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Influenciador mirim: entenda os benefícios e perigos da profissão

Os influencers Pietra Almeida e Davi Wener contam sobre suas rotinas e o universo das mídias digitais na infância

atualizado

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Arte/Metrópoles
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1 de 1 ilustra_influenciadores_mirins - Foto: Arte/Metrópoles

Reuniões de negócios demoradas, seguidas de entrevistas com direito a Stories, no Instagram, mostrando onde passou o dia. O final de semana também é atribulado, com o calendário repleto de eventos e sessões de fotos para marcas de roupas.

A agenda descrita poderia ser a de uma modelo famosa, mas na verdade pertence a algumas crianças do país que atuam como influenciadoras mirins.

No Distrito Federal, a grande referência dessa indústria é Pietra Almeida. A pequena, de apenas 8 anos, já possui no currículo passagem pela televisão, quase 30 mil seguidores no Instagram e o título de embaixadora de marcas e eventos. Com uma desenvoltura impressionante para a idade, a brasiliense possui um nome poderoso na capital e só aceita trabalhos remunerados.

Por trás da bombada conta no Instagram está a mãe, Juliana Almeida. “Sempre ouvi que a Pietra tinha um perfil artístico. Quando ela tinha 5 anos, mandamos um vídeo dela para a Record porque eles procuravam uma criança para um quadro”, conta.

Meses depois, a família teve um retorno da emissora, e Pietra recebeu a proposta de ser apresentadora infantil. “Ela engatou um programa da RedeTV, onde está até hoje”, complementa a mãe, que também é empresária e assessora da filha.

A rotina da pequena estrela não é nada ordinária. De manhã, a garota vai para a escola – a qual ela não paga porque é garota-propaganda – e muitas tardes são dedicadas ao trabalho. “Tento não marcar compromissos todos os dias da semana porque assim ela não descansa, não estuda, não brinca. Atualmente, acho que ela trabalha mais do que brinca, mas ela diz que gosta tanto, que se diverte.”

No tempo livre, Pietra estuda e brinca com os amigos. “Minha atividade favorita é nadar na piscina.” Além disso, ela afirma ser apaixonada por atuação, moda e desfiles.


Davi Wener
, 7, também já está construindo um nome na cidade. O modelo mirim começou a carreira ao ganhar um concurso de crianças de um shopping da capital, em 2017. A mãe, Ranny Guedes, confirma que o garoto tinha exposto o desejo de ser youtuber, mas desistiu por não gostar “
de gravar vídeos e Stories”.

O perfil do Instagram, que já bate 12 mil seguidores, foi criado para ser um portfólio on-line e um meio das marcas encontrarem o pequeno modelo. “Geralmente, as empresas entram em contato com a gente e mandam brinquedos, convidam para ir a um evento ou a uma estreia de algum filme”, conta Ranny. Os compromissos de Davi são marcados no contrafluxo da escola.

Perguntada se apoia uma carreira a longo prazo, a mãe é realista. “Se ele crescer e não quiser fazer mais nada disso, não tem problema. Eu não forço ele a nada, se não quer tirar foto, ele simplesmente não faz”, explica.

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Ele aposta na carreira de modelo
Tímido, Davi faz aulas de teatro
Já Pietra tem 8 anos e quase 30 mil seguidores
Ela começou a carreira na televisão e depois migrou para as redes sociais
Pietra é embaixadora de várias marcas, inclusive da própria escola
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Davi Wener tem 7 anos e mais de 12 mil seguidores

JP Rodrigues/Metrópoles
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Ele aposta na carreira de modelo

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Tímido, Davi faz aulas de teatro

JP Rodrigues/Metrópoles
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Já Pietra tem 8 anos e quase 30 mil seguidores

Filipe Cardoso/Especial para o Metrópoles
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Ela começou a carreira na televisão e depois migrou para as redes sociais

Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
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Pietra é embaixadora de várias marcas, inclusive da própria escola

Arquivo pessoal


“Profissão” influencer

Uma das grandes dúvidas do público quando se trata de crianças em um mercado de trabalho é para onde vai o dinheiro dos cachês. O advogado especialista em direito digital e proteção de dados, Fabrício da Mota Alves, esclarece que o menor de idade não tem capacidade civil plena de exercer suas vontades, por isso não pode administrar os recursos financeiros, apenas usufruí-los.

“A criança não tem o direito de exigir que o dinheiro seja usado em isso ou aquilo, mas pode pedir. A administração costuma ficar a critério dos pais”.

