenas, nascido na Amazônia brasileira, e biólogo. Mas, em alguns momentos, ele prefere ser chamado de Uýra Sodoma, sua versão drag queen que ensina sobre a preservação do meio ambiente. Ele viaja para comunidades fluviais da região levando coscientização por meio da personagem, que foi vencedora da edição manauara do concurso de drag queens Rival Rebolado, em 2017
<b>@kerexu_oficial</b>: foi a primeira cacica Guarani reconhecida no Brasil. Em suas redes, fala sobre a contemporaneidade indígena, violência e impunidade, modelos sustentáveis e o papel do atual governo nos incêndios no Brasil
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@CristianWariu: Cristian (foto em destaque) sofreu discriminação na escola por ser indígena. Ele tentava responder às agressões explicando aos colegas aspectos da cultura do seu povo. Aos poucos, percebeu que informação era a melhor arma. Para desmistificar o assunto, o jovem xavante, com ascendência guarani, criou, há pouco mais de um ano, o canal Wariu, no qual trata sobre temas relacionados à cultura indígena

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@KaruMirim : Mulher, mãe, bissexual, ativista, moradora da periferia de São Paulo, indígena urbana (por ser nascida e criada na cidade) e rapper, Katu Mirim também têm usado as redes sociais para promover o trabalho artístico dos povos indígenas e falar sobre resistência e existência dessas comunidades

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A líder indígena Sônia Guajajara

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@uyrasodoma : Emerson é descendente de indígenas, nascido na Amazônia brasileira, e biólogo. Mas, em alguns momentos, ele prefere ser chamado de Uýra Sodoma, sua versão drag queen que ensina sobre a preservação do meio ambiente. Ele viaja para comunidades fluviais da região levando coscientização por meio da personagem, que foi vencedora da edição manauara do concurso de drag queens Rival Rebolado, em 2017

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@kerexu_oficial: foi a primeira cacica Guarani reconhecida no Brasil. Em suas redes, fala sobre a contemporaneidade indígena, violência e impunidade, modelos sustentáveis e o papel do atual governo nos incêndios no Brasil

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