Fabrício da Mota Alves

É o caso de Pietra e Davi. Ambas as mães afirmam que o dinheiro recebido pelas crianças vai para a poupança. “Toda vez que ela ganha cachê a gente pergunta: você quer uma comida especial, ir brincar em algum lugar, algum brinquedo? Se não, a gente guarda para ela”, conta Juliana.

O advogado Fabrício explica que influenciador não é uma atividade regulamentada, por isso não pode ser considerado um trabalho propriamente dito. “Não podemos dizer que a criança está trabalhando. É um serviço informal desenvolvido pela família e, por meio dessa atividade empreendedora, pode ter algum benefício. De outra maneira, a criança não poderia realizar essa função.”

A médica psicoterapeuta Márcia Mossurunga segue outra linha de pensamento e afirma que, de fato, os influenciadores mirins têm um trabalho. “Essas crianças costumam ter a agenda cheia, e os pais acabam se dedicando às diversas atividades do filho. É preciso ter cuidado para os responsáveis não estarem “terceirizando” a tarefa de prover, porque a atividade pode facilmente virar um negócio”, analisa.

Ela também chama atenção para o que pode ser considerado como roubo da infância. “É uma fase que merece atenção, pois é um momento de construção da identidade. A criança faz uma confusão entre o que é ser e o que é ser visto. Toda a exposição nas redes sociais pode torná-la menos espontânea ao ponto de correr o risco de não reconhecer a própria singularidade”, aponta.

A criança que depende de like é viciada como com qualquer outra droga. Ela não é vista pelo o que ela é, mas pelos likes que consegue. 

Márcia Mossurunga


Cuidados especiais

Os pais cujos filhos têm interesse em ser influenciador na internet devem estar atentos à segurança da criança e acompanhar de perto as atividades. “É muito relevante fazer um planejamento de maneira que as crianças não sejam prejudicadas na educação. É obrigação dos responsáveis zelar pelo desenvolvimento educacional. Eles ainda devem supervisionar tudo o que é produzido, postado e gravado pelo menor”, aconselha o advogado Fabrício.

Ele também recomenda acompanhamento psicológico infantil. “É importante para evitar acesso a conteúdos ofensivos, o que também pode ser feito pelos pais por meio de uma curadoria. Isso evita mal-estar. Se acontece com adulto, imagina com uma criança que não tem maturidade para dimensionar o ataque. Ela pode desenvolver distúrbios de personalidade, ansiedade e depressão”, ressalta.

Outro ponto levantado pelo especialista em direito digital é o de que ainda se desconhecem as consequências do uso da internet. “Nossa realidade digital é muito inédita. É a primeira vez na história que temos esse tipo de acesso. Não há uma dimensão concreta dos impactos que podem ser causados por esse estilo de vida.”

Com relação ao acesso, é importante o adulto responsável agir como um filtro para a criança. Ao receber mensagens com conteúdo impróprio, Ranny Guedes, mãe do influencer Davi, de 7 anos, apaga rapidamente e não deixa o filho ter acesso. Juliana Almeida segue a mesma linha e confirma que tudo passa por ela antes de Pietra ver.


Hiperexposição infantil

Para a psicoterapeuta Márcia Mossurunga, é preciso considerar consequências reais, como a hiperexposição, o direito de imagem da criança, a hiperssexualização e exposição à pedofilia.

Mesmo que os pais e responsáveis não tenham a intenção de expor a criança a uma situação que envolva pedofilia, várias vezes as imagens dos menores são tiradas de contexto e acabam em páginas e vídeos que viralizam no lado obscuro da internet.

Ranny diz que os comentários impróprios são o principal fator negativo de ter criado o Instagram do filho. “O perfil precisa ser aberto para algumas parcerias e acaba caindo no radar de pedófilos”. Ela afirma que uma das ferramentas usadas para bloquear os criminosos é compartilhar as contas suspeitas em um grupo de mães. “Bloqueei mais de 40 perfis suspeitos recentemente.”

 

Um dos poucos órgãos que apresentam algum tipo de recomendação e cuidado em relação à exposição infantil, como é o caso dos influenciadores, é o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Segundo as diretrizes, anúncios comerciais não devem associar crianças e adolescentes a situações incompatíveis com sua condição, nem usá-los como modelos para induzir um consumo com apelo direto.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Conar afirma que não possui recomendação específica para os influenciadores mirins, apenas atua repreendendo casos específicos, independente da plataforma.

Segundo as políticas de uso do Instagram, qualquer usuário deve ter, no mínimo, 13 anos ou a idade mínima legal em seu país para ter um perfil na rede social. O YouTube, outro queridinho das crianças, possui direções similares e restringe a produção de conteúdo para quem é menor de idade.

